São Paulo, segunda-feira, 30 de março de 2009

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G20 anuncia nova cúpula e assume o papel do G8

"Prévia" do comunicado que será divulgado após o encontro de quinta-feira estabelece o G20 como principal fórum da economia

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

A cúpula de quinta-feira do G20, com as principais economias do planeta, vai referendar o novo papel do grupo como substituto, para todos os efeitos práticos, do G8 como diretoria econômico-financeira do planeta, obviamente informal.
É pelo menos o que consta do esboço do comunicado final obtido pelo jornal britânico "Financial Times", que, no entanto, ressalva que o documento ainda pode ser modificado até quinta-feira. De fato, os vice-ministros de Economia e os delegados pessoais dos governantes (chamados "sherpas" no jargão diplomático) estão se reunindo em Londres desde sexta para preparar o texto.
O governo britânico negou que a versão do "FT" seja a mais recente, mas, no que se refere à entronização do G20 como o principal fórum de discussão para a economia, a Folha apurou que é improvável que haja uma alteração.
O texto afirma que os líderes concordam "em se encontrar de novo antes do fim do ano para rever os progressos em relação aos nossos compromissos", ou seja, aos compromissos que serão adotados em Londres.
Se a versão do "FT" for a correta, não há nos compromissos nada além do que constava do documento da primeira cúpula (em Washington, em 15 de novembro) e do texto mais recente, emitido no último dia 14 pelos ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais do G20, como a Folha antecipara.
Enquanto o G8 reúne os sete países mais ricos do mundo mais a Rússia, o G20 inclui desenvolvidos e emergentes, entre os quais o Brasil.
Os governantes reafirmam a defesa de "uma economia mundial aberta, baseada em princípios de mercado, efetiva regulação e instituições globais fortes", um conjunto que "assegurará uma globalização sustentável com crescente prosperidade para todos".
O documento é um inventário das "ações fiscais coordenadas e sem precedentes" já adotadas, mas deixa entre parênteses (sinal de desacordo) o valor de tais ações. Tampouco anuncia novos pacotes nem quantifica a não ser entre parênteses, de novo, a expectativa de aumento da produção decorrente das ações adotadas e de aumento do emprego (entre parênteses, estão 2% como crescimento econômico e mais de 20 milhões de empregos).
O texto reitera o compromissos dos BCs de manter políticas de juros expansionistas, ou seja, perto de zero, compromisso que Henrique Meirelles também assinou, no último dia 14.
A versão do jornal britânico contém igualmente a promessa de restabelecer o funcionamento do sistema financeiro, sempre nos termos já acordados pelos ministros da Fazenda e presidentes de BCs.
Mas o texto não específica o valor dos recursos que serão disponibilizados para países emergentes e em desenvolvimento, duramente afetados pela secura do crédito. No Brasil, Gordon Brown, o anfitrião da cúpula, havia dito que seriam no mínimo US$ 100 bilhões para o financiamento do comércio internacional.
O documento faz a condenação, já ritual, do protecionismo, tal como constava do texto de Washington. No entanto um estudo do Banco Mundial mostrou que, após a primeira cúpula, 17 dos países do G20 adotaram um conjunto de 47 ações de restrição ao livre comércio.
Apesar desse antecedente, os líderes "reafirmam o compromisso assumido em Washington de não levantar novas barreiras ao investimento ou ao comércio de bens e serviços, não impor novas restrições ao comércio e não criar novos subsídios para exportações".
O texto também retoma os documentos de Washington e dos ministros da Fazenda e presidentes de BCs para anunciar uma profunda reforma da regulação e supervisão do sistema financeiro.
Tanta reiteração de compromissos já anunciados contraria as expectativas talvez excessivas levantadas em relação à cúpula de Londres. Brown já tratou de reduzi-las, em encontro com jornalistas do G20 na semana passada, ao afirmar que a reunião será "apenas uma etapa em um processo".
A convocação de uma nova "etapa" antes do fim do ano mostra que não será, de fato, a bala de prata contra o vampiro da crise.


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