São Paulo, domingo, 30 de abril de 2006

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1º DE MAIO

14 ex-dirigentes que chegaram ao Executivo e ao Congresso citam o que consideram avanços na legislação trabalhista

Ex-sindicalistas defendem ação no governo

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI

DA REPORTAGEM LOCAL

Escutar o trabalhador no "chão de fábrica", criar o Estatuto do Idoso, antecipar o pagamento de aposentadorias, lutar contra a flexibilização de leis trabalhistas, fortalecer comissões sindicais de fábricas, facilitar a execução de políticas para a população de baixa renda e ajudar o trabalhador a colocar mais dinheiro no bolso.
Essa é a lista de alguns dos benefícios que sindicalistas que chegaram ao poder afirmam já ter proporcionado ao trabalhador. A Folha procurou 18 ex-dirigentes sindicais que ocupam -ou ocuparam- cargos no governo Lula ou estão no Congresso Nacional para saber o que de fato fizeram.
Quatro deles -em algumas das funções mais importantes do país- não quiseram responder a enquete feita pela Folha para detalhar o que já fizeram pelo trabalhador. O presidente Lula não tinha tempo em sua agenda, segundo informou sua assessoria.
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, o seu chefe de gabinete, Osvaldo Bargas, e o secretário de Políticas Públicas de Emprego, Remígio Todeschini, não participaram. Eles disseram que não deveriam ser o foco da reportagem, mas sim as ações do governo.
Nove dos ex-dirigentes que participaram da enquete afirmaram que atingiram seus objetivos no Executivo ou no Legislativo desde que saíram de seus sindicatos.
O ex-ministro Luiz Gushiken, hoje chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência -que figura na lista de 40 denunciados ao STF (Supremo Tribunal Federal) pela Procuradoria Geral da República nas investigações sobre o mensalão- afirma que conseguiu agir para favorecer os trabalhadores.
Entre os principais projetos que defendeu, destaca o que concedeu aposentadoria proporcional às mulheres após 25 anos de trabalho -mais tarde, derrubado com a reforma da Previdência.
Ao ser questionado sobre se valeu a pena ter ido para o governo, ele diz: "O clima de feroz guerra política travada no atual momento limita as avaliações, mas tenho a certeza de que as conquistas e os avanços do governo Lula serão amplamente reconhecidos".
Ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo (CUT), Ricardo Berzoini, que hoje comanda o PT, diz que, entre as contribuições que deu aos trabalhadores estão a "luta contra a reforma trabalhista neoliberal do governo anterior" e a "atuação para que o país tivesse uma legislação de previdência complementar mais moderna e democrática".
Quando ministro do Trabalho, em 2004, diz que participou de um governo que inverteu a "tendência nefasta do crescimento do desemprego que o governo FHC deixou". Depois de dois anos e meio no governo, Berzoini deixou a administração para reorganizar o PT, partido abalado pelas denúncias de corrupção que culminaram na crise política.

Representantes no Congresso
Paulo Okamotto, amigo do presidente -que foi durante dez anos diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e hoje é investigado por ter pago uma dívida de Lula sem ter demonstrado de onde retirou o dinheiro e foi acusado de fazer caixa dois para o PT (quando era tesoureiro do partido)-, diz ter atingido "plenamente" seus objetivos. "No Sebrae [ele ocupa o cargo de presidente], tenho ajudado a fortalecer o apoio aos pequenos negócios."
Ex-ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner, que vai disputar o governo da Bahia, acredita que o desempenho dos políticos tem de ser medido pelo trabalho em equipe.
"Não acredito em brilhos individuais. Como equipe, conseguimos adequar a destinação do dinheiro do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), alvo de várias denúncias no passado, e organizar a qualificação profissional de forma mais eficiente."
Pelo menos 44 ex-sindicalistas passaram pelos vários escalões do Executivo no governo Lula. A representação sindical dos trabalhadores no Congresso Nacional passou de 44 para 60 parlamentares de 2002 a 2003.
"Como a entrada de sindicalistas foi maior [no governo e no Congresso Nacional], os temas trabalhistas entraram para a agenda de discussões de forma mais intensa. Agora, dizer se a atuação do Executivo ou do Legislativo é mais eficiente, é outra discussão", afirma Cristiano Noronha, analista da consultoria política Arko Advice.
Para o deputado Luiz Antonio de Medeiros (PL-SP), ex-presidente da Força Sindical, o sindicato foi uma "preparação" para o parlamento. "Aqui, carro de som não conta. O que vale é a diplomacia, o jogo político." Para o trabalhador, Medeiros diz que ajudou a negociar as correções do FGTS.
Absolvido pela Câmara da acusação de envolvimento com o escândalo do mensalão, o deputado Professor Luizinho (PT-SP), que também integra a lista de denunciados da Procuradoria Geral da República, afirma que "os menos favorecidos estão recebendo uma fatia maior do bolo".
Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT-SP), afirma ter atingido seus objetivos ao deixar a CUT para se tornar deputado federal. "Meu objetivo era ser um de nós [trabalhadores] no meio deles [patrões e empresários]." "Apresentei mais de 40 projetos de lei [em benefício do trabalhador]."


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