São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRISE NO CAMPO

Após protesto, agricultores devem ter R$ 3 bi de crédito para financiar dívidas, mas eles querem mais medidas

Acuado, governo volta a ceder a ruralistas

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pressionado pelos ruralistas, que ontem trouxeram confusão ao trânsito de Brasília com um "tratoraço", o governo cedeu mais um pouco nas negociações para concessão de novos créditos e prorrogação de dívidas do setor agrícola. As medidas, anunciadas à tarde, foram consideradas insuficientes pelos produtores e uma nova reunião chegou a ser marcada para o início da noite.
No final da tarde, porém, com a radicalização do movimento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu não receber os ruralistas. Nova reunião foi marcada para a manhã de hoje, no Ministério da Agricultura, apenas com os ministros Roberto Rodrigues (Agricultura) e Antônio Palocci (Fazenda).
Lideranças ruralistas chegaram no final de semana a Brasília, onde organizam, desde terça-feira, um "tratoraço" na Esplanada dos Ministérios. A manifestação provocou confusão no trânsito da área, onde fica o Palácio do Planalto, local de trabalho do presidente da República, o Congresso Nacional, o STF (Supremo Tribunal Federal) e os ministérios.
A principal medida anunciada ontem pelo governo -linha de crédito de R$ 3 bilhões, repassada pelo BNDES, para financiar dívidas com fornecedores de insumos- ainda não estava totalmente acertada. Os recursos são do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e, para serem usados na linha de crédito anunciada, precisam da aprovação do conselho curador do fundo.
O valor liberado ontem ficou abaixo dos R$ 5 bilhões pedidos pelos ruralistas. A linha de crédito só será usada se a indústria fornecedora de insumos aceitar pagar parte do custo do refinanciamento. O BNDES emprestará o dinheiro cobrando cerca de 14,5% (TJLP mais 4%). O produtor, porém, só pagará juros de 8,75%.
A diferença no custo do empréstimo terá de ser paga pelos credores dos produtores rurais. O governo ficou de conversar com a indústria para convencê-la a aceitar o acordo.
O anúncio das medidas foi feito pelo ministro Rodrigues. Ele justificou o pacote ao explicar que houve uma "crise de renda dramática" na agricultura. As causas da crise, segundo o ministro, são: aumento dos custos de produção, redução dos preços dos produtos (arroz, milho, trigo, soja e algodão), desvalorização do dólar em relação ao real (produtores compraram insumos com dólar a R$ 3 e estão vendendo produtos com dólar a R$ 2,5) e a seca.
Além do empréstimo do BNDES, o governo anunciou a intenção de reavaliar os bens que foram dados como garantias na renegociação de dívidas antigas. O objetivo é liberar os bens para serem usados pelos agricultores em novos empréstimos.

Exigências
Hoje, os ruralistas vão tentar que o governo ceda em dois pontos considerados por eles importantes. Um deles, no entanto, conta com a objeção direta do Ministério da Fazenda: o aumento do preço mínimo da saca de 50 quilos de arroz. Os produtores querem que o preço suba de R$ 23 para R$ 25. A Fazenda argumenta, por sua vez, que a medida teria impacto inflacionário.
Outro foco de divergência entre governo e ruralistas é o pedido dos agricultores de suspensão da execução das dívidas antigas que foram renegociadas -estimadas em R$ 300 milhões. O governo criou um grupo de trabalho para analisar a prorrogação das dívidas para os agricultores que estavam em dia até dezembro de 2004.
Os agricultores querem que, enquanto o grupo de trabalho não apresente uma proposta, a dívida não seja cobrada. Para o governo, a legislação não permite isso.
Os ruralistas também querem adiar para 2006 o pagamento das parcelas que vencem entre julho e setembro dos empréstimos tomados para custeio da safra 2004/ 2005. O governo argumenta que, se aceitar, não terá dinheiro para financiar a safra 2005/2006.


Texto Anterior: Mercado aberto
Próximo Texto: "Tratoraço" vira protesto na frente do Congresso
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.