São Paulo, domingo, 30 de maio de 2004

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ANÁLISE

Ação da Opep pode não saciar demanda mundial

DO "FINANCIAL TIMES"

A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) planeja esfriar os preços do petróleo com uma proposta de suspensão de seu sistema de cotas -um dos pilares básicos da política do cartel petroleiro mundial-, mas isso talvez não seja suficiente para acompanhar a atual demanda mundial pelo produto, que vem subindo em seu ritmo mais rápido em 16 anos.
Uma pessoa próxima à Opep informou que uma suspensão temporária das cotas era uma das questões que constam da agenda para a próxima reunião da organização, em Beirute (Líbano), nesta semana.
A idéia será discutida inicialmente na reunião do subcomitê ministerial de acompanhamento, na quarta-feira de manhã, na capital libanesa. Se aprovada, será debatida na reunião entre os ministros do Petróleo da Opep, no dia seguinte.
"Se é isso o que o mercado deseja, nós faremos a recomendação. Só estamos tentando trazer ordem e estabilidade aos preços do petróleo", disse a fonte.
Ainda que a sugestão tenha sido especialmente bem recebida pelos países consumidores de petróleo, ela também suscita novas preocupações.
Se a Opep, que responde por cerca de 38% da produção mundial de petróleo, vai trabalhar em máxima capacidade ao longo do trimestre em curso, quando a demanda é relativamente baixa, surge a questão de como o pico de demanda sazonal do quarto trimestre poderá ser enfrentado.
"Não podemos resolver todo o problema dos preços elevados para o petróleo. Precisamos de ajuda dos demais produtores e dos países consumidores, que devem moderar a sua demanda", disse a pessoa familiarizada com a Opep. "Nós estamos muito surpresos com a força da demanda da China", completou.

Previsão
A AIE (Agência Internacional de Energia), que fiscaliza o setor de energia mundial sob os auspícios da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), prevê que a demanda mundial de petróleo atingirá os 82,5 milhões de barris ao dia no último trimestre de 2004, ante a projeção de 78,7 milhões de barris ao dia no trimestre em curso.
"Se a Opep começar a produzir em capacidade máxima agora, e precisarmos de mais 4 milhões de barris ao dia no final do ano, não creio que possamos obtê-los dessa fonte", disse Ghraham Sharp, diretor de operações de petróleo da Trafigura (multinacional da área de energia e metais).
Os comentários de Viktor Khristenko, um dos principais funcionários do setor de energia do governo russo, nesta semana, oferecem pouco consolo para a Opep ou para os mercados mundiais de petróleo.
Ele disse que as exportações e o abastecimento interno de petróleo russos estavam enfrentando sérios gargalos. A duplicação das exportações russas de petróleo, nos últimos seis anos, acomodou dois terços do crescimento de quase 7 milhões de barris ao dia registrado pela demanda mundial no período.

Resultado
As tentativas da Opep para esfriar os preços tiveram efeito, com o preço norte-americano de referência para o petróleo cru caindo em quase 5% ante o seu pico de US$ 41,72 por barril, na segunda-feira, e fechando na sexta-feira a US$ 39,88 em Nova York.
Mas as preocupações quanto à capacidade da oferta para atender à procura, no futuro, mantiveram os preços próximos dos US$ 40 por barril.
A Opep também propôs aumentar suas contas entre 2 milhões e 2,5 milhões de barris diários, ante o teto atual de 23,5 milhões de barris ao dia, que continua abaixo da produção efetiva da organização, da ordem de 25,8 milhões de barris diários.
A AIE estima que a capacidade sustentável de produção de petróleo da Opep fique pouco abaixo dos 28 milhões de barris diários.


Tradução de Paulo Migliacci


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