São Paulo, terça-feira, 30 de maio de 2006

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China passa a ter superávit com o Brasil

Déficit brasileiro chega a US$ 90 mi de janeiro a abril, contra saldo positivo de US$ 191 mi no mesmo período de 2005

Aquecimento no mercado de eletrônicos impulsiona importações, enquanto país segue exportando produtos básicos ao mercado chinês

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil trocou o sinal em seu comércio com a China e registrou déficit de US$ 90 milhões entre janeiro e abril, mês em que o país asiático superou a Argentina e assumiu o segundo lugar entre os maiores fornecedores do Brasil no mercado internacional. No mesmo período de 2005, a balança teve superávit de US$ 191,62 milhões.
Os números são resultado do aumento das importações em ritmo quase duas vezes superior ao das exportações do Brasil para a China. Entre janeiro e abril, as compras do país asiático subiram 55,7%, para US$ 2,24 bilhões, enquanto as vendas tiveram expansão de 32,14%, para US$ 2,15 bilhões.
A alta das importações em velocidade superior à das exportações é um movimento que começou em 2004, manteve-se em 2005, mas só agora parece levar a uma inversão mais duradoura da vantagem comercial que o Brasil registrou com a China desde 2001.
O setor eletroeletrônico é o principal responsável pelo aumento do peso do país asiático nas importações brasileiras, em conseqüência de dois fenômenos paralelos.
Como resultado do processo de globalização, um número crescente de fábricas norte-americanas, européias, japonesas e de outros países se instala na China e, de lá, exportam para o restante do mundo. Além disso, cresce a importação de produtos que têm preços mais competitivos que os brasileiros, principalmente na área de eletroportáteis.
O presidente da Eletros, Paulo Saab, diz que a entrada de produtos chineses está levando ao desaparecimento da produção nacional em alguns setores, como secadores de cabelo, sanduicheiras e torradeiras. Outra área afetada é a de ferros elétricos, que viu as compras da China subirem de 300 mil para 1,3 milhão de unidades em 2004.
A Eletros, que considera a situação "preocupante", está realizando um levantamento do impacto das importações da China sobre todo o setor.
Mas a maior parte dos produtos eletroeletrônicos que o Brasil compra do país asiático não é fabricada nacionalmente e seria importada de qualquer maneira -se não da China, de outros países.
Dados da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) mostram que o Brasil comprou da China US$ 905 milhões em produtos eletroeletrônicos entre janeiro e março de 2006, o que equivale a 56% das importações totais do país asiático.
Desses US$ 905 milhões, 59% (US$ 531,6 milhões) se referem a componentes dos quais o Brasil tem uma dependência estrutural de importações. São chips ou semicondutores que não são fabricados nacionalmente. É por isso que o governo colocou na negociação da escolha do padrão de TV digital o compromisso de construção de uma fábrica de chips no Brasil.
Depois dos componentes, aparecem as utilidades domésticas eletrônicas, que englobam os produtos que poderiam ser fabricados nacionalmente, como TVs, aparelhos de som e os secadores, torradeiras e sanduicheiras citados por Saab.
Nos primeiros quatro meses do ano, a compra desses produtos da China subiu 100%, para US$ 109,7 milhões.
A Abinee avalia que a tendência é de aumento de importações no restante do ano, já que a expectativa é a de aquecimento da economia. Quando o país cresce mais, expande-se a demanda por bens do exterior, que são destinados ao consumo final ou à fabricação de produtos acabados, que serão vendidos no mercado interno ou exportados. O real valorizado também favorece as importações.
Renato Amorim, secretário-executivo do Conselho Empresaria Brasil-China, avalia que o Brasil poderá recuperar a vantagem na balança comercial com a China a partir deste mês, com o aumento dos embarques de soja. "Eu estaria preocupado se as exportações estivessem em queda", afirma.
O aumento do peso da China reforça as diferenças nas pautas exportadoras na relação bilateral. Enquanto a China reforça sua posição de exportadora de bens de alto valor agregado, o Brasil se mantém como grande vendedor de bens primários, como soja e minério de ferro - 62% das vendas do ano.


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