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VIZINHO EM CRISE
Celebridades assinam texto em que pedem que a renegociação da dívida não colabore para elevar a pobreza
Argentina paga anúncio contra credores
CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES
RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK
O governo argentino iniciou
uma cruzada internacional a fim
de angariar apoio contra as pressões do FMI (Fundo Monetário
Internacional) e credores para
que aumente a oferta do pagamento da dívida pública, em moratória desde dezembro de 2001, e
para convencer a comunidade internacional de que o país age de
boa-fé nas negociações. As adesões incluem o ex-presidente da
União Soviética Mikhail Gorbatchov e de Bono Vox, vocalista do
U2.
O Ministério das Relações Exteriores pretende publicar anúncios
assinados por várias personalidades internacionais em jornais importantes nos Estados Unidos, da
Europa e da Ásia, domicílios de
emissão de 60% dos títulos em
"default". O primeiro foi publicado ontem no "New York Times" e
no "Financial Times".
O anúncio é uma espécie de
abaixo-assinado com a adesão de
artistas, políticos, economistas e
Prêmios Nobel de várias partes do
mundo, que defendem que os termos da renegociação da dívida argentina não colaborem para aumentar a pobreza no país.
Sob o título "Argentina: um país
responsável, uma proposta responsável", 148 personalidades
aderiram à campanha. No anúncio, há 26 personalidades. Além
de Gorbatchov e de Bono, que lidera uma campanha internacional para o perdão da dívida dos
países pobres, assinam, entre outros, o ex-premiê italiano Massimo D'Alema, a ex-presidente da
Nicarágua Violeta Chamorro, a
atriz inglesa Emma Thompson, o
escrito Gabriel García Márquez, o
enxadrista Anatoly Karpov e o sociólogo francês Alain Touraine.
O trabalho de busca de adesões
do Ministério das Relações Exteriores argentino começou em
março. O ex-presidente da África
do Sul e Prêmio Nobel Nelson
Mandela recusou o convite para
assinar o abaixo-assinado, mas
enviou uma carta em que diz
apoiar os esforços de liderança da
Argentina, mas por meio de suas
próprias iniciativas.
Preço
De acordo com o "New York Times", um espaço como o comprado pela chancelaria argentina
custa entre US$ 50 mil e US$ 70
mil. O anúncio ocupa mais da
metade da parte inferior da página 10 do primeiro caderno (seção
internacional). A chancelaria argentina não divulgou os custos.
Segundo o Ministério de Relações Exteriores da Argentina, os
próximos anúncios serão publicados no "El País" (Espanha) e no
"Telegraph", do Reino Unido.
O texto que antecede as assinaturas diz que "é necessário entender a realidade argentina e a dívida social do país para que se possa
compreender a dificuldade enfrentada pelo governo na renegociação de sua dívida".
Está escrito ainda que o superávit fiscal praticado pelo país em
2003 foi de 3% do PIB, "superior
aos 2,5% acertados com o FMI".
"Qualquer aumento no esforço
fiscal ignoraria a realidade social
da Argentina: 50% da população
vive abaixo da linha de pobreza e
15% está desempregada."
A conclusão é a seguinte: "A
proposta sincera e realista da Argentina a seus credores deve ser
entendida dentro desse contexto,
levando em consideração a perspectiva histórica de um país em
desenvolvimento e a realidade social de seus habitantes".
Negociações
O FMI está pressionando para
que o governo argentino inicie
uma nova rodada de negociações
com os credores. O Fundo quer
incluir no memorando da terceira
revisão do acordo de US$ 14 bilhões assinado em setembro do
ano passado que as negociações
não foram encerradas.
O presidente Néstor Kirchner
insiste em que a oferta apresentada no mês passado é a última e está dentro da capacidade de pagamento do país. A Argentina ofereceu um desconto de 75% sobre o
valor nominal da dívida (de US$
81,2 bilhões), mas aceita quitar
parte dos juros, o que, dependendo da adesão dos credores, poderá totalizar pagamentos de mais
de US$ 100 bilhões.
O Comitê Global, que reúne boa
parte dos credores internacionais,
reclamou e propôs que o desconto seja de 45%. O FMI espera mais
flexibilidade da Argentina.
Além disso, o organismo de crédito quer a Argentina reveja os
contratos com as empresas privatizadas, ou seja, promova um reajuste de tarifas públicas, a maior
parte congelada desde quando o
país abandonou o regime de câmbio fixo, em dezembro de 2001.
Em entrevista ao jornal "Financial Times", o diretor-gerente do
FMI, Rodrigo Rato, disse que "é
muito importante que a Argentina apresse as reformas estruturais, que é parte do acordo de três
anos assinado em setembro".
O FMI terminou a terceira revisão do acordo há três semanas. A
equipe deixou o país elogiando os
resultados macroeconômicos. O
país cumpriu em maio a meta de
superávit fiscal fixada para todo o
ano, mas o Fundo criticou a falta
de reformas estruturais.
O último desembolso, de US$
728 milhões, foi feito em março,
depois da segunda revisão. Com o
atraso na aprovação da terceira
revisão, o governo teve que usar
US$ 883 milhões das reservas internacionais para pagar a parcela
de empréstimos com Fundo, de
acordo com a agência de notícias
Bloomberg.
O Ministério da Economia da
Argentina já espera apenas para
setembro o resultado da revisão,
quando termina o recesso de verão do FMI.
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