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País reduz impostos para os sacoleiros
Medida provisória define alíquota única de 25% para importação do Paraguai; impostos, se pagos, chegam a até 42%
Sacoleiros pedem redução maior, indústria critica
e vê agrado ao Paraguai, e tributarista vê "legalização do contrabando"
FERNANDO NAKAGAWA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo anunciou novo
sistema para importação de
produtos do Paraguai. Para formalizar o trabalho dos sacoleiros, compras feitas no país vizinho vão ser tributadas com alíquota única de 25% e haverá limite anual de importação, que
deve ficar entre R$ 120 mil e R$
150 mil. O modelo foi criticado
pela indústria nacional e pelos
próprios sacoleiros.
Ao apresentar o novo regime,
a Receita Federal deixou claro
que espera que sacoleiros optem pelo sistema ao comparar
custos e riscos da atividade.
"Acho que eles vão preferir pagar 25% de imposto a perder
100% em caso de fiscalização
quando entram sem declarar",
disse o secretário-adjunto da
Receita Carlos Alberto Barreto,
ao lembrar que o fisco apreendeu US$ 1 bilhão em mercadorias que entraram ilegalmente
no Brasil em 2006.
O novo sistema vai criar alíquota única para quatro tributos: Impostos de Importação,
IPI (Imposto sobre Produtos
Industrializados), PIS e Cofins.
Somados, eles podem chegar ao
máximo de 42,25%. A média,
no entanto, é de 25,25%, próxima do novo regime. Mesmo
com a diferença pequena -de
0,25 ponto-, a Receita diz que
a vantagem do novo sistema está na desburocratização.
Já o chanceler brasileiro,
Celso Amorim, disse na Cúpula
do Mercosul, em Assunção, que
a MP reduzirá o contrabando e
atende a reivindicação paraguaia. Foi anunciada um dia depois de o Paraguai vetar a elevação de alíquota a produtos chineses proposta pelo Brasil.
Barreto observa que o percentual poderá mudar por decisão do Executivo. Isso aconteceria se, por exemplo, for observado que os produtos importados têm tributação muito
superior aos 25%. Ele também
afirma que um quinto tributo
poderia ser incluído, o estadual
ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
Para isso, é necessário acordo
com Estados.
Para aderir ao sistema, sacoleiros terão de abrir uma microempresa no Simples -sistema simplificado de tributação.
Com a empresa aberta, compras feitas no Paraguai serão
incluídas eletronicamente em
programa da Receita Federal e
que será fornecido ao país vizinho. Feita a conferência das
mercadorias na aduana, o imposto será pago na hora.
A Receita espera que o regime comece a operar em 90 dias.
O modelo apresentado recebeu críticas dos dois principais
envolvidos. "Para os sacoleiros,
os números estão longe da realidade. Se for para pagar 25%,
acho que muita gente vai preferir continuar correndo o risco
de perder a mercadoria", diz o
secretário-geral da Associação
de Sacoleiros de Foz do Iguaçu,
Walter de Barros Negrão, ao
lembrar que associados já haviam aceitado pagar 10%.
Ele criticou ainda o limite de
R$ 150 mil. "Esse valor é muito
alto para quem atua sozinho."
A medida também desagradou à indústria eletroeletrônica, um dos principais prejudicados com os produtos do Paraguai. O presidente da Abinee
(representante do setor), Humberto Barbato, classifica a MP
380 -que criou o sistema- como a "MP do mal".
A Abinee acusa o governo de
ter criado o sistema como resposta às reclamações de políticos paraguaios. Isso teria acontecido, segundo Barbato, após a
queda das vendas nas cidades
fronteiriças depois de ação
mais rigorosa da Receita.
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