São Paulo, sábado, 30 de maio de 2009

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Câmbio reduz dívida de empresa em R$ 33 bi

Com moeda cotada a R$ 1,97, companhias poderão eliminar parte das perdas financeiras, afirma Economática

Impacto do dólar na dívida chega a ser maior do que o lucro das empresas no 1º trimestre sem impostos e despesas financeiras

DA REPORTAGEM LOCAL

A alta do dólar foi responsável pela maioria das perdas financeiras das empresas no ano passado. Com a moeda americana de novo abaixo de R$ 2, a variação cambial deverá agora motivar ganhos superiores até aos obtidos na própria atividade operacional.
Estudo da consultoria Economática mostra que o dólar cotado a R$ 1,97 por um período constante permitiria a 133 empresas com ações em Bolsa uma redução de R$ 33,254 bilhões no endividamento em moeda estrangeira na comparação com o total do final do primeiro trimestre. Desde o final de março até ontem, o dólar caiu quase 15%.
O montante chega a ser superior ao lucro de R$ 27,673 bilhões que essas mesmas companhias tiveram no primeiro trimestre de 2009, se forem desconsideradas as despesas financeiras -juros e dólar- e o pagamento de impostos.
Segundo a pesquisa, os setores com maior impacto da variação cambial na dívida são os de mineração (R$ 5,197 bilhões), siderurgia (R$ 4,876 bilhões), prestadoras de serviços de eletricidade, água e gás (R$ 4,015 bilhões), papel e celulose (R$ 3,69 bilhões) e alimentos (R$ 3,69 bilhões).
No caso do setor de papel e celulose, a variação da dívida em dólares já chega a R$ 3,69 bilhões -sete vezes os ganhos operacionais de R$ 503 milhões antes de impostos e despesas financeiras no primeiro trimestre. O mesmo acontece com o setor de alimentos, cuja variação na dívida soma R$ 3,176 bilhões, e os ganhos, R$ 391 milhões.
Se o dólar seguir em menos de R$ 2 até o final de junho, a maioria dessas empresas poderá computar em seus balanços ganhos financeiros relevantes, que poderão inflar os lucros no segundo trimestre.

Derivativo tóxico
Para analistas, empresas que, em tese, pudessem ter esperado o dólar voltar aos patamares vistos antes do agravamento da crise para desmontar operações de hedge [proteção] cambial poderiam ter praticamente zerado as perdas financeiras em seus balanços. Mas não foi o que aconteceu com a maioria das companhias, que se viram forçadas a desfazerem operações de hedge porque tinham que cumprir cronogramas de pagamentos.
Com exceção do grupo Votorantim, que não teria negociado formalmente o desmonte de operações de hedge, a maioria dos outras empresas teve de gastar dinheiro para neutralizar sua exposição ao risco cambial em momentos com cotações desfavoráveis.
Segundo o economista Fabio da Paz, especialista em hedge [proteção] cambial do Insper (ex-Ibmec-SP), as empresas que tiveram problemas com derivativos tinham compromissos periódicos, que se tornaram imprevisíveis quando o dólar disparou no fim de 2008.
Foi o caso da Sadia, que teve de empenhar US$ 650 milhões, ainda em setembro, para neutralizar dois contratos de hedge pouco antes de o dólar bater R$ 2. Logo depois, a empresa foi procurando oportunidades para fazer operações que reduzissem gradativamente sua exposição ao câmbio. Em 2008, a Sadia teve resultado financeiro líquido negativo de R$ 3,9 bilhões. Sob a justificativa de estar em período de silêncio, em razão do negócio com a Perdigão, não comentou o caso.
"O impacto do dólar foi brutal no balanço das empresas. As que tinham que fazer algum pagamento previsto nos contratos de derivativo foram forçadas a procurar neutralizá-los. Poucas tinham condições de esperar o dólar voltar. E também era apostar no imponderável. O dólar poderia tanto voltar quanto continuar subindo", disse Paz. (TONI SCIARRETTA)


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