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São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 2003

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SUPERMERCADOS

Banco quer pelo Bompreço US$ 680 milhões, cinco vezes o montante pago na última negociação do setor

Começa a disputa no maior negócio do varejo no país

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A venda da rede nordestina Bompreço será o maior negócio da história do varejo brasileiro. O volume da transação deve bater recorde e a operação pode ser feita em etapas.
O ABN Amro Bank, que conversa com os interessados, pensa em vender os negócios que envolvem os 116 supermercados da rede de forma separada. Um grupo fica com as lojas e outro com o cartão da empresa, o Hipercard, o maior da região.
Entre as empresas de olho na carteira de clientes do Hipercard está a MasterCard, administradora de cartões de crédito, segundo a Folha apurou.
A negociação envolve números altos: pelo Bompreço o banco já chegou a acenar para o mercado que quer R$ 2 bilhões -US$ 680 milhões-, cinco vezes o montante pago na última venda ocorrida no setor, a da rede Sé, em 2002.
Analistas acreditam, porém, que o preço final de venda da companhia deverá ficar entre US$ 300 milhões e US$ 400 milhões.
Outra nova informação rebate rumores falsos. Nada será vendido de forma conjunta. Explicando: a Royal Ahold -controladora do Bompreço- ainda tem lojas em outros países da América do Sul à venda. Quem comprar os pontos na Argentina, no entanto, não será obrigado a ficar com a operação no Brasil também.
No páreo estão o grupo Pão de Açúcar -hoje o mais cotado-, o Carrefour e o Wal-Mart, a maior cadeia varejista do mundo.
Como o ABN Amro Bank só passou a comandar a venda do Bompreço na semana passada, os valores não foram discutidos a fundo pelos interessados. A instituição está à frente do processo porque a Royal Ahold tem débitos com o banco. Ao vender o Bompreço, essa dívida, que soma US$ 13 bilhões no mundo, será abatida do valor da venda.
"Nós estamos no jogo", disse ontem Abílio Diniz, presidente do Conselho de Administração do Pão de Açúcar. O diretor executivo do Wal-Mart, Aprígio Rello Júnior, mandou o recado também: "Estamos abertos a novas aquisições", disse recentemente.
Num primeiro momento, o volume parece alto, avaliam analistas de mercado. No entanto, pelo Bompreço as redes pagarão pelo valor estratégico da compra. Quem ficar com a cadeia será líder absoluto no Nordeste, irá disparar no ranking do setor e pode até desbancar o Pão de Açúcar, hoje na primeira colocação.
Para comparar: em 2002 o Pão de Açúcar pagou R$ 360 milhões pela rede Sé -em parte com a compra da dívida e, em parte, em dinheiro. Mas, ao final das negociações, descobriu-se que não havia nenhum interessado. Apenas o Pão de Açúcar. Agora, são três, no mínimo, na disputa.
Ainda há outra questão a respeito do montante negociado. O volume sugerido pelos bancos sempre é alto. Faz parte da estratégia de quem vende. Em cima disso são feitos abatimentos. As redes até ameaçam desistir do negócio e deixam as conversas em compasso de espera. Tudo para aumentar a pressão e obter preço melhor.
A Folha entrou em contato com as redes varejistas citadas, assim como com a Mastercard. Essa última não se manifestou. As redes não comentam valores.
Na lista de apostas dos analistas segue à frente a empresa de Abílio Diniz. O interesse pela rede é antigo. Ana Maria Diniz, filha de Abílio, chegou a dizer em 1997 que entre o Sonae, rede gaúcha, e o Bompreço, preferiria o Bompreço -"com tecnologia de ponta".
Se comprar a cadeia do Nordeste, a empresa passará a ter uma receita superior a R$ 15 bilhões (se incluir o Eletro). Encurtará o seu caminho em um ano e meio, o tempo que levou para obter o total de lojas que o Bompreço tem.
Se o Carrefour ou o Wal-Mart baterem o martelo, o ranking do setor muda totalmente. A rede francesa, com só duas lojas no Nordeste, atropelará a cadeia brasileira -com 46 lojas na região- e voltará à liderança. Já o Wal-Mart se tornará a terceira maior cadeia e sairá da sexta posição.


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