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Crise pode levar inflação para abaixo da meta, avalia BC
Copom considera cenário em que taxa fique menor que o centro do objetivo deste ano para o IPCA, de 4,5%
Comitê reduziu juros em um
ponto percentual na semana
passada, para 12,75%, e
não descarta queda no
preço de combustíveis
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Alguns dos cenários traçados
pelo Banco Central para este
ano já consideram a possibilidade de a inflação (IPCA) ficar
abaixo dos 4,5% fixados como
meta central pelo governo. A
desaceleração da economia é
apontada como um dos principais responsáveis por esse movimento, o que justificou, na semana passada, a surpreendente
redução de um ponto percentual na taxa Selic.
Ontem foi divulgada a ata da
reunião do Copom (Comitê de
Política Monetária do Banco
Central), que ajuda a explicar
os motivos por trás da redução
dos juros básicos da economia,
que caíram de 13,75% ao ano
para 12,75%.
Segundo o documento, a manutenção dos juros em 13,75%
faria com que a inflação deste
ano fosse menor que 4,5% e ficasse "sensivelmente abaixo"
desse valor em 2010. Mesmo
que a Selic caísse mais lentamente, no ritmo projetado pelo
mercado financeiro até o começo do mês, a alta dos preços
ainda ficaria "ao redor" do centro da meta do governo, possivelmente um pouco abaixo.
O principal motivo dessa
queda é a desaceleração da economia. Até pouco tempo atrás,
a principal preocupação do Copom era com a chance de empresas repassarem para seus
preços o aumento de custos
causado pela recente alta do
dólar, que encarece matérias-primas e produtos importados.
Com sinais cada vez mais fortes de desaceleração da economia, porém, a maior parte da
diretoria do Banco Central se
convenceu de que o espaço para esse repasse é cada vez menor, diminuindo o risco de um
aumento na inflação. Na semana passada, 5 dos 8 membros do
Copom votaram pela redução
de um ponto percentual na taxa
Selic, embora os três restantes
defendessem que esse assunto
ainda recomendava mais cautela.
Para Roberto Padovani, economista-chefe do banco
WestLB, os indicadores de atividade econômica divulgados
ao longo do mês passado e no
começo deste ano surpreenderam negativamente o BC, o que
levou a um corte mais agressivo
nos juros. "A ata mostra que a
avaliação do Copom é que estamos diante de uma crise que vai
ter um efeito mais prolongado
sobre o Brasil do que se antecipava inicialmente", diz.
Segundo Padovani, o documento divulgado ontem mostra que, para o BC, a queda nos
preços das commodities esperada por causa da desaceleração da economia mundial deve
ser mais do que suficiente para
compensar possíveis pressões
inflacionárias causadas no Brasil pela alta do dólar. Daí a decisão de reduzir os juros.
A ata do Copom diz até que
não descarta uma queda nos
preços dos combustíveis neste
ano, devido ao comportamento
das cotações do petróleo no
mercado internacional.
Reuniões
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Mário
Mesquita, descartou ontem a
possibilidade de reduzir o intervalo entre as reuniões do
Copom por conta da crise.
No início da semana, a Fiesp
(Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo) e a Força
Sindical sugeriram que a definição da taxa básica de juros
ocorresse quinzenalmente.
Hoje, o Copom se reúne a cada
seis semanas para fixar a Selic.
Mesquita defendeu a manutenção da frequência atual, sob
a alegação de que as decisões do
BC "levam em conta" o tempo
entre uma reunião e outra.
"O intervalo atual tem se
mostrado adequado. Quando a
inflação estava se acelerando
de forma importante no ano
passado, não me lembro de nenhuma discussão sobre estreitamento da frequência da reunião do Copom por parte de
certas lideranças que agora expressam esse tipo de opinião",
afirmou o diretor do Banco
Central, durante evento em
Porto Alegre.
Colaborou GRACILIANO ROCHA ,
da Agência Folha, em Porto Alegre
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