São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 2002

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ENERGIA

Professor que acusa governo de gastar demais no plano de energia emergencial pode ser processado pelo "ministro do apagão"

Parente quer processar crítico do apagão

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro Pedro Parente e o presidente da CBEE (Comercializadora Brasileira de Energia Emergencial), Mário Miranda, ameaçam levar o professor Ildo Sauer, da USP, à Justiça.
O professor é um dos principais opositores da política de energia do governo. Parente também chefia o "ministério do apagão" (no nome oficial, Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica).
Recentemente, Sauer criticou o aumento das tarifas de energia para repor as perdas das distribuidoras e o seguro antiapagão.
Sauer e mais três especialistas em energia acusaram o governo de improbidade em estudo divulgado no mês passado. No texto, afirmam que o aluguel, por três anos e meio, de 58 usinas termelétricas para garantir o abastecimento em caso de racionamento custarão R$ 16 bilhões, recursos que virão do seguro antiapagão. Essa será a quantia desembolsada caso todas entrem em operação.
Segundo os autores do trabalho, se essas usinas fossem construídas pelo governo custariam apenas R$ 2,5 bilhões, fora o combustível e custos de manutenção.
Em ofícios enviados à reitoria da USP, nos dias 17 e 18 de abril, Parente e Miranda solicitaram que a reitoria esclarecesse se Sauer "expressa entendimento do colegiado da Escola Politécnica da USP e se os juízos e as alegações por ele levados a público podem vir a ser legitimamente atribuídos a essa mesma instituição". A solicitação, afirmam, visa "resguardar direitos e prevenir responsabilidades, inclusive no que toca à eventual propositura de ação judicial de reparação de danos".
Ontem, a CBEE recebeu a resposta da Universidade desautorizando Sauer a falar em nome do Instituto de Eletrotécnica e Energia, onde trabalha. "As eventuais declarações do Instituto de Eletrotécnica e Energia serão sempre tornadas públicas por meio de seu diretor", diz a nota assinada por Orlando Lobosco, diretor do IEE.
Segundo o comunicado, "embora o senhor Ildo Sauer não sofra restrições por parte da Universidade às suas declarações políticas, econômicas ou partidárias, ele o faz assumindo inteira responsabilidade pelo teor dessas declarações, sem o aval da instituição a que serve".
Parente informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que está aguardando resposta da USP para decidir o que fazer. A CBEE, também por meio de sua assessoria, informou que está analisando a resposta da universidade.
O professor Sauer afirma que "a consulta à USP é descabida, pois o relatório e as manifestações levadas à imprensa e ao Ministério das Minas e Energia foram subscritas pessoalmente e jamais apresentadas em nome da USP".
Segundo Sauer, a consulta de Parente e Miranda à reitoria da universidade constitui "uma tentativa de intimidação e constrangimento, trata-se de atitude típica de um governo obscurantista."


Colaborou a Sucursal de Brasília

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