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Câmbio reduz dívida de empresa em R$ 33 bi
Com moeda cotada a R$ 1,97, companhias poderão eliminar parte das perdas financeiras, afirma Economática
Impacto do dólar na dívida
chega a ser maior do que o
lucro das empresas no 1º
trimestre sem impostos
e despesas financeiras
DA REPORTAGEM LOCAL
A alta do dólar foi responsável pela maioria das perdas financeiras das empresas no ano
passado. Com a moeda americana de novo abaixo de R$ 2, a
variação cambial deverá agora
motivar ganhos superiores até
aos obtidos na própria atividade operacional.
Estudo da consultoria Economática mostra que o dólar
cotado a R$ 1,97 por um período constante permitiria a 133
empresas com ações em Bolsa
uma redução de R$ 33,254 bilhões no endividamento em
moeda estrangeira na comparação com o total do final do
primeiro trimestre. Desde o final de março até ontem, o dólar
caiu quase 15%.
O montante chega a ser superior ao lucro de R$ 27,673 bilhões que essas mesmas companhias tiveram no primeiro
trimestre de 2009, se forem
desconsideradas as despesas financeiras -juros e dólar- e o
pagamento de impostos.
Segundo a pesquisa, os setores com maior impacto da variação cambial na dívida são os
de mineração (R$ 5,197 bilhões), siderurgia (R$ 4,876 bilhões), prestadoras de serviços
de eletricidade, água e gás (R$
4,015 bilhões), papel e celulose
(R$ 3,69 bilhões) e alimentos
(R$ 3,69 bilhões).
No caso do setor de papel e
celulose, a variação da dívida
em dólares já chega a R$ 3,69
bilhões -sete vezes os ganhos
operacionais de R$ 503 milhões antes de impostos e despesas financeiras no primeiro
trimestre. O mesmo acontece
com o setor de alimentos, cuja
variação na dívida soma
R$ 3,176 bilhões, e os ganhos,
R$ 391 milhões.
Se o dólar seguir em menos
de R$ 2 até o final de junho, a
maioria dessas empresas poderá computar em seus balanços
ganhos financeiros relevantes,
que poderão inflar os lucros no
segundo trimestre.
Derivativo tóxico
Para analistas, empresas que,
em tese, pudessem ter esperado o dólar voltar aos patamares
vistos antes do agravamento da
crise para desmontar operações de hedge [proteção] cambial poderiam ter praticamente
zerado as perdas financeiras
em seus balanços. Mas não foi o
que aconteceu com a maioria
das companhias, que se viram
forçadas a desfazerem operações de hedge porque tinham
que cumprir cronogramas de
pagamentos.
Com exceção do grupo Votorantim, que não teria negociado formalmente o desmonte de
operações de hedge, a maioria
dos outras empresas teve de
gastar dinheiro para neutralizar sua exposição ao risco cambial em momentos com cotações desfavoráveis.
Segundo o economista Fabio
da Paz, especialista em hedge
[proteção] cambial do Insper
(ex-Ibmec-SP), as empresas
que tiveram problemas com
derivativos tinham compromissos periódicos, que se tornaram imprevisíveis quando o
dólar disparou no fim de 2008.
Foi o caso da Sadia, que teve
de empenhar US$ 650 milhões,
ainda em setembro, para neutralizar dois contratos de hedge
pouco antes de o dólar bater R$
2. Logo depois, a empresa foi
procurando oportunidades para fazer operações que reduzissem gradativamente sua exposição ao câmbio. Em 2008, a Sadia teve resultado financeiro líquido negativo de R$ 3,9 bilhões. Sob a justificativa de estar em período de silêncio, em
razão do negócio com a Perdigão, não comentou o caso.
"O impacto do dólar foi brutal no balanço das empresas. As
que tinham que fazer algum pagamento previsto nos contratos de derivativo foram forçadas a procurar neutralizá-los.
Poucas tinham condições de
esperar o dólar voltar. E também era apostar no imponderável. O dólar poderia tanto voltar
quanto continuar subindo",
disse Paz.
(TONI SCIARRETTA)
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