|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crédito avança apesar de juro maior e IOF
Volume de empréstimos concedidos pelos bancos chega a 35,9% do PIB em março, a maior proporção desde janeiro de 95
Montante de R$ 992,7 bi é o maior da história, aponta Banco Central; pelo 3º mês consecutivo, juros médios cobrados voltaram a subir
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar da alta dos juros e do
aumento da carga de impostos
que incide sobre as operações
de crédito, o volume de empréstimos feitos pelos bancos
continua subindo. Em março, a
expansão de crédito atingiu o
maior nível da história, chegando a R$ 992,7 bilhões, valor que
equivale a 35,9% do PIB (Produto Interno Bruto), segundo o
Banco Central.
Desde janeiro de 1995 essa
proporção não atingia patamar
tão elevado. A expectativa do
BC é que essa relação chegue a
40% até o final do ano -o que,
apesar de recorde, continuaria
abaixo da média observada em
outros países emergentes, onde
a oferta de crédito chega a mais
de 60% do PIB.
Impulsionados pela alta na
carga de impostos que incide
sobre as operações de crédito,
os juros cobrados nos empréstimos bancários voltaram a subir no mês passado. Pesquisa
feita pelo Banco Central mostra que o custo médio de um financiamento passou de 37,4%
ao ano para 37,6% entre fevereiro e março. Foi o terceiro
mês seguido de alta.
Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir
Lopes, o motivo da alta dos juros é o aumento da alíquota de
IOF (Imposto sobre Operações
Financeiras) sobre operações
de crédito, instituído no início
do ano para compensar a perda
de arrecadação imposta ao governo pelo fim da CPMF.
Em abril, a alta do juro se
concentrou no financiamento a
empresas, segmento em que a
taxa média praticada pelos
bancos ficou em 26,5% ao ano,
contra 24,8% em fevereiro. Para pessoas físicas, ao contrário,
o custo de um empréstimo caiu
de 49,0% ao ano para 47,8%
-apesar de continuar acima
dos 43,9% de dezembro de
2007, antes da alta do IOF.
Segundo Lopes, a redução
nos juros para pessoas físicas
reflete a maior procura por empréstimos com desconto em folha de pagamento, que oferecem juros menores -o que colabora para a queda na taxa média calculada na pesquisa. No
caso das empresas, diz Lopes,
as taxas foram afetadas pelo
novo aumento no IOF promovido no mês passado, atingindo
as operações de financiamento
feitas com dinheiro que os bancos captam no exterior.
Mesmo com esses fatores favoráveis ao aumento dos juros,
Lopes diz que o crescimento da
economia, com seus efeitos positivos sobre a renda da população, continua fazendo com que
a procura por empréstimos se
mantenha elevada. "É uma expansão que se dá de forma bastante generalizada, em todas as
modalidades de crédito."
Já o economista Giuliano
Contento de Oliveira, professor
da PUC-SP, afirma que a tendência de expansão do crédito
pode ser afetada pela alta da taxa Selic esperada para os próximos meses. Neste mês, o Banco
Central já promoveu uma elevação de 0,5 ponto percentual
nos juros básicos da economia,
e a expectativa do mercado é a
de que novas altas ocorram nos
próximos meses.
Para Oliveira, uma alta da Selic vai estimular as instituições
financeiras a destinar um volume maior de recursos para aplicações em títulos públicos corrigidos por essa taxa, sobrando
menos dinheiro para ser destinado a empréstimos. "No Brasil, os bancos ganham tanto
com juros altos quanto com juros baixos", afirma.
O economista diz que o crescimento mais moderado do
crédito disponível no país deverá afetar também o ritmo de
crescimento do PIB. "Vai haver
algum impacto [no nível de atividade], até porque o desaquecimento do mercado de crédito
vai se somar à desaceleração da
economia mundial."
Números fechados pelo BC
no último dia 15 mostram que,
pelo menos neste mês, os sinais
continuam sendo de expansão
do crédito. Segundo esse levantamento parcial, o saldo de empréstimos ofertados pelos bancos cresceu 2,2% no período
em relação a março. Já os juros
praticados apresentaram um
recuo de 0,2 ponto percentual,
caindo para 37,4% ao ano.
Esses dados parciais mostram ainda uma queda da taxa
de juros, que passou, na média,
de 37,6% para 37,4% ao ano.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Governo tributa captações de banco no exterior Índice
|