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SOCIAIS & CIA.
Bancos exigem mais critérios ambientais
Instituições passam a considerar riscos socioambientais inclusive na análise de pedidos de empréstimos de baixo valor
Próximos desafios são criar produtos de crédito com apelo "verde" e identificar setores promissores para investir, como energia limpa
ANDRÉ PALHANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A iminência de regulamentações ambientais cada vez mais
rigorosas e a acirrada concorrência do setor estão levando os
bancos a ampliarem a incorporação de critérios socioambientais na análise de crédito para
as empresas. A tendência, segundo bancos e especialistas
ouvidos pela Folha, é que tais
critérios passem a ser incluídos
também no pedido de empréstimos de baixo valor, uma prática ainda rara no Brasil.
Na maior parte dos casos, a
inclusão de critérios socioambientais se restringe a valores
elevados de financiamento ou a
setores específicos, como a
agropecuária. Os Princípios do
Equador, por exemplo, que estabelecem diretrizes de crédito
sociais e ambientais para instituições financeiras, definem
uma linha de corte de US$ 10
milhões para a inclusão de tais
critérios no financiamento de
projetos de infraestrutura.
Na prática, isso permite que
empresas ou projetos considerados irresponsáveis do ponto
de vista socioambiental (que
utilizem trabalho infantil ou
incentivem o desmatamento
em áreas protegidas, por exemplo) tomem crédito bancário
sem maiores complicações,
desde que não enfrentem problemas jurídicos -realidade
comum, num país onde boa
parte dos órgãos públicos de
fiscalização enfrenta problemas de estrutura e de recursos.
Mais do que preocupação
com o planeta, a movimentação dos bancos reflete uma
apreensão com o futuro de seu
próprio negócio, já que os riscos socioambientais aparecem
com um potencial de estrago
também sobre as instituições.
Segundo o gerente-executivo
da Unidade de Desenvolvimento Sustentável do Banco do
Brasil, Benílton Couto da Cunha, trata-se de riscos "diretos
e indiretos". Ao financiar empreendimentos que venham a
gerar impactos socioambientais adversos, os bancos estão
submetidos, em primeiro lugar, ao risco de imagem, pela
associação de sua marca com o
ocorrido, afirma.
E também se submetem ao
risco legal, diante da possível
corresponsabilização pelo dano causado, e ao risco de inadimplência, já que eventuais
multas ou embargos podem repercutir sobre a capacidade do
tomador de honrar seus compromissos junto ao banco.
Um exemplo é o caso dos frigoríficos que compravam gado
criado em áreas de desmatamento na Amazônia. Após a
prática ter sido denunciada pelo Greenpeace e pela ONG
Amigos da Terra, em junho do
ano passado, grandes redes varejistas suspenderam a compra
dos produtos dessas empresas.
O resultado foi que alguns desses frigoríficos quase foram à
falência e tiveram seus níveis
de risco imediatamente reavaliados pelos bancos com quem
tinham relações de crédito.
Iniciativas
O esforço dos bancos para
compreender e adequar essa
nova realidade em seus modelos de risco de crédito inclui
uma série de ações. No ano passado, por exemplo, diversos
bancos privados assinaram o
Protocolo Verde, um documento público no qual assumiram o
compromisso de financiar somente empresas e projetos
comprometidos com a questão
socioambiental. Até então, o
Protocolo se restringia a um tímido acordo de intenções entre
poucos bancos públicos.
O documento, assinado em
conjunto pelo Ministério do
Meio Ambiente e a Febraban
(Federação Brasileira dos Bancos), estimula não apenas uma
análise mais rigorosa dos possíveis impactos sociais e ambientais decorrentes de um financiamento, mas também a diferenciação, inclusive em termos
de taxas, para financiamentos e
programas que fomentem o desenvolvimento sustentável e a
preservação ambiental.
Outra iniciativa é a produção
conjunta, sob coordenação do
CEBDS (Conselho Empresarial
Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), de uma série de relatórios setoriais para
avaliar o potencial de estragos e
de oportunidades para o sistema financeiro a partir das mudanças climáticas. O primeiro,
do setor frigorífico, ficou pronto no início do ano.
"O objetivo é os bancos internalizarem uma prática comum
em alguns países lá fora, mas
ainda praticamente inexistente
por aqui: a avaliação de riscos e
oportunidades associadas ao
clima em suas análises de crédito", detalha a coordenadora
da Câmara Temática de Finanças Sustentáveis do CEBDS,
Marina Grossi.
Além de entender os riscos
de natureza socioambiental e
integrá-los aos modelos de análise de crédito, os bancos ainda
têm outro desafio pela frente:
usar essas informações para
detectar oportunidades.
Por exemplo: identificar segmentos promissores para onde
direcionar financiamentos e
novos investimentos (como eficiência energética, energia renovável, reflorestamento) ou
na criação de produtos de crédito com o apelo desse tipo de
política, o que começa a atrair a
atenção dos consumidores.
"Esse tema deixou há tempos
de ser um debate filosófico. Hoje, é um debate efetivamente de
negócios", diz Roland Widmer,
coordenador do programa Eco-Finanças, da Amigos da Terra.
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