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VINICIUS TORRES FREIRE
Desindustrialização, não: velhice
Indústria não definha com onda de importados, mas estrutura produtiva do país parou de evoluir nos anos 80
O BRASIL exporta produtos cada vez mais primitivos em
termos tecnológicos? Há
uma tendência geral de invasão de
produtos importados? Há desindustrialização? Não. Não. Não.
Ricardo Markwald e Fernando Ribeiro, da Funcex (Fundação Centro
de Estudos do Comércio Exterior),
apresentaram um estudo que sugere respostas negativas às três questões, quentes devido à valorização
do real e à queda forte no ritmo de
crescimento da quantidade de produtos exportados desde 2005.
O trabalho foi apresentado num
seminário virtual promovido pelo
Instituto Nacional de Altos Estudos,
de João Paulo dos Reis Velloso. Um
grupo variado de economistas debateu o estudo e houve escassa discordância a respeito das conclusões
centrais de Markwald e Ribeiro, ainda referendadas por um texto de
Fernando Puga (BNDES) sobre comércio exterior e indústria.
Entre os debatedores, Delfim Netto e David Kupfer apresentaram
uma crítica devastadora -não contra os trabalhos de Markwald, Ribeiro e Puga, embora sejam bem mais
pessimistas em relação aos efeitos
do câmbio. Criticam mesmo as três
décadas de penúria na economia política da produção e a falência múltipla de órgãos de inovação e diversificação do parque produtivo: a estrutura da produção e da exportação
quase não mudou desde os anos 80.
Em comentários independentes,
Delfim e Kupfer observaram que a
economia parou de incorporar novos setores, em especial os da ponta
tecnológica e capazes de incrementar a produtividade. Na prática, o
país vive hoje da diversificação produtiva dos anos 70 e 80, além de alguns ganhos de eficiência decorrentes da abertura e da estabilização.
Markwald e Ribeiro dizem que,
sim, o ritmo de crescimento da
quantidade de exportações caiu de
modo "preocupante". Mas captaram um comportamento cíclico,
desde 1991, na variação do quantum
exportado. Tal movimento dependeu da rentabilidade do comércio
exterior e da demanda. Isto é: não só
do câmbio mas do preço dos bens
vendidos, do custo de produção e do
crescimento global. Ainda assim, os
economistas não vêem ameaça de
volta da "vulnerabilidade externa".
Os dados dos economistas da
Funcex apontam que a dinâmica da
importação depende da compra de
matérias-primas e outros insumos
(bens intermediários), cerca de 60%
da pauta de importados. A importação de insumos, por sua vez, varia
com a produção das fábricas.
O câmbio teria efeito mais direto
apenas sobre 20% da pauta de importações. Por fim, como sugere
também o trabalho de Puga, o aumento de importações ocorre em alguns dos setores mais dinâmicos, os
que mais crescem e mais exportam:
eletrônica, informática, instrumentos médicos, veículos, materiais elétricos. Pelo menos até 2006.
O Brasil exporta cada vez mais
produtos primários ou de escassa
elaboração industrial ("commodities")? Não. O que mudou na pauta
exportados foi a entrada dos combustíveis -e o agronegócio caiu.
Perderam os setores de baixa tecnologia e que empregam mais mão-de-obra, afetados pelo custo do trabalho (encarecido pelo câmbio) e
pela concorrência asiática: móveis,
têxteis, calçados, por exemplo.
vinit@uol.com.br
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