|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
G20 anuncia nova cúpula e assume o papel do G8
"Prévia" do comunicado que será divulgado após o encontro de quinta-feira estabelece o G20 como principal fórum da economia
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
A cúpula de quinta-feira do
G20, com as principais economias do planeta, vai referendar
o novo papel do grupo como
substituto, para todos os efeitos práticos, do G8 como diretoria econômico-financeira do
planeta, obviamente informal.
É pelo menos o que consta do
esboço do comunicado final obtido pelo jornal britânico "Financial Times", que, no entanto, ressalva que o documento
ainda pode ser modificado até
quinta-feira. De fato, os vice-ministros de Economia e os delegados pessoais dos governantes (chamados "sherpas" no
jargão diplomático) estão se
reunindo em Londres desde
sexta para preparar o texto.
O governo britânico negou
que a versão do "FT" seja a mais
recente, mas, no que se refere à
entronização do G20 como o
principal fórum de discussão
para a economia, a Folha apurou que é improvável que haja
uma alteração.
O texto afirma que os líderes
concordam "em se encontrar
de novo antes do fim do ano para rever os progressos em relação aos nossos compromissos",
ou seja, aos compromissos que
serão adotados em Londres.
Se a versão do "FT" for a correta, não há nos compromissos
nada além do que constava do
documento da primeira cúpula
(em Washington, em 15 de novembro) e do texto mais recente, emitido no último dia 14 pelos ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais do
G20, como a Folha antecipara.
Enquanto o G8 reúne os sete
países mais ricos do mundo
mais a Rússia, o G20 inclui desenvolvidos e emergentes, entre os quais o Brasil.
Os governantes reafirmam a
defesa de "uma economia
mundial aberta, baseada em
princípios de mercado, efetiva
regulação e instituições globais
fortes", um conjunto que "assegurará uma globalização sustentável com crescente prosperidade para todos".
O documento é um inventário das "ações fiscais coordenadas e sem precedentes" já adotadas, mas deixa entre parênteses (sinal de desacordo) o valor
de tais ações. Tampouco anuncia novos pacotes nem quantifica a não ser entre parênteses,
de novo, a expectativa de aumento da produção decorrente
das ações adotadas e de aumento do emprego (entre parênteses, estão 2% como crescimento econômico e mais de
20 milhões de empregos).
O texto reitera o compromissos dos BCs de manter políticas
de juros expansionistas, ou seja, perto de zero, compromisso
que Henrique Meirelles também assinou, no último dia 14.
A versão do jornal britânico
contém igualmente a promessa
de restabelecer o funcionamento do sistema financeiro,
sempre nos termos já acordados pelos ministros da Fazenda
e presidentes de BCs.
Mas o texto não específica o
valor dos recursos que serão
disponibilizados para países
emergentes e em desenvolvimento, duramente afetados
pela secura do crédito. No Brasil, Gordon Brown, o anfitrião
da cúpula, havia dito que seriam no mínimo US$ 100 bilhões para o financiamento do
comércio internacional.
O documento faz a condenação, já ritual, do protecionismo,
tal como constava do texto de
Washington. No entanto um
estudo do Banco Mundial mostrou que, após a primeira cúpula, 17 dos países do G20 adotaram um conjunto de 47 ações
de restrição ao livre comércio.
Apesar desse antecedente, os
líderes "reafirmam o compromisso assumido em Washington de não levantar novas barreiras ao investimento ou ao
comércio de bens e serviços,
não impor novas restrições ao
comércio e não criar novos
subsídios para exportações".
O texto também retoma os
documentos de Washington e
dos ministros da Fazenda e
presidentes de BCs para anunciar uma profunda reforma da
regulação e supervisão do sistema financeiro.
Tanta reiteração de compromissos já anunciados contraria
as expectativas talvez excessivas levantadas em relação à cúpula de Londres. Brown já tratou de reduzi-las, em encontro
com jornalistas do G20 na semana passada, ao afirmar que a
reunião será "apenas uma etapa em um processo".
A convocação de uma nova
"etapa" antes do fim do ano
mostra que não será, de fato, a
bala de prata contra o vampiro
da crise.
Texto Anterior: Mundo deve pensar em volta à disciplina fiscal, diz Merkel Próximo Texto: Às vésperas de reunião, Obama pede G20 unido Índice
|