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China passa a ter superávit com o Brasil
Déficit brasileiro chega a US$ 90 mi de janeiro a abril, contra saldo positivo de US$ 191 mi no mesmo período de 2005
Aquecimento no mercado de eletrônicos impulsiona importações, enquanto país segue exportando produtos básicos ao mercado chinês
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil trocou o sinal em seu
comércio com a China e registrou déficit de US$ 90 milhões
entre janeiro e abril, mês em
que o país asiático superou a
Argentina e assumiu o segundo
lugar entre os maiores fornecedores do Brasil no mercado internacional. No mesmo período de 2005, a balança teve superávit de US$ 191,62 milhões.
Os números são resultado do
aumento das importações em
ritmo quase duas vezes superior ao das exportações do Brasil para a China. Entre janeiro e
abril, as compras do país asiático subiram 55,7%, para US$
2,24 bilhões, enquanto as vendas tiveram expansão de
32,14%, para US$ 2,15 bilhões.
A alta das importações em
velocidade superior à das exportações é um movimento que
começou em 2004, manteve-se
em 2005, mas só agora parece
levar a uma inversão mais duradoura da vantagem comercial que o Brasil registrou com a
China desde 2001.
O setor eletroeletrônico é o
principal responsável pelo aumento do peso do país asiático
nas importações brasileiras,
em conseqüência de dois fenômenos paralelos.
Como resultado do processo
de globalização, um número
crescente de fábricas norte-americanas, européias, japonesas e de outros países se instala
na China e, de lá, exportam para o restante do mundo. Além
disso, cresce a importação de
produtos que têm preços mais
competitivos que os brasileiros, principalmente na área de
eletroportáteis.
O presidente da Eletros, Paulo Saab, diz que a entrada de
produtos chineses está levando
ao desaparecimento da produção nacional em alguns setores,
como secadores de cabelo, sanduicheiras e torradeiras. Outra
área afetada é a de ferros elétricos, que viu as compras da China subirem de 300 mil para 1,3
milhão de unidades em 2004.
A Eletros, que considera a situação "preocupante", está realizando um levantamento do
impacto das importações da
China sobre todo o setor.
Mas a maior parte dos produtos eletroeletrônicos que o Brasil compra do país asiático não
é fabricada nacionalmente e seria importada de qualquer maneira -se não da China, de outros países.
Dados da Abinee (Associação
Brasileira da Indústria Elétrica
e Eletrônica) mostram que o
Brasil comprou da China US$
905 milhões em produtos eletroeletrônicos entre janeiro e
março de 2006, o que equivale a
56% das importações totais do
país asiático.
Desses US$ 905 milhões,
59% (US$ 531,6 milhões) se referem a componentes dos quais
o Brasil tem uma dependência
estrutural de importações. São
chips ou semicondutores que
não são fabricados nacionalmente. É por isso que o governo
colocou na negociação da escolha do padrão de TV digital o
compromisso de construção de
uma fábrica de chips no Brasil.
Depois dos componentes,
aparecem as utilidades domésticas eletrônicas, que englobam
os produtos que poderiam ser
fabricados nacionalmente, como TVs, aparelhos de som e os
secadores, torradeiras e sanduicheiras citados por Saab.
Nos primeiros quatro meses
do ano, a compra desses produtos da China subiu 100%, para
US$ 109,7 milhões.
A Abinee avalia que a tendência é de aumento de importações no restante do ano, já que a
expectativa é a de aquecimento
da economia. Quando o país
cresce mais, expande-se a demanda por bens do exterior,
que são destinados ao consumo
final ou à fabricação de produtos acabados, que serão vendidos no mercado interno ou exportados. O real valorizado
também favorece as importações.
Renato Amorim, secretário-executivo do Conselho Empresaria Brasil-China, avalia que o
Brasil poderá recuperar a vantagem na balança comercial
com a China a partir deste mês,
com o aumento dos embarques
de soja. "Eu estaria preocupado
se as exportações estivessem
em queda", afirma.
O aumento do peso da China
reforça as diferenças nas pautas exportadoras na relação bilateral. Enquanto a China reforça sua posição de exportadora de bens de alto valor agregado, o Brasil se mantém como
grande vendedor de bens primários, como soja e minério de
ferro - 62% das vendas do ano.
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