São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

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Crise pode levar inflação para abaixo da meta, avalia BC

Copom considera cenário em que taxa fique menor que o centro do objetivo deste ano para o IPCA, de 4,5%

Comitê reduziu juros em um ponto percentual na semana passada, para 12,75%, e não descarta queda no preço de combustíveis

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Alguns dos cenários traçados pelo Banco Central para este ano já consideram a possibilidade de a inflação (IPCA) ficar abaixo dos 4,5% fixados como meta central pelo governo. A desaceleração da economia é apontada como um dos principais responsáveis por esse movimento, o que justificou, na semana passada, a surpreendente redução de um ponto percentual na taxa Selic.
Ontem foi divulgada a ata da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), que ajuda a explicar os motivos por trás da redução dos juros básicos da economia, que caíram de 13,75% ao ano para 12,75%.
Segundo o documento, a manutenção dos juros em 13,75% faria com que a inflação deste ano fosse menor que 4,5% e ficasse "sensivelmente abaixo" desse valor em 2010. Mesmo que a Selic caísse mais lentamente, no ritmo projetado pelo mercado financeiro até o começo do mês, a alta dos preços ainda ficaria "ao redor" do centro da meta do governo, possivelmente um pouco abaixo. O principal motivo dessa queda é a desaceleração da economia. Até pouco tempo atrás, a principal preocupação do Copom era com a chance de empresas repassarem para seus preços o aumento de custos causado pela recente alta do dólar, que encarece matérias-primas e produtos importados.
Com sinais cada vez mais fortes de desaceleração da economia, porém, a maior parte da diretoria do Banco Central se convenceu de que o espaço para esse repasse é cada vez menor, diminuindo o risco de um aumento na inflação. Na semana passada, 5 dos 8 membros do Copom votaram pela redução de um ponto percentual na taxa Selic, embora os três restantes defendessem que esse assunto ainda recomendava mais cautela.
Para Roberto Padovani, economista-chefe do banco WestLB, os indicadores de atividade econômica divulgados ao longo do mês passado e no começo deste ano surpreenderam negativamente o BC, o que levou a um corte mais agressivo nos juros. "A ata mostra que a avaliação do Copom é que estamos diante de uma crise que vai ter um efeito mais prolongado sobre o Brasil do que se antecipava inicialmente", diz.
Segundo Padovani, o documento divulgado ontem mostra que, para o BC, a queda nos preços das commodities esperada por causa da desaceleração da economia mundial deve ser mais do que suficiente para compensar possíveis pressões inflacionárias causadas no Brasil pela alta do dólar. Daí a decisão de reduzir os juros. A ata do Copom diz até que não descarta uma queda nos preços dos combustíveis neste ano, devido ao comportamento das cotações do petróleo no mercado internacional.

Reuniões
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Mário Mesquita, descartou ontem a possibilidade de reduzir o intervalo entre as reuniões do Copom por conta da crise. No início da semana, a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e a Força Sindical sugeriram que a definição da taxa básica de juros ocorresse quinzenalmente. Hoje, o Copom se reúne a cada seis semanas para fixar a Selic. Mesquita defendeu a manutenção da frequência atual, sob a alegação de que as decisões do BC "levam em conta" o tempo entre uma reunião e outra. "O intervalo atual tem se mostrado adequado. Quando a inflação estava se acelerando de forma importante no ano passado, não me lembro de nenhuma discussão sobre estreitamento da frequência da reunião do Copom por parte de certas lideranças que agora expressam esse tipo de opinião", afirmou o diretor do Banco Central, durante evento em Porto Alegre.


Colaborou GRACILIANO ROCHA , da Agência Folha, em Porto Alegre

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