São Paulo, sexta-feira, 30 de julho de 2004

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INVERSÃO RETÓRICA

Analistas acham difícil que juros voltem a cair neste ano

Juros futuros sobem após ata do BC

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A divulgação da ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) trouxe uma dose extra de cautela ao mercado. Agora poucos afirmam ver possibilidade de os juros básicos voltarem a cair neste ano.
A resposta do mercado financeiro veio por meio da elevação das projeções dos juros futuros. A taxa no contrato DI -que considera as taxas praticadas nas operações entre bancos- com vencimento daqui a um ano subiu de 17,09% para 17,38%. No contrato com resgate em janeiro de 2005, o mais negociado no pregão da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), a taxa foi de 16,42% para 16,54%.
A maior cautela dos investidores fez a Bolsa de Valores de São Paulo puxar o freio de mão. A Bovespa até conseguiu subir, mas pouco: 0,27%. O dólar recuou 0,56%, a R$ 3,037, acima do valor em que era vendido há dez dias.
Para o banco Bradesco, a possibilidade de elevação da taxa básica da economia (Selic) é remota.
"A manutenção da taxa de juros será suficiente para controlar as expectativas de inflação e permitir que a de 2005 fique relativamente próxima do centro da meta e dentro do intervalo de tolerância", diz em relatório o Bradesco, que espera manutenção da Selic em 16% até o fim do ano.
Marcelo Salomon, economista-chefe do Unibanco, diz que o BC reforçou na ata o fato de que tem "instrumentos e pode utilizá-los se achar necessário". Ou seja, sempre há a possibilidade de o Banco Central elevar os juros básicos se entender que há riscos de pressões inflacionárias mais consistentes.
"Mas acho que as expectativas de inflação vão recuar. Com isso, vejo possibilidade de até haver redução na taxa básica de juros no último bimestre, fazendo com que a Selic encerre o ano em 15,5%", afirma Salomon.

Expectativas
A sinalização de uma alta dos juros por parte do Banco Central na ata divulgada ontem era necessária para conter o pessimismo em relação ao comportamento da inflação, de acordo com analistas de mercado ouvidos pela Folha.
Para o economista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, a piora nas expectativas para a inflação justifica a sinalização de alta na taxa de juros dada ontem pelo BC.
"As empresas não podem acreditar que o BC vai aceitar uma inflação mais alta", disse.
Para Lintz, a inflação registrada nos últimos meses não chega a ser preocupante, mas a piora nas expectativas pode fazer com que as empresas reajustem seus preços num ritmo acima do esperado -esse movimento seria contido com as afirmações feitas ontem pelo BC.
"A sinalização da ata do Copom pode ter sido uma tentativa de fazer um aperto do lado da curva de juros futuros", diz o economista-chefe do Citibank, Carlos Kawall. Ou seja, a própria possibilidade de que o BC pode elevar os juros deve fazer com que as taxas praticadas no mercado se elevem, o que já teria algum efeito sobre a inflação.
Para a Modal Asset, "essa foi a ata mais dura de toda a gestão do atual BC" e, apesar de ser "muito improvável", a hipótese de elevação de juros "não deve ser desprezada".
Em relatório distribuído ontem, a LCA Consultores disse que cortes nos juros só são esperados a partir do segundo trimestre do ano que vem. Por outro lado, para a consultoria "o BC só irá elevar a taxa básica de juros se as expectativas inflacionárias para 2005 "desgarrarem", na direção de 6%". As projeções de inflação para o próximo ano têm oscilado em torno dos 5,5%.
Dessa forma, de acordo com a LCA, "o Banco Central deverá ir se equilibrando no fio da navalha, mantendo a Selic em 16% durante um bom tempo".


Com a Sucursal de Brasília

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