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Impacto no caixa do governo com aumento real deve ser de R$ 773 mi
DA REPORTAGEM LOCAL
O tamanho do buraco que o aumento do salário mínimo causará
nas contas públicas deve atingir
até R$ 773,2 milhões ao ano. Os
cálculos foram feitos ontem por
entidades e economistas. Na ponta do lápis, é possível afirmar que
a pressão sobre os gastos federais
com esse reajuste -o salário sobe
R$ 20, mas o aumento real é de R$
4- será coberto por recursos disponíveis no Orçamento de 2004.
Isso porque o Ministério do Planejamento já afirmou, há duas semanas, que possui R$ 3,8 bilhões
na conta a serem destinados para
essa despesa orçamentária.
De acordo com dados do Dieese, para cada R$ 1 que entrará no
salário mínimo como aumento
real (descontado a inflação), a
despesa sobe R$ 193,3 milhões ao
ano. O ganho real será de R$ 4.
Logo, esse aumento deve pressionar as contas em R$ 773,2 milhões
ao ano. Esse valor (R$ 193,3 milhões) foi calculado com base no
impacto da folha de pagamento
dos funcionários públicos na ativa dos governos municipal, estadual e federal, além dos gastos da
Previdência Social. Portanto, nessa conta não entram as despesas
com inativos. Esse peso a mais
pode elevar os gastos anuais.
Sem dar detalhes, o governo estima um impacto de R$ 650 milhões com o aumento do mínimo
e do salário-família.
Para Raul Velloso, especialista
em contas públicas, para cada aumento real (sem contar a inflação) de R$ 1, a despesa com o mínimo atinge R$ 180 milhões por
ano. Montante próximo, portanto, do determinado pelo departamento (R$ 193,3 milhões).
Com isso, a despesa a ser absorvida por causa do reajuste salarial
chega a R$ 720 milhões ao ano.
"Foi um reajuste responsável.
Com isso dá para pagar com facilidade porque houve aumento na
arrecadação federal deste ano."
Para chegar à relação de R$ 180
milhões para cada aumento de R$
1, diz Velloso, "leva-se em conta
um gasto global, que não se refere
só ao que precisa ser pago a funcionários públicos ou a aposentados". "Engloba todas as pressões,
inclusive gastos públicos, federais, estaduais e municipais."
Certas diferenças nos cálculos
podem acontecer por conta do
número de trabalhadores que recebem salário mínimo. Os levantamentos podem ter pequenas
distorções em relação a isso.
Outros números
Cálculo feito por Guido Mantega (Planejamento) estabelece que,
para cada R$ 1 a mais, o peso nas
despesas de 2004 seria de R$ 143
milhões, disse ele há duas semanas. O ministro não explicou a
metodologia dos números. Baseado nessa conta, o aumento do salário divulgado ontem seria de R$
572 milhões anualmente.
Havia uma expectativa no mercado de um reajuste que pudesse
chegar a R$ 270. Em reuniões fechadas entre a equipe econômica
e a Presidência da República concluiu-se que um aumento perto
disso implicaria cortes no Orçamento. Faz sentido.
Por exemplo, se o salário mínimo que passasse de R$ 240 para
R$ 270, o aumento real atingiria o
valor de R$ 14. Isso levaria a gastos anuais do Orçamento de 2004
em R$ 2,7 bilhões ao ano.
O que o governo tenta evitar são
descontroles orçamentários. Na
prática, o aumento no salário que
ultrapassasse os R$ 260 teria de
ser pago com excessos na arrecadação federal ou por meio da anulação de outras despesas de ministérios.
(ADRIANA MATTOS)
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