São Paulo, quinta-feira, 30 de março de 2006

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"FOGO AMIGO"

Ministro é chamado de "empresário boçal" e defensor de monopólios; Gil diz que texto é exemplo de "democracia"

Gil lê cordel que ataca Costa por TV digital

ITALO NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

O ministro da Cultura, Gilberto Gil, leu ontem, durante aula inaugural da Escola de Comunicação da UFRJ, cordel feito por ativistas políticos de um grupo chamado Ventilador Cultural, em que o ministro das Comunicações, Hélio Costa, é chamado de "empresário boçal" e acusado de apostar "no monopólio privado" das comunicações.
"O governo federal, muito mal representado, tem ministro de Estado, um empresário boçal, e a TV digital, importante instrumento para o desenvolvimento, corre o risco de ficar como sempre esteve e está na mão de pouca gente", diz o cordel. "O tal ministro citado, que se chama Hélio Costa, de fato somente aposta no monopólio privado. E esse empresariado que recebeu concessão de rádio e televisão e quer se perpetuar o único a mandar na nossa programação", afirma em outro trecho.
Gil apresentou o texto como um exemplo "das manifestações de democracia" que chegam até ele. A entidade autora do texto critica o apoio de Costa ao padrão japonês para a TV digital (defendido também pelas emissoras de TV) e o pouco apoio dado à elaboração de um modelo nacional. Diz também que a posição do ministro das Comunicações é de apoio aos interesses comerciais dos grandes veículos de comunicação.
Gil defendeu, na aula inaugural, "mais participação e democratização dos meios de comunicação". "Essa discussão [sobre democratização das comunicações] estava um pouco abafada, mas agora já está sendo discutida melhor", afirmou. "A sociedade está sendo convocada para discutir a TV digital no conjunto de sua importância." O ministro declarou não ter preferência por nenhum dos modelos que estão na disputa.
A Folha publicou no último dia 8 que o governo já decidiu pelo padrão japonês. Pesou na escolha a importância política do apoio das TVs em ano eleitoral e a promessa de instalação de uma fábrica de semicondutores japonesa.
Apesar da discussão que diz ocorrer, Gil assumiu, durante a aula, que a pressão de meios de comunicação na decisão do governo é grande. "Os meios de comunicação têm muito poder e capacidade de submeter o Estado e outras iniciativas privadas aos seus desígnios", afirmou ele. "É difícil falar de democracia."
O integrante do Instituto de Estudos e Projetos em Comunicação e Cultura (Indecs) Gustavo Gindre afirma ser uma "boa notícia" a participação da sociedade na discussão sobre TV digital. Gindre disse que o Conselho Consultivo, formado por representantes da sociedade civil para discutir o assunto, não foi convocado desde novembro do ano passado. "Reunimo-nos por conta própria, em fevereiro, mas sem a convocação do governo."

Palocci
Gil evitou comentar a saída de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda. O ministro só comentou a saída de Palocci depois de se dizer obrigado a responder por causa da insistência."Foi uma cerimônia comovente, tocante. (...) Saía um ministro com acusações e entrava um outro ministro", afirmou o ministro.
Gil irritou-se ao ser questionado se estava preocupado com a crise no governo. "Preocupado com o quê? Quero é me ocupar! Dormir tranqüilo em casa, cansado de ter trabalhado o dia todo!"


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