São Paulo, terça-feira, 30 de março de 2004

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LUÍS NASSIF

A nova política industrial

Com o lançamento oficial da nova política industrial, é importante conhecer os conceitos por trás das propostas. Sempre lembrando que, do conceito à ação, pode ir o trabalho de uma geração.
Uma das grandes dificuldades de definir a política foi a ausência de trabalhos significativos sobre o tema na área acadêmica. A Câmara de Política Econômica criou um grupo para pensar o longo prazo, enquanto os ministérios desenvolveram seus próprios estudos, com uma visão mais imediata.
Isso levou a diferentes enfoques, embora às vezes conduzindo a conclusões semelhantes. Foi o caso dos semicondutores, setor incluído como prioritário, que muitos especialistas consideram um barco que o país já perdeu, pois a produção mundial se concentrou em poucos fabricantes trabalhando com escalas gigantescas.
No MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) o enfoque era mais para a substituição de importações e/ou aumento de exportações. Na comissão propriamente dita, o argumento era preparar o país para entrar nas novas ondas tecnológicas que estarão em voga em dez anos. Para tanto, seria importante o domínio sobre a fabricação de semicondutores. Segundo os formuladores do programa, todos os países avançados do mundo têm sua Comissão Especial de Semicondutores, para trabalhar áreas de ponta, não os semicondutores em si, hoje commodities, mas os semidedicados, com funções especialistas.
A parte mais relevante do trabalho, até agora, foi ter constatado que o Brasil é o único país emergente com padrão científico similar ao das grandes potências -guardadas as devidas proporções. Por exemplo, a China tem picos avançados, como estação orbital, bomba atômica. Mas não tem um espectro de pesquisa básica tão amplo como o país.
O grande desafio é como transformar a pesquisa básica em aplicada. Antes do Projeto Genoma, se dizia que investir em biotecnologia era atraso. A Fapesp bancou, uma tropa de biogeneticistas saiu a campo, e o país passou a dominar a área. O desafio da política industrial será transformar a capacidade dispersa em tecnologia, propriedade intelectual e propriedade industrial.
É nesse contexto que surgiu a idéia da criação do grande instituto -apelidado de Embrapa Industrial-, com a missão de articular as pesquisas dos institutos existentes. A idéia é uma empresa enxuta, mas com bala na agulha (verbas), para estimular vigorosamente o processo de inovação e garantir a gestão de processos relevantes, em parceria com iniciativa privada e instituições públicas.
Um dos exemplos é o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial). Ele foi criado na época do Acordo Nuclear exclusivamente para trabalhar com metrologia. Anos atrás, por meio do Projeto Jornada, o Inmetro logrou fazer aferição do metro (medida) com 12 dígitos de precisão. Se se der a ele a missão de pesquisa, também, poderá dar um salto.
A idéia é que esse instituto quebre a fragmentação atual da pesquisa, podendo manipular instrumentos de política industrial. Hoje em dia, qualquer decisão de política industrial precisa passar por cinco ministérios.


E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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