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LUÍS NASSIF
Os caminhos alternativosO momento político atual
tem um lado interessante.
O festival de denúncias que eclodiu nos últimos meses foi uma
antecipação das próximas eleições federais. Foi deflagrado pela crise na base aliada, que
abriu a possibilidade de uma
CPI, levando a uma reação que
desgastou ainda mais o governo
FHC. Com a crise de energia, esse desgaste chega a um ponto
agudo.
Ao chegar a esse ponto, passou
a obrigar os partidos de oposição a antecipar, também, as definições de seu próprio programa. E aí se cria um paradoxo
curioso.
FHC virou saco de pancadas,
especialmente depois que um fato concreto caiu sobre sua cabeça -a crise de energia. Com
justa razão, a opinião pública
quer sangue, estimula as críticas
e abre espaço para os "catárticos". Só que, na hora de analisar
as alternativas, o pensamento
"catártico" não serve mais, tem
que haver a proposta. E aí as
oposições se dividem. Será que a
opinião pública, ao rejeitar
FHC, estaria propensa a rejeitar
também o novo modelo de Estado que foi criado?
Para analisar as alternativas,
há que separar o governo FHC
em dois ângulos distintos -e
conflitantes. Numa ponta, há
esse novo modelo de Estado proposto, que tem avanços inegáveis sobre o modelo anterior,
nos itens eficácia, flexibilidade e
transparência -embora esteja
a anos-luz de distância de um
modelo ideal. Na outra ponta, a
maneira como foi implementado esse modelo -e aí FHC passa a se haver com seus demônios.
Embora no governo FHC houvesse recalcitrantes, a política
econômica adotada foi de uma
insensibilidade total, tanto em
relação a suas consequências sociais como econômicas. À incúria fiscal do primeiro governo
-fundada em taxas de juros escorchantes para sustentar um
câmbio inviável- seguiu-se o
arrocho fiscal do segundo,
criando uma situação visível de
empobrecimento da classe média.
Esse sacrifício imposto ao país
não era inevitável nem inerente
ao modelo. Decorreu do acomodamento do governo com a falsa
paz trazida pelo câmbio e, depois, do prolongamento da situação devido às eleições de
1998 e, especialmente, da extraordinária insensibilidade de
FHC em relação a seu povo. Poderia se ter chegado ao novo
modelo de Estado sem os enormes sacrifícios impostos ao conjunto da população e, especialmente, à classe média.
O grande dilema da oposição,
e que deverá determinar quem
será o futuro presidente da República, é como se situar ante
esses dois fenômenos. Para uma
parte o -PT-, os problemas
ocorridos são inerentes ao modelo de Estado proposto. Para
outra parte -o PPS-, os erros
decorreram da incompetência
do governo na condução da política econômica, e não de defeitos do novo modelo de Estado.
A questão básica é se a opinião pública quer apenas o fim
de FHC ou também do modelo
de Estado proposto. Será que
quer um aprimoramento do novo modelo ou a sua erradicação? Quem tiver a resposta certa
leva.
Na opinião de Roberto Freire,
presidente do PPS -partido de
Ciro Gomes-, FHC foi um
grande reformador do Estado,
mudou a face do país, mas cometeu um conjunto de erros indesculpáveis no plano econômico. O PPS se propõe a acertar
onde ele errou, sem alterar o que
ele acertou.
No PT, Lula optou, inicialmente, pelo tiroteio verbal em
cima de FHC. Nos últimos dias,
aconselhado por José Genoino e
José Dirceu, está se recolhendo,
fugindo do bate-boca. Mas o PT
terá, mais cedo do que imagina,
de explicitar sua política. Hoje
em dia, no site do PT, há a defesa do plebiscito sobre a dívida
externa, a auditoria da privatização. Essas propostas serão
mantidas na campanha?
Essa antecipação do debate
será fundamental para se avaliar se o país conseguirá passar
de um governo FHC para um
governo de esquerda sem voltar
aos velhos fantasmas da instabilidade permanente.
Internet: www.dinheirovivo.com.br
E-mail: lnassif@uol.com.br
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