São Paulo, quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

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FMI reduz previsão de crescimento global

Mas Fundo mantém expectativa anterior à crise para América Latina, principalmente por causa das commodities, e China

Ele volta a descartar recessão nos EUA e projeta expansão mundial de 4,1% em 2008, com emergentes atenuando a desaceleração global

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O FMI (Fundo Monetário Internacional) revisou para baixo a expectativa de crescimento mundial em 2008 e espera agora uma desaceleração em quase todas as regiões do globo. Mas o Fundo voltou a descartar ontem uma recessão nos Estados Unidos.
As principais exceções a um desaquecimento global mais forte, segundo o FMI, serão a América Latina, que concentra vários países produtores de commodities minerais e agrícolas, e a China.
Para a América Latina, as previsões feitas em outubro, antes do início da atual crise financeira, foram mantidas. Além disso, o Fundo aumentou em 0,5 ponto percentual, para 5,4%, o crescimento projetado entre os latino-americanos ao longo de 2007.
Em divulgação extraordinária diante da recente crise nos mercados, o Fundo apresentou ontem em conferência pela internet revisões de dois de seus principais relatórios globais.
No "Panorama Econômico Mundial" previu um crescimento global de 4,1% neste ano, 0,3 ponto percentual menor do que projeção feita em outubro e abaixo dos 4,9% estimados para 2007. Se o FMI acertar, será a primeira vez em cinco anos que o crescimento da economia global cairá da casa dos 5%.
Os EUA puxarão a desaceleração. Segundo o FMI, a maior economia do mundo está "girando" neste momento em um ritmo de 0,8% apenas. Há um ano, os EUA "rodavam" em um ritmo anualizado de 2,6%.
Mesmo assim, a estimativa é que o país cresça 1,5% em 2008, graças principalmente ao "rescaldo" do crescimento de 2007, estimado em 2,2%.
No relatório de ontem, o Fundo reduziu em 0,4 ponto percentual a expectativa de crescimento norte-americano. Para a zona do euro, o corte foi maior, de 0,5 ponto, encolhendo a projeção de crescimento na região para 1,6% em 2008.
Apenas a América Latina e a China tiveram mantidas as expectativas de crescimento realizadas em outubro, antes da crise nos mercados. Para os países latino-americanos, permanece a projeção de 4,3% em 2008, e, para a China, de 10%.

Sem descolamento
Sem citar especificamente nenhum país latino-americanos, Simon Johnson, economista-chefe do FMI, disse que economias produtoras de commodities tendem a ir melhor na atual crise. Ele elogiou também a melhora nos " fundamentos econômicos" de vários países da região. Mas frisou que ninguém está imune a uma piora do cenário nos EUA.
"Notícias e comentários a respeito de um descolamento [de alguns países em relação aos EUA] têm sido extremamente exagerados. Ninguém está imune a um desaquecimento global", disse.
Durante a atualização de outro documento, o "Relatório sobre a Estabilidade Financeira Global", o economista do FMI Jaime Caruana afirmou que os países latino-americanos correm menos riscos de serem contaminados pela atual crise de crédito nos EUA.
Segundo ele, o sistema financeiro na região hoje é sólido e não estaria exposto a um eventual contágio a partir dos bancos americanos.
Para Caruana, o maior risco no horizonte latino-americano seria que um desaquecimento mais forte derrubasse as exportações da região para os EUA. O FMI, porém, descartou a ocorrência de uma recessão na maior economia do mundo.
Caruana afirmou ainda que, do ponto de vista dos mercados financeiros (que vivem dias de forte volatilidade), "boa parte do ajuste já ocorreu".

Emergentes à frente
Embora tenham individualmente peso relativo menor do que o das economias avançadas, os emergentes, segundo o FMI, devem compensar parte do desaquecimento nos EUA, na zona do euro e no Japão.
"A despeito de alguma desaceleração no ritmo das exportações, os mercados emergentes e economias em desenvolvimento continuam a se expandir fortemente, liderados por China e Índia", diz o FMI.
Mesmo para a África, que vem se consolidando como importante produtor de commodities destinadas à China, as previsões realizadas em outubro foram mantidas. Para a região, o FMI projeta um crescimento de 7% em 2008, acima dos 6% de 2007.
O FMI ressalta que muitos emergentes também crescem hoje mais apoiados na demanda doméstica (caso do Brasil) e que isso tende a atenuar os efeitos do desaquecimento nas economias mais avançadas.
Para o Fundo, a desaceleração entre as maiores economias do mundo tende a reduzir o risco de inflação. Para os emergentes, porém, o FMI diz que o controle dos preços permanece "um grande desafio".


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