São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 2008

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FGV prevê mais pressão dos alimentos no próximo mês

Alta no preço do arroz no atacado, por exemplo, não se refletiu ainda no varejo

IGP-M se desacelera para 0,69% neste mês, contra 0,74% em março; porém, no acumulado dos últimos 12 meses, é o maior desde 2005


TATIANA RESENDE
DA REDAÇÃO

Apesar da desaceleração neste mês, quando teve alta de 0,69%, contra 0,74% em março, o acumulado do IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado) nos últimos 12 meses (9,81%) é o mais alto registrado pela FGV (Fundação Getulio Vargas) desde abril de 2005.
Os produtos industriais, com forte influência dos alimentos processados, puxaram o IPA (Índice de Preços por Atacado), que tem o maior peso no índice (60%) e apresentou alta de 0,65% neste mês. No IPC (Índice de Preços ao Consumidor), que responde por 30% do IGP-M, houve aumento de 0,76%, com destaque para o item alimentação (1,76%).
Para Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da FGV, não é possível afirmar que o auge da inflação dos alimentos foi em 2007, pois há outros elementos de pressão nos preços, como compras especulativas e o fechamento de fronteiras. Neste mês, a Argentina voltou a suspender as exportações de trigo para o Brasil, que, por sua vez, apesar de tentar derrubar a medida do vizinho, proibiu por tempo indeterminado a exportação de arroz dos estoques públicos.
Apesar da expansão de 1,76% no item alimentação, há pressões que ainda não se refletiram na ponta, no bolso do consumidor. Um dos exemplos é o arroz, que teve variação de 12,08% neste mês na indústria, mas caiu 1,14% no varejo.

Demanda internacional
O produtor, no entanto, ainda não se beneficiou de toda a subida de preço com a elevação da demanda internacional. Em plena safra, o arroz em casca, que é vendido pelos agricultores à indústria, teve alta de 6,44% neste mês. Élcio Bento, analista da consultoria Safras & Mercado, considera que a tendência é a acomodação dos valores, não de grandes retrações. A saca de 50 kg vendida no Rio Grande do Sul, principal produtor de arroz do país, passou de R$ 22 (março) para R$ 32.
Os derivados de trigo também devem pressionar ainda mais a inflação nas próximas semanas. A farinha de trigo teve alta de 4,07%, e o pão francês, de 7,03% no varejo, enquanto, no atacado, o trigo teve aumento de 12,11% neste mês e acumula alta de 58,69% nos últimos 12 meses. "Esse aumento já considera a desvalorização do dólar", ressalta Quadros, acrescentando que, sem o efeito do câmbio, a expansão seria ainda maior. No período de um ano, a moeda teve depreciação de 16% em relação ao real.

Indústria
Os alimentos processados tiveram alta de 1,10%, com influência, além do arroz, de carne bovina (1,66%), leite industrializado (2,09%) e massas alimentícias (5,16%). Na outra ponta, puxando os preços no atacado para baixo, estavam os alimentos "in natura", que caíram 5,89% neste mês, com destaque para ovos (-16,43%) e feijão (-6,61%). Apesar da queda de 19,43% no ano, o feijão ainda acumula alta de 147,48% nos últimos 12 meses.
Adubos e fertilizantes, que também sentem os efeitos da crise dos alimentos, registraram uma das maiores altas entre os itens pesquisados no atacado, com variação de 16,32% neste mês, após aumento já elevado em março (9,28%).
Apesar de ter subido menos do que no mês passado (10,38%), o minério de ferro teve ainda forte expansão neste mês (5,49%).
Os preços que compõem o IGP-M foram coletados entre 21 de março e 20 de abril. Para o economista da LCA Consultores Raphael Castro, o índice deve fechar o ano na casa dos 10%. Ele ressalta ainda que, por causa da composição do IGP-M, há efeitos que sofrem dupla ou tripla contagem, como o arroz, cuja variação é observada em três momentos.
O INCC (Índice Nacional de Custo da Construção) completa os indicadores considerados no IGP-M, com o menor peso (10%). Em abril, teve variação de 0,82%, com a alta no grupo mão-de-obra. A aceleração foi conseqüência dos reajustes salariais em Salvador e no Rio de Janeiro. Em maio, o impacto deverá ser ainda maior com o reajuste em São Paulo.


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