São Paulo, segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

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Crise faz despertar debate sobre Keynes

Em ano turbulento, ganha força defesa do economista britânico por intervenção do Estado para assegurar o emprego

Medidas de aumento do gasto público, porém, podem não surtir efeito e ameaçar equilíbrio fiscal de países, alertam críticos


MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Num ano cheio de surpresas, é interessante notar o "revival" do keynesianismo nas páginas de jornais e de relatórios de analistas estrangeiros.
Até o colapso dos preços dos ativos e a recessão global neste ano, nove entre dez estrelas do mercado financeiro nutriam um certo desprezo pelo economista britânico John Maynard Keynes (1883-1946).
Muitos novos economistas formam-se hoje com poucas informações sobre o barão defensor da intervenção do poder público para assegurar o pleno emprego e sobre idéias hostis à política deflacionista (de redução do excesso de papel-moeda em circulação), em geral.
"Você notou que curioso o termo "reflação'? Fui até pesquisá-lo", confidencia um jovem economista de um banco estrangeiro, sobre um relatório da instituição que alertava para os riscos de reflação, em meio a déficits fiscais mais elevados.
A reflação é uma política econômica que visa à retomada do crescimento pelo estímulo à demanda. Batizada no período recessivo e deflacionário dos EUA, nos anos 1932-33, caracteriza-se pelo aumento da circulação monetária, da produção e dos preços, em seguida a uma recessão ou depressão.
Keynes enfatizava a importância da demanda agregada para o nível de produto e emprego, e a necessidade de o governo estimular a demanda em situação de recessão. Defendia políticas fiscal e monetária que favorecessem a propensão a consumir, com mais investimentos públicos e privados.
A lista de surpresas do ano é longa: a ruína ou, ao menos, o forte abalo de instituições financeiras veneradas; os pacotes de ajuda de vários governos, anúncios de aumentos de gastos públicos, impensáveis no começo do ano; Bolsas despencaram; recessão nos países desenvolvidos; preços de commodities afundaram e índices de confiança também; fim do sonho do "descasamento" (de desaceleração restrita aos EUA).
Para sair rápido da recessão que se abateu sobre o mundo desenvolvido, muitos analistas se lembram do britânico.
Keynes, que enriquecera com um fundo de "hedge", foi, ele próprio, uma vítima do colapso dos preços das commodities em 1929. Entendeu que, se uma mudança de expectativas gerasse queda forte nos preços dos ativos (inclusive ações e imóveis), o investimento e o emprego cairiam.
Edmund Phelps, prêmio Nobel de Economia, considera um erro de Keynes não distinguir uma queda de preços causada por motivos monetários de uma queda por fatores que pouco ou nada têm a ver com oferta e demanda de dinheiro: a primeira queda pode ser resolvida por medidas monetárias de banco central, a outra, não.
Keynes enfatizava que a demanda de consumo e o investimento pelo Estado ou empresas estatais favoreceriam o emprego. Para Phelps, o estímulo seria sentido mais no exterior.
"Na economia globalizada, demanda ampliada em última análise faz pouco mais que gerar alta de juros e reduzir o preço dos ativos", escreveu no "Financial Times". "A presença muito forte do governo no setor de investimentos poderia restringir a inovação. E ficaríamos em recessão, da mesma forma."
Para Peter Hall, do Export Development Canada, "medidas keynesianas deixaram uma herança de déficits fiscais e dívidas do período pós-guerra".
"O conselho famoso de substancial intervenção estatal provou-se tão potente que foi difícil suspender os programas de gastos temporários", escreveu em relatório da instituição.


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