São Paulo, terça-feira, 30 de março de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

O PAC foi um acessório do PIB


O PAC 1 foi o plano de governo tardio de Lula e mal acelerou o PIB; o PAC 2 é apenas uma prévia do programa de Dilma


LULA LANÇOU o PAC 1 em 2007, quatro anos após a sua posse. Como se escreveu então nestas colunas, Lula anunciou um plano de crescimento que era apenas um tardio, embora necessário, programa administrativo. O PAC 1 foi parido quando Lula, enfim, tomava consciência do que era governar, quando enfim havia algum dinheiro no caixa do governo e quando o Brasil tinha alguma folga para crescer sem estourar suas contas externas, cortesia do desenvolvimentismo de fato existente, o da China.
O voraz consumo chinês das commodities brasileiras foi o combustível do nosso pálido "espetáculo do crescimento". Juros baixos no mundo rico auxiliaram o resto do serviço de financiar a arrancada do PIB. A queda de Antonio Palocci ajudou, pois assim caiu a restrição maior a larguezas no gasto público. Como o sufoco fiscal era então menor, o governo pôde aumentar as transferências sociais e o salário mínimo, o que foi útil. E pôde acumular mais reservas internacionais, que nos protegeram da loucura da finança mundial. Sim, são méritos.
A chegada de Guido Mantega à Fazenda e de Luciano Coutinho ao BNDES azeitou a única parceria público-privada que funcionou sob Lula, subsídios e incentivos diversos, na forma de financiamentos baratos e isenções fiscais, à grande empresa. Esses e outros desenvolvimentos da política de Lula 2 não teriam ocorrido se não fossem o ambiente de inflação quase estável e a taxa de juro real tendencialmente declinante.
O PAC 1 é um programa lerdo e de cronograma opaco, como o demonstrou ontem esta Folha. Sim, pior sem o PAC. Ao menos, o governo se impôs alguma direção. Se comprometeu com algumas metas (mal explicadas). Prestou algumas contas (precariamente). Submeteu-se a algum escrutínio público ao oferecer algum padrão menos subjetivo de julgamento de seus planos. Mas o PAC 1 acelerou mais a marquetagem que o crescimento.
O país voltou a crescer mais devido aos fatores listados acima. Ou seja, China, juro mundial baixo, reservas internacionais em alta, uma economia menos exótica, com contas mais em ordem e inflação controlada, um pouco de dinheiro para que os pobres consumissem. Parte relevante da melhoria da distribuição da renda do trabalho, que minorou a desigualdade, deveu-se a mudanças anteriores a Lula, como a relativa estabilidade da moeda, a abertura comercial e, decorrentes, os ganhos de produtividade e a redistribuição geográfica da produção. O sucesso da agroindústria e da indústria extrativa foi plantado ainda mais no passado.
O PAC 1 não serviu para aumentar a taxa de investimento da União em relação à dos claudicantes anos FHC, comparadas as médias dos governos. Elevou quase na "margem de erro" o investimento das estatais federais, na média. A taxa de investimento, em relação ao PIB, subiu aos níveis de anos melhores de crescimento posterior aos anos perdidos de 1980 a 1993.
O resultado do investimento público deve ser algo melhor nos anos finais de Lula. É algum sucesso. Mas pouco deve ao PAC 1. O PAC 2, lançado a meses do fim do governo, é no máximo uma prévia do programa de Dilma Rousseff.

vinit@uol.com.br


Texto Anterior: Montadoras: Pressionada, Mercedes-Benz produzirá caminhões em MG
Próximo Texto: Gigante do varejo quer dobrar participação
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.