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Câmara aprova aumento da tributação sobre bancos
Texto eleva cobrança de CSLL do setor, o que deve render R$ 2 bi ao governo neste ano
Outras medidas aprovadas afetam usinas de álcool e fabricantes de refrigerantes; deputados também mudam Imposto de Importação
GUSTAVO PATU
MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de duas semanas de
tentativas, o governo conseguiu aprovar ontem na Câmara
dos Deputados a medida provisória que eleva a tributação sobre os lucros dos bancos, cujos
valores têm batido recordes
nos últimos anos. Desde 2005,
o Congresso não aprova um aumento de impostos ou contribuições sociais.
A MP, que ainda precisa passar pelo Senado até a primeira
semana de junho, despertou
lobbies de mais de uma dezena
de setores e acabou sendo inflada para viabilizar sua votação: o
número de artigos passou de
19, no texto original do Executivo, para 42. A aprovação foi
simbólica, ou seja, sem contagem nominal de votos.
Com a medida, o governo
pretende recompor parte dos
R$ 38 bilhões em arrecadação
anual perdidos com a queda da
CPMF, a contribuição sobre
movimentação financeira cuja
prorrogação foi rejeitada no
ano passado pelos parlamentares. Calcula-se elevar a receita
em R$ 2 bilhões até dezembro
com o aumento de 9% para 15%
da alíquota da CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido) sobre os bancos e outras
instituições financeiras -a Câmara abriu uma exceção para
as Bolsas de Valores. A tarefa do
governo foi facilitada porque
boa parte da oposição não quis
arcar com o ônus político de defender o setor bancário.
Refrigerantes
O tema mais polêmico da votação acabou sendo o sucesso
de um lobby antigo no Congresso, o dos fabricantes de refrigerantes de baixo preço.
O pleito dos pequenos empresários foi parcialmente
atendido: a tributação, que
também afeta as cervejas, passará a levar em conta não apenas o volume mas também os
preços de mercado. Na opinião
do líder do DEM, Antônio Carlos Magalhães Neto (BA), a medida pode encarecer as bebidas.
Para facilitar a aprovação da
MP, o Executivo já havia acrescentado ao texto benefícios tributários para setores tão diferentes quanto turismo, infra-estrutura e transporte escolar.
Mas a Receita aproveitou a edição da medida, no início do ano,
para tentar estabelecer duas
inovações polêmicas com o objetivo declarado de combater a
sonegação -e ambas foram
desfiguradas pelos deputados.
A primeira foi a alteração do
Imposto de Importação sobre
produtos como bebidas alcoólicas, têxteis, calçados, móveis e
brinquedos. Em vez de um percentual sobre o preço, esses
produtos passariam a ser tributados por um valor fixo em
reais conforme a quantidade.
Comemorada pelos setores,
que sofrem com a concorrência
dos importados mais baratos, a
regra gerou irritação no próprio governo: os ministérios do
Desenvolvimento e das Relações Exteriores reclamaram,
nos bastidores, que o modelo
atual de tributação está acordado com os parceiros comerciais
do país. Para a Receita, porém,
as alíquotas percentuais estimulam o subfaturamento. Para
solucionar o impasse, o relator
da MP, Odair Cunha (PT-MG),
alterou o texto e simplesmente
autorizou o Executivo a definir
que produtos estarão sujeitos
ao novo cálculo do II.
Também mobilizou empresários e deputados a tributação
de PIS e Cofins estabelecida pela MP sobre o setor sucroalcooleiro, que passaria a ser feita exclusivamente sobre as usinas
produtoras -hoje, 25% da carga incide sobre as usinas, e 75%,
sobre os distribuidores. Acabou
prevalecendo um meio-termo:
os produtores passarão a arcar
com 40% das duas contribuições sociais.
"Acho que a pressão, o lobby
de diversos setores, é normal
em qualquer tipo de votação no
Congresso, mas sempre deixando claro que o interesse público tem que ser preservado",
disse o relator.
Foi prorrogada ainda, até
2012, a alíquota zero de PIS e
Cofins para a importação e a
venda de papel de imprensa.
Pela legislação, o benefício acaba exatamente hoje -ou até
que a produção interna atenda
80% do consumo.
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