São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 2008

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Crédito avança apesar de juro maior e IOF

Volume de empréstimos concedidos pelos bancos chega a 35,9% do PIB em março, a maior proporção desde janeiro de 95

Montante de R$ 992,7 bi é o maior da história, aponta Banco Central; pelo 3º mês consecutivo, juros médios cobrados voltaram a subir


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar da alta dos juros e do aumento da carga de impostos que incide sobre as operações de crédito, o volume de empréstimos feitos pelos bancos continua subindo. Em março, a expansão de crédito atingiu o maior nível da história, chegando a R$ 992,7 bilhões, valor que equivale a 35,9% do PIB (Produto Interno Bruto), segundo o Banco Central.
Desde janeiro de 1995 essa proporção não atingia patamar tão elevado. A expectativa do BC é que essa relação chegue a 40% até o final do ano -o que, apesar de recorde, continuaria abaixo da média observada em outros países emergentes, onde a oferta de crédito chega a mais de 60% do PIB.
Impulsionados pela alta na carga de impostos que incide sobre as operações de crédito, os juros cobrados nos empréstimos bancários voltaram a subir no mês passado. Pesquisa feita pelo Banco Central mostra que o custo médio de um financiamento passou de 37,4% ao ano para 37,6% entre fevereiro e março. Foi o terceiro mês seguido de alta.
Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, o motivo da alta dos juros é o aumento da alíquota de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre operações de crédito, instituído no início do ano para compensar a perda de arrecadação imposta ao governo pelo fim da CPMF.
Em abril, a alta do juro se concentrou no financiamento a empresas, segmento em que a taxa média praticada pelos bancos ficou em 26,5% ao ano, contra 24,8% em fevereiro. Para pessoas físicas, ao contrário, o custo de um empréstimo caiu de 49,0% ao ano para 47,8% -apesar de continuar acima dos 43,9% de dezembro de 2007, antes da alta do IOF.
Segundo Lopes, a redução nos juros para pessoas físicas reflete a maior procura por empréstimos com desconto em folha de pagamento, que oferecem juros menores -o que colabora para a queda na taxa média calculada na pesquisa. No caso das empresas, diz Lopes, as taxas foram afetadas pelo novo aumento no IOF promovido no mês passado, atingindo as operações de financiamento feitas com dinheiro que os bancos captam no exterior.
Mesmo com esses fatores favoráveis ao aumento dos juros, Lopes diz que o crescimento da economia, com seus efeitos positivos sobre a renda da população, continua fazendo com que a procura por empréstimos se mantenha elevada. "É uma expansão que se dá de forma bastante generalizada, em todas as modalidades de crédito."
Já o economista Giuliano Contento de Oliveira, professor da PUC-SP, afirma que a tendência de expansão do crédito pode ser afetada pela alta da taxa Selic esperada para os próximos meses. Neste mês, o Banco Central já promoveu uma elevação de 0,5 ponto percentual nos juros básicos da economia, e a expectativa do mercado é a de que novas altas ocorram nos próximos meses.
Para Oliveira, uma alta da Selic vai estimular as instituições financeiras a destinar um volume maior de recursos para aplicações em títulos públicos corrigidos por essa taxa, sobrando menos dinheiro para ser destinado a empréstimos. "No Brasil, os bancos ganham tanto com juros altos quanto com juros baixos", afirma.
O economista diz que o crescimento mais moderado do crédito disponível no país deverá afetar também o ritmo de crescimento do PIB. "Vai haver algum impacto [no nível de atividade], até porque o desaquecimento do mercado de crédito vai se somar à desaceleração da economia mundial."
Números fechados pelo BC no último dia 15 mostram que, pelo menos neste mês, os sinais continuam sendo de expansão do crédito. Segundo esse levantamento parcial, o saldo de empréstimos ofertados pelos bancos cresceu 2,2% no período em relação a março. Já os juros praticados apresentaram um recuo de 0,2 ponto percentual, caindo para 37,4% ao ano.
Esses dados parciais mostram ainda uma queda da taxa de juros, que passou, na média, de 37,6% para 37,4% ao ano.


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