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"FOGO AMIGO"
Ministro é chamado de "empresário boçal" e defensor de monopólios; Gil diz que texto é exemplo de "democracia"
Gil lê cordel que ataca Costa por TV digital
ITALO NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
O ministro da Cultura, Gilberto
Gil, leu ontem, durante aula inaugural da Escola de Comunicação
da UFRJ, cordel feito por ativistas
políticos de um grupo chamado
Ventilador Cultural, em que o ministro das Comunicações, Hélio
Costa, é chamado de "empresário
boçal" e acusado de apostar "no
monopólio privado" das comunicações.
"O governo federal, muito mal
representado, tem ministro de Estado, um empresário boçal, e a TV
digital, importante instrumento
para o desenvolvimento, corre o
risco de ficar como sempre esteve
e está na mão de pouca gente", diz
o cordel. "O tal ministro citado,
que se chama Hélio Costa, de fato
somente aposta no monopólio
privado. E esse empresariado que
recebeu concessão de rádio e televisão e quer se perpetuar o único a
mandar na nossa programação",
afirma em outro trecho.
Gil apresentou o texto como um
exemplo "das manifestações de
democracia" que chegam até ele.
A entidade autora do texto critica
o apoio de Costa ao padrão japonês para a TV digital (defendido
também pelas emissoras de TV) e
o pouco apoio dado à elaboração
de um modelo nacional. Diz também que a posição do ministro
das Comunicações é de apoio aos
interesses comerciais dos grandes
veículos de comunicação.
Gil defendeu, na aula inaugural,
"mais participação e democratização dos meios de comunicação". "Essa discussão [sobre democratização das comunicações]
estava um pouco abafada, mas
agora já está sendo discutida melhor", afirmou. "A sociedade está
sendo convocada para discutir a
TV digital no conjunto de sua importância." O ministro declarou
não ter preferência por nenhum
dos modelos que estão na disputa.
A Folha publicou no último dia
8 que o governo já decidiu pelo
padrão japonês. Pesou na escolha
a importância política do apoio
das TVs em ano eleitoral e a promessa de instalação de uma fábrica de semicondutores japonesa.
Apesar da discussão que diz
ocorrer, Gil assumiu, durante a
aula, que a pressão de meios de
comunicação na decisão do governo é grande. "Os meios de comunicação têm muito poder e capacidade de submeter o Estado e
outras iniciativas privadas aos
seus desígnios", afirmou ele. "É
difícil falar de democracia."
O integrante do Instituto de Estudos e Projetos em Comunicação e Cultura (Indecs) Gustavo
Gindre afirma ser uma "boa notícia" a participação da sociedade
na discussão sobre TV digital.
Gindre disse que o Conselho Consultivo, formado por representantes da sociedade civil para discutir
o assunto, não foi convocado desde novembro do ano passado.
"Reunimo-nos por conta própria,
em fevereiro, mas sem a convocação do governo."
Palocci
Gil evitou comentar a saída de
Antonio Palocci do Ministério da
Fazenda. O ministro só comentou
a saída de Palocci depois de se dizer obrigado a responder por causa da insistência."Foi uma cerimônia comovente, tocante. (...)
Saía um ministro com acusações e
entrava um outro ministro", afirmou o ministro.
Gil irritou-se ao ser questionado
se estava preocupado com a crise
no governo. "Preocupado com o
quê? Quero é me ocupar! Dormir
tranqüilo em casa, cansado de ter
trabalhado o dia todo!"
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