São Paulo, quarta-feira, 30 de maio de 2001

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LUÍS NASSIF

Os caminhos alternativos

O momento político atual tem um lado interessante. O festival de denúncias que eclodiu nos últimos meses foi uma antecipação das próximas eleições federais. Foi deflagrado pela crise na base aliada, que abriu a possibilidade de uma CPI, levando a uma reação que desgastou ainda mais o governo FHC. Com a crise de energia, esse desgaste chega a um ponto agudo.
Ao chegar a esse ponto, passou a obrigar os partidos de oposição a antecipar, também, as definições de seu próprio programa. E aí se cria um paradoxo curioso.
FHC virou saco de pancadas, especialmente depois que um fato concreto caiu sobre sua cabeça -a crise de energia. Com justa razão, a opinião pública quer sangue, estimula as críticas e abre espaço para os "catárticos". Só que, na hora de analisar as alternativas, o pensamento "catártico" não serve mais, tem que haver a proposta. E aí as oposições se dividem. Será que a opinião pública, ao rejeitar FHC, estaria propensa a rejeitar também o novo modelo de Estado que foi criado?
Para analisar as alternativas, há que separar o governo FHC em dois ângulos distintos -e conflitantes. Numa ponta, há esse novo modelo de Estado proposto, que tem avanços inegáveis sobre o modelo anterior, nos itens eficácia, flexibilidade e transparência -embora esteja a anos-luz de distância de um modelo ideal. Na outra ponta, a maneira como foi implementado esse modelo -e aí FHC passa a se haver com seus demônios.
Embora no governo FHC houvesse recalcitrantes, a política econômica adotada foi de uma insensibilidade total, tanto em relação a suas consequências sociais como econômicas. À incúria fiscal do primeiro governo -fundada em taxas de juros escorchantes para sustentar um câmbio inviável- seguiu-se o arrocho fiscal do segundo, criando uma situação visível de empobrecimento da classe média.
Esse sacrifício imposto ao país não era inevitável nem inerente ao modelo. Decorreu do acomodamento do governo com a falsa paz trazida pelo câmbio e, depois, do prolongamento da situação devido às eleições de 1998 e, especialmente, da extraordinária insensibilidade de FHC em relação a seu povo. Poderia se ter chegado ao novo modelo de Estado sem os enormes sacrifícios impostos ao conjunto da população e, especialmente, à classe média.
O grande dilema da oposição, e que deverá determinar quem será o futuro presidente da República, é como se situar ante esses dois fenômenos. Para uma parte o -PT-, os problemas ocorridos são inerentes ao modelo de Estado proposto. Para outra parte -o PPS-, os erros decorreram da incompetência do governo na condução da política econômica, e não de defeitos do novo modelo de Estado.
A questão básica é se a opinião pública quer apenas o fim de FHC ou também do modelo de Estado proposto. Será que quer um aprimoramento do novo modelo ou a sua erradicação? Quem tiver a resposta certa leva.
Na opinião de Roberto Freire, presidente do PPS -partido de Ciro Gomes-, FHC foi um grande reformador do Estado, mudou a face do país, mas cometeu um conjunto de erros indesculpáveis no plano econômico. O PPS se propõe a acertar onde ele errou, sem alterar o que ele acertou.
No PT, Lula optou, inicialmente, pelo tiroteio verbal em cima de FHC. Nos últimos dias, aconselhado por José Genoino e José Dirceu, está se recolhendo, fugindo do bate-boca. Mas o PT terá, mais cedo do que imagina, de explicitar sua política. Hoje em dia, no site do PT, há a defesa do plebiscito sobre a dívida externa, a auditoria da privatização. Essas propostas serão mantidas na campanha?
Essa antecipação do debate será fundamental para se avaliar se o país conseguirá passar de um governo FHC para um governo de esquerda sem voltar aos velhos fantasmas da instabilidade permanente.


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