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EUA ficam sem "via rápida" para negociações comercais
Bush perde permissão especial para fazer tratados
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Apesar de só vencer oficialmente às 23h59 de hoje, a autorização especial que o Congresso norte-americano dá ao presidente para agilizar a negociação de tratados comerciais foi
cassada de fato. Quinta-feira
assistiu à última sessão do Legislativo dos EUA antes do recesso pelo feriado de 4 de Julho, e a Autoridade para Promoção Comercial (TPA, na sigla em inglês) não fez parte da
pauta de votação.
Ainda que estivesse, não seria renovada. Desde que a oposição democrata assumiu o
controle do Congresso, em janeiro, o governo do republicano George W. Bush encontra
dificuldades em fazer passar
sua agenda comercial. E a TPA,
também chamada de "fast-track", ou "pista expressa", é
instrumento fundamental para
isso, ao garantir que os acordos
comerciais assinados pelo Executivo serão aprovados ou rejeitados na íntegra pelo Legislativo, sem emendas.
A não-renovação pode prejudicar diversos parceiros comerciais dos EUA, inclusive o Brasil. É amparada por essa autoridade especial do presidente
que a secretária do Comércio
Exterior (USTr, na sigla em inglês), Susan Schwab, negocia a
Rodada Doha. Sem ela, suas
discussões ficarão ainda mais
complicadas do que estão, pois
eventual acordo na OMC (Organização Mundial do Comércio) seria rediscutido pelo Legislativo dos EUA.
Nos últimos dias, a Casa
Branca colocou suas tropas na
rua atrás de uma aprovação de
última hora, que não veio. Da
secretária de Estado, Condoleezza Rice, aos secretários do
Tesouro, Henry Paulson, e do
Comércio, Carlos Gutierrez,
passando pela própria Susan
Schwab, todos soltaram declarações nas últimas 24 horas
conclamando o Congresso à renovação.
"Nossos trabalhadores não
se podem dar o luxo de colocarmos uma placa de "fechado para
negócios" em nossa porta", disse Schwab, que minimizou o
virtual fracasso da Rodada Doha -no dia 21, Brasil e Índia se
retiraram das negociações com
o chamado G4, formado também pelos EUA e a União Européia, em Potsdam, na Alemanha. "Mais de 100 acordos bilaterais estão em andamento
com nossos parceiros comerciais atualmente."
Em vão. Em declaração conjunta, a presidente do Congresso, Nancy Pelosi, e o representante Charles Rangel, que comanda a comissão que lida com
questões comerciais, disseram
ontem que as prioridades legislativas "não incluem a renovação" da TPA. "Antes que o debate comece", afirmam os democratas, "nós temos de estender os benefícios da globalização a todos os americanos."
Para Joel Velasco, vice-presidente da consultoria Stonebridge International, várias são
as razões para a não-renovação
do "fast-track". "Uma, obviamente, é a onda protecionista
dos extremos dos dois partidos,
que é a mesma que derrubou a
reforma nas leis de imigração
nesta semana", disse à Folha.
Outra seria a falta de força do
governo Bush em seu próprio
partido, representada pelas dificuldades recentes de conseguir aprovar acordos já assinados com Coréia do Sul, Colômbia e Peru. Mas a mais importante, para Velasco, é o que
chama de "tragédia de Potsdam". "Com Brasil e Índia saindo das negociações de Doha, o
USTr perdeu moral perante o
Congresso."
Bush recebeu a TPA em
2002 e a teve estendida por
mais dois anos em 2005, quando seu partido era maioria.
Desde 1975, apenas outro presidente teve o privilégio cassado: o democrata Bill Clinton,
em 1994.
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