São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2008

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Fitch dá grau de investimento ao Brasil

Bovespa cai 1,85% no dia em que 2ª grande agência de risco dá selo de bom pagador ao país, o que já havia sido antecipado pelo mercado

Para analistas, momento desfavorável de crise internacional pode atrasar entrada de investidores estrangeiros no Brasil


TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Menos de um mês depois de a agência de classificação de risco Standard & Poor's conceder o chamado grau de investimento para o Brasil, a concorrente Fitch Ratings também decidiu reconhecer o país como um local seguro para investimentos financeiros. O selo de qualidade, em tese, abre as portas para investidores com políticas conservadoras, como grandes fundos de pensão americanos, aplicarem em papéis do governo e de empresas brasileiras.
Longamente antecipado pelos mercados, o "upgrade" atribuído pela Fitch à melhora na situação fiscal e nas contas externas foi recebido com sabor de "déjà vu". Diferentemente da euforia vista com o primeiro grau de investimento, há um mês, a Bovespa fechou ontem em baixa de 1,85% -chegou a subir 1,05%-, num dia positivo nos mercados internacionais.
Shelly Shetty, diretora-sênior da Fitch, atribui a melhora na avaliação à solidez das contas externas e fiscais, além do compromisso com a estabilidade econômica tanto das autoridades do governo quanto dos atores do cenário político.
"A alta do "rating" reflete uma melhora dramática das contas externas e fiscal do Brasil, que tem reduzido a vulnerabilidade em relação aos choques externos e cambiais... As autoridades têm estabelecido um caminho de compromisso com a inflação baixa e com o superávit primário, que vêm eliminando as antigas preocupações sobre a sustentabilidade fiscal", afirmou a Fitch em nota.
Para Fernando Blumenschein, da FGV Projetos, o selo da Fitch dá mais um aval à relativa solidez da situação fiscal do país, mas o cenário externo de crise pode diminuir seu efeito benéfico, já embutido na maioria dos preços de papéis brasileiros. "Há três anos, estudos já diziam que o Brasil teria grau de investimento em 2008 ou 2009. Isso antecipou decisões de investimento", disse.
"O "upgrade" não foi exatamente uma surpresa, daí a recepção do mercado. Não acho que isso abra as portas para uma enxurrada de dinheiro, até porque a crise internacional secou o dinheiro dos bancos e dos investidores. E, depois, a decisão de [um fundo] investir leva um tempo", disse o economista Cristiano Souza, do Banco Real.
A Fitch lembra que a melhora das contas externas é resultado em parte da alta dos preços das commodities, além do resultados da "boa gerência" de políticas macroeconômicas.
Vista como mais conservadora, a Moody's, a terceira das grandes agências de risco, ainda deve demorar um pouco para elevar o Brasil ao grau de investimento. Em comunicado, Mauro Leos, da Moody's, reiterou que a questão fiscal é determinante: "O panorama para o risco soberano do Brasil depende das perspectivas de melhora tanto das finanças do governo quanto do perfil da dívida pública, que reduziria as atuais vulnerabilidades e garantiria convergência dos indicadores para níveis condizentes com o grau de investimento".
A referência da Fitch ao ambiente político estável chamou a atenção de acadêmicos e do mercado. Autor de um estudo sobre as agências, o economista José Luiz Rossi, do Ibmec-SP, disse que elas estão de olho na questão política, apesar de priorizarem a situação fiscal. Para ele, tanto a S&P quanto a Fitch se sensibilizaram mais do que a Moody's com a diminuição da vulnerabilidade externa do país desde que o país passou a acumular reservas acima de sua dívida externa, em janeiro.
"A Moody's está mais preocupada com o aspecto fiscal, que ainda deixa a desejar. Fatores políticos pesam na avaliação, mas houve uma melhora tão grande nas contas externas que as agências tiveram que dar o grau de investimento", disse.
O advogado José Eduardo Carneiro Queiroz, sócio do escritório Mattos Filho, disse que sentiu aumento nas consultas de investidores estrangeiros procurando oportunidades no país. "Vemos uma série de grupos procurando informações sobre o país. São investidores financeiros, que procuram comprar participação em empresas ou mesmo iniciar um negócio. Mas o momento de crise internacional pode atrasar esses negócios", disse.


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