São Paulo, sexta-feira, 30 de abril de 2010

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Cresce endividamento do consumidor em SP

Aumenta número de clientes com dívidas em mais de uma loja ou banco, diz associação comercial; prazo de financiamento também é maior

Entidade vê crescimento dos débitos nas classes de menor renda; inadimplência segue controlada, mas deverá avançar, diz economista

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Cresceu o número de consumidores com dívidas com mais de uma loja ou instituição financeira e aumentaram os prazos para quitar as prestações.
Pesquisa realizada pela Associação Comercial de São Paulo com consumidores que procuraram o balcão do SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito) mostra que, em março, de cada 100 pessoas com dívidas, 61 tinham débitos com mais de uma empresa. Em setembro do ano passado, eram 53 pessoas.
E os prazos de financiamento para pessoas físicas, que eram de 488 dias, em média, em março de 2009, subiram para 526 dias no mês passado, segundo dados do Banco Central.
O crescimento da renda, a facilidade para a obtenção de crédito e a expansão dos prazos de financiamento estimularam o aumento do endividamento.
Para a Associação Comercial, apesar de a inadimplência geral estar hoje em queda, a pesquisa revela que é hora de o lojista e o consumidor terem mais cautela, principalmente agora com o ciclo de alta de juros. Quanto maiores as taxas, maior a dificuldade de quitar os débitos.
"Esse dado é um sinal de alerta, já que o endividamento excessivo, com tendência de alta de juros, pode resultar no aumento da inadimplência daqui para a frente", diz Marcel Solimeo, economista da entidade.
Há indícios, segundo a associação, de que o aumento de consumidores com dívidas com mais de uma empresa esteja mais concentrado nas classes de menor renda. A estimativa é que nos últimos três anos 30 milhões de consumidores passaram a comprar a prazo.
Com base no banco de dados do SCPC, de cada 100 novos consumidores que compraram a prazo em agosto do ano passado, 8,4 ficaram inadimplentes em São Paulo. No caso dos que já compravam a prestações, 6,7 caíram em inadimplência.
"O que está ocorrendo é que um público que não tinha o costume de comprar a crédito passou a se endividar acima de sua capacidade financeira. Esse grupo ainda é pequeno, mas pode ter impacto na inadimplência total daqui para a frente", afirma Solimeo.

Alertas
Luiz Rabi, gerente de Indicadores de Mercado da Serasa Experian, prevê que a inadimplência deva voltar a subir já a partir do segundo semestre deste ano porque a renda mais comprometida e os juros mais altos podem resultar num desequilíbrio no orçamento dos novos consumidores.
O número de pessoas que procuraram crédito no mês passado, segundo a Serasa Experian, cresceu 18,3% em relação a fevereiro. Esse resultado fez o indicador de demanda do consumidor por crédito atingir recorde desde janeiro de 2007.
Sinal de que a inadimplência do consumidor pode voltar a subir, segundo ele, é o dado do BC que mostra a relação entre as dívidas de pessoas físicas vencidas entre 15 e 90 dias após a compra financiada -antes de ser considerada inadimplência- e o valor do crédito concedido para a aquisição de bens. As dívidas vencidas representavam 6,6% em janeiro, 7,2% em fevereiro e 7,7% em março. "Esse é um sinal que precede a inadimplência", afirma Rabi.
Rodrigo Del Claro, diretor da Crivo, empresa de software e serviços para decisão de crédito e análise de risco, afirma que os principais clientes, como instituições financeiras e redes de varejo, não registram alta da inadimplência, mas estão preocupados com o elevado endividamento da população e a tendência de alta dos juros nos próximos meses.
"É inegável que houve aumento do endividamento dos consumidores, mas é discutível se isso provocará alta da inadimplência. O endividamento das famílias não é problema se o horizonte é de expansão da renda", diz Fábio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores.


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