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EMBARGO
Sem russos no mercado, preços desabam, não há espaço para armazenagem e produtores abatem e enterram animais
Rússia leva setor de carnes ao fundo do poço
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
As exportações de carne suína
recuaram 40% na primeira quinzena deste mês em relação às do
mesmo período de fevereiro. As
demais carnes -de frango e bovina- também seguem tendência de queda.
Os estoques crescem e os armazéns especiais para estocagem já
não têm mais espaço. As carnes
começam a ser estocadas em contêineres de carretas. Essa redução
nas exportações das três carnes
provoca forte disputa pelo consumidor interno. Ganha o frango,
que já é comercializado por menos de R$ 1 por quilo, no varejo.
Essa situação é provocada quase
que exclusivamente pelo embargo russo, segundo Pedro Camargo Neto, presidente da Abipecs
(Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de
Carne Suína).
O excesso de carnes suína e bovina no mercado interno se deve
aos embargos em decorrência da
febre aftosa em Mato Grosso do
Sul e no Paraná. No caso do frango, o excesso se deve à redução
das exportações devido ao avanço
da gripe aviária pelo mundo, reduzindo o consumo da ave.
Para Camargo, "o embargo russo não tem lógica e sua continuidade desestabilizará o setor, principalmente o de carne suína, que
cresceu exatamente para atender
à demanda russa".
Para o presidente da Abipecs, o
embargo não tem consistência
técnica. Ele cita o exemplo do Rio
Grande do Sul, mercado que nunca poderia ter sido fechado pelos
russos, não só pelas regras da OIE
(Organização Mundial de Saúde
Animal) e da OMC (Organização
Mundial do Comércio), mas também devido ao protocolo sanitário assinado por Brasil e Rússia.
Camargo diz que os russos prejudicam o Brasil e que só o governo poderia enfrentá-los, mas "ele
[o governo] não se mexe".
Odilson Ribeiro, diretor do Departamento de Assuntos Sanitários e Fitossanitários do Ministério da Agricultura, não concorda
com Camargo. Ele diz que o governo tem estado em contato diariamente com os russos para tentar reverter esse embargo. "Muitas vezes temos recebido respostas que não nos agradam, mas
não podemos forçar e ir além do
razoável", diz Ribeiro.
Ele acredita, no entanto, que as
negociações possam avançar com
a vinda do primeiro-ministro russo ao Brasil em abril. Além dos esforços políticos do governo, tem
havido troca de informações também na área técnica, diz Ribeiro.
A ausência da Rússia praticamente inviabiliza o mercado brasileiro de carnes. Dos 4,9 milhões
de toneladas exportadas no ano
passado, um quinto foi para os
russos. As receitas do setor somaram US$ 7,8 bilhões, sendo que
US$ 1,6 bilhão veio da Rússia.
O setor mais dependente é o de
suínos. Das 625 mil toneladas exportadas em 2005, 404 mil (65%)
tiveram como destino a Rússia.
A capacidade de armazenagem
do país é de 300 mil toneladas e já
está toda ocupada, segundo José
Roberto Moreira Leite, ex-presidente da Abiaf (Associação Brasileira da Indústria de Armazenagem Frigorificada).
Com a falta de compradores e as
dificuldades de armazenagem, alguns produtores de frango já suspendem a produção, abatem e enterram os animais, afirma Leite. A
crise deve chegar ainda mais forte
na produção, segundo o ex-presidente da associação. Para Leite,
vários investimentos no setor estão sendo interrompidos devido à
insegurança dos produtores.
No caso da carne suína, os Estados do Sul são os mais prejudicados. O Rio Grande do Sul, que já
tem 60 mil toneladas de carne estocadas -o normal é ter apenas
15 mil- vive a maior crise desde
1978, quando ocorreu a peste suína. Em vista dessa dificuldade, os
gaúchos vão solicitar ao governo
uma linha de crédito de R$ 150
milhões a R$ 200 milhões.
Com a porteira externa fechada,
os preços desabam. Acompanhamento diário da Folha mostra
que, do início de 2005 até agora, o
preço da carne suína caiu 60% no
mercado paulista; o da de frango,
56%; e o da bovina, 23%.
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