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LUÍS NASSIF
Adolf Berle Jr.
e a diplomacia do dólar
Os EUA passaram a se tornar a grande potência
mundial quando substituíram a
diplomacia das canhoneiras pela
do dólar, a política infame de colonização da França e da Inglaterra pré-Segunda Guerra pela
de estimuladores do desenvolvimento de seus vizinhos.
Nem sempre a política teve
continuidade. Mas, neste momento de abusos de empresas
brasileiras em países vizinhos,
talvez valesse a pena inspirar-se
na ação de Adolf Berle Jr., embaixador americano no Brasil
no período Vargas-Dutra.
Em 1937, o então presidente
norte-americano, Franklin Delano Roosevelt, foi convencido de
que o melhor caminho para o
fortalecimento dos Estados Unidos seria contribuir para o desenvolvimento do continente,
provendo recursos sem procurar
interferir nas políticas locais.
Dois grupos participam dessas
formulações. Um deles composto
pelo subsecretário de Estado, o
influente Sumner Welles, o diretor da União Pan-Americana
Leo Rowe e o secretário-assistente Adolf Berle. O outro, por grandes empresários, liderados por
Nelson Rockefeller, e pelo cientista social Beardsley Ruml. Berle
foi escolhido para comandar a
operação latino-americana, e
sua indicação tinha um significado especial: ele ajudara enormemente a obter a cooperação
dos empresários para o New
Deal.
Figura singular, Berle era filho
de um ministro e missionário leigo que trabalhou com os sioux.
Tinha a idéia fixa de que as reformas de que os EUA precisavam dependiam da regeneração
dos empresários, de seu compromisso com as reformas sociais.
No dia 28 de junho de 1937,
Roosevelt transformou as idéias
em programa de governo, o Pan-Americanismo, que, conforme a
definição do cientista político
Gerson Moura, iria se basear em
"uma realidade fundada nos
ideais comuns de organização
republicana, na aceitação da democracia como um ideal, na defesa da liberdade e da dignidade
do indivíduo, na crença na solução pacífica da disputa e na adesão aos princípios de soberania
nacional".
O que interessa, no caso, é o
papel fundamental de Berle na
construção do parque brasileiro
de refinarias. Berle sabia que o
crescimento brasileiro sustentado dependia de uma solução para a questão dos combustíveis.
Tinha vivos, na memória, os desastres ocorridos no México, na
Venezuela e na Bolívia, devido a
concessões quase monopolistas à
indústria de petróleo americana.
O primeiro presidente do Conselho Nacional do Petróleo, general Horta Barbosa, defendia
um parque de refino com capital
privado nacional. Seu sucessor,
coronel João Carlos Barreto, mudou o rumo da política e chegou
a ser cínico, quando o advogado
João Pedro Gouvêa Vieira foi denunciar que estava sendo alvo de
uma proposta da Gulf Oil de se
tornar seu testa-de-ferro por US$
5 milhões:
"Isso apenas prova que você é
honesto até o limite de US$ 5 milhões", conforme o próprio João
Pedro me contou cerca de 14
anos atrás.
A Standard Oil fez pressão sobre o governo americano para
que atuasse para reverter a política brasileira. Depois de ter registrado lucros gigantescos no
Brasil, manifestava seu "receio"
de que, refinando petróleo com
capital nacional, o Brasil acabasse pagando um preço muito
alto pelo produto. "Sua preocupação de que o Brasil pague um
preço alto demais -a brasileiros- para refinar petróleo, no
Brasil, parece-me simplesmente
engraçada", comentou Berle,
conforme registrou o historiador
Stanley Hilton no livro "O Embaixador e o Presidente".
Em meados de 1945, Berle sugeriu ao Departamento do Estado a criação de uma comissão
bilateral, Brasil-EUA, incumbida de vigiar as atividades de
companhias estrangeiras, a fim
de assegurar que, nas palavras
dele, "o povo [brasileiro] receba
os benefícios dos recursos". Com
essa visão, apoiou o projeto do
CNP de estabelecer refinarias,
com capital nacional.
Acabou passando para a história como conspirador, após um
controvertido discurso proferido
em 29 de setembro de 1945, no
Sindicato dos Jornalistas, quando defendeu claramente as eleições presidenciais marcadas para dezembro, criticou os conspiradores udenistas e advertiu os
queremistas e os partidários do
movimento Constituinte-com-Getúlio.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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