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Crise faz despertar debate sobre Keynes
Em ano turbulento, ganha força defesa do economista britânico por intervenção do Estado para assegurar o emprego
Medidas de aumento do gasto público, porém, podem não surtir efeito e ameaçar equilíbrio fiscal de países, alertam críticos
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Num ano cheio de surpresas,
é interessante notar o "revival"
do keynesianismo nas páginas
de jornais e de relatórios de
analistas estrangeiros.
Até o colapso dos preços dos
ativos e a recessão global neste
ano, nove entre dez estrelas do
mercado financeiro nutriam
um certo desprezo pelo economista britânico John Maynard
Keynes (1883-1946).
Muitos novos economistas
formam-se hoje com poucas informações sobre o barão defensor da intervenção do poder
público para assegurar o pleno
emprego e sobre idéias hostis à
política deflacionista (de redução do excesso de papel-moeda
em circulação), em geral.
"Você notou que curioso o
termo "reflação'? Fui até pesquisá-lo", confidencia um jovem economista de um banco
estrangeiro, sobre um relatório
da instituição que alertava para
os riscos de reflação, em meio a
déficits fiscais mais elevados.
A reflação é uma política econômica que visa à retomada do
crescimento pelo estímulo à
demanda. Batizada no período
recessivo e deflacionário dos
EUA, nos anos 1932-33, caracteriza-se pelo aumento da circulação monetária, da produção e dos preços, em seguida a
uma recessão ou depressão.
Keynes enfatizava a importância da demanda agregada
para o nível de produto e emprego, e a necessidade de o governo estimular a demanda em
situação de recessão. Defendia
políticas fiscal e monetária que
favorecessem a propensão a
consumir, com mais investimentos públicos e privados.
A lista de surpresas do ano é
longa: a ruína ou, ao menos, o
forte abalo de instituições financeiras veneradas; os pacotes de ajuda de vários governos,
anúncios de aumentos de gastos públicos, impensáveis no
começo do ano; Bolsas despencaram; recessão nos países desenvolvidos; preços de commodities afundaram e índices de
confiança também; fim do sonho do "descasamento" (de desaceleração restrita aos EUA).
Para sair rápido da recessão
que se abateu sobre o mundo
desenvolvido, muitos analistas
se lembram do britânico.
Keynes, que enriquecera
com um fundo de "hedge", foi,
ele próprio, uma vítima do colapso dos preços das commodities em 1929. Entendeu que, se
uma mudança de expectativas
gerasse queda forte nos preços
dos ativos (inclusive ações e
imóveis), o investimento e o
emprego cairiam.
Edmund Phelps, prêmio Nobel de Economia, considera um
erro de Keynes não distinguir
uma queda de preços causada
por motivos monetários de
uma queda por fatores que
pouco ou nada têm a ver com
oferta e demanda de dinheiro: a
primeira queda pode ser resolvida por medidas monetárias
de banco central, a outra, não.
Keynes enfatizava que a demanda de consumo e o investimento pelo Estado ou empresas estatais favoreceriam o emprego. Para Phelps, o estímulo
seria sentido mais no exterior.
"Na economia globalizada,
demanda ampliada em última
análise faz pouco mais que gerar alta de juros e reduzir o preço dos ativos", escreveu no "Financial Times". "A presença
muito forte do governo no setor
de investimentos poderia restringir a inovação. E ficaríamos
em recessão, da mesma forma."
Para Peter Hall, do Export
Development Canada, "medidas keynesianas deixaram uma
herança de déficits fiscais e dívidas do período pós-guerra".
"O conselho famoso de substancial intervenção estatal provou-se tão potente que foi difícil suspender os programas de
gastos temporários", escreveu
em relatório da instituição.
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