São Paulo, sexta-feira, 30 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

Desindustrialização, não: velhice

Indústria não definha com onda de importados, mas estrutura produtiva do país parou de evoluir nos anos 80

O BRASIL exporta produtos cada vez mais primitivos em termos tecnológicos? Há uma tendência geral de invasão de produtos importados? Há desindustrialização? Não. Não. Não.
Ricardo Markwald e Fernando Ribeiro, da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior), apresentaram um estudo que sugere respostas negativas às três questões, quentes devido à valorização do real e à queda forte no ritmo de crescimento da quantidade de produtos exportados desde 2005.
O trabalho foi apresentado num seminário virtual promovido pelo Instituto Nacional de Altos Estudos, de João Paulo dos Reis Velloso. Um grupo variado de economistas debateu o estudo e houve escassa discordância a respeito das conclusões centrais de Markwald e Ribeiro, ainda referendadas por um texto de Fernando Puga (BNDES) sobre comércio exterior e indústria.
Entre os debatedores, Delfim Netto e David Kupfer apresentaram uma crítica devastadora -não contra os trabalhos de Markwald, Ribeiro e Puga, embora sejam bem mais pessimistas em relação aos efeitos do câmbio. Criticam mesmo as três décadas de penúria na economia política da produção e a falência múltipla de órgãos de inovação e diversificação do parque produtivo: a estrutura da produção e da exportação quase não mudou desde os anos 80.
Em comentários independentes, Delfim e Kupfer observaram que a economia parou de incorporar novos setores, em especial os da ponta tecnológica e capazes de incrementar a produtividade. Na prática, o país vive hoje da diversificação produtiva dos anos 70 e 80, além de alguns ganhos de eficiência decorrentes da abertura e da estabilização.
Markwald e Ribeiro dizem que, sim, o ritmo de crescimento da quantidade de exportações caiu de modo "preocupante". Mas captaram um comportamento cíclico, desde 1991, na variação do quantum exportado. Tal movimento dependeu da rentabilidade do comércio exterior e da demanda. Isto é: não só do câmbio mas do preço dos bens vendidos, do custo de produção e do crescimento global. Ainda assim, os economistas não vêem ameaça de volta da "vulnerabilidade externa".
Os dados dos economistas da Funcex apontam que a dinâmica da importação depende da compra de matérias-primas e outros insumos (bens intermediários), cerca de 60% da pauta de importados. A importação de insumos, por sua vez, varia com a produção das fábricas.
O câmbio teria efeito mais direto apenas sobre 20% da pauta de importações. Por fim, como sugere também o trabalho de Puga, o aumento de importações ocorre em alguns dos setores mais dinâmicos, os que mais crescem e mais exportam: eletrônica, informática, instrumentos médicos, veículos, materiais elétricos. Pelo menos até 2006. O Brasil exporta cada vez mais produtos primários ou de escassa elaboração industrial ("commodities")? Não. O que mudou na pauta exportados foi a entrada dos combustíveis -e o agronegócio caiu.
Perderam os setores de baixa tecnologia e que empregam mais mão-de-obra, afetados pelo custo do trabalho (encarecido pelo câmbio) e pela concorrência asiática: móveis, têxteis, calçados, por exemplo.


vinit@uol.com.br

Texto Anterior: Meta para aperto fiscal cai para 3,83% do PIB
Próximo Texto: Desemprego sobe para 9,9% em fevereiro
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.