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Espanha recomenda a latinos
adaptação ao "rigor neoliberal"
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A SANTANDER
O ministro de Relações Exteriores da Espanha, Miguel Ángel
Moratinos, dá um conselho aos
países latino-americanos: "É preciso matizar o rigor neoliberal
com programas de coesão social".
É uma guinada profunda em relação às posições do anterior governo espanhol, chefiado pelo
conservador José María Aznar,
ardente adepto do chamado Consenso de Washington, o receituário neoliberal.
Moratinos é ministro do socialista José Luis Rodríguez Zapatero, no cargo há apenas três meses
e ainda tateando nas relações com
a América Latina, por mais que
elas sejam definidas como estratégicas para a Espanha, muito mais
na retórica do que nos fatos.
Moratinos deu o seu conselho
ao abrir seminário promovido
pelo Grupo Santander sob o rótulo otimista de "Espanha-América
Latina - O melhor está por vir".
O ministro até diz concordar
com o slogan, mas sua avaliação
não é exatamente otimista.
"Ainda vemos em muitos países
[da América Latina] uma fragilidade democrática preocupante."
Depois, engatou conhecidos dados sobre pobreza e desigualdade
na região, para aconselhar:
"O pior não são as cifras; o pior é
que elas se registram depois que
muitos desses países fizeram um
esforço sério de ajuste, nas linhas
do Consenso de Washington, e
aplicaram extremo rigor neoliberal".
O novo discurso do governo espanhol parece ter contagiado suas
grandes empresas. Mesmo depois
que Moratinos havia deixado a sala, a questão social continuou freqüentando a retórica.
"Melhor distribuição de riqueza
e mais coesão social são intrinsecamente benéficas para as empresas", disse José Maria Álvarez Paillete, presidente-executivo da
"Telefónica Latino-Americana",
com 100 milhões de clientes.
Argentina
O discurso mudou até em relação à Argentina, país cuja crise arrastou as empresas espanholas e
provocou uma tormenta entre o
presidente Néstor Kirchner e empresários espanhóis.
Agora, Álvarez Paillete lembra
que a crise fez a Espanha perder o
equivalente a 0,8% de seu PIB (pelos prejuízos provocados para
suas empresas), que o colapso argentino foi duas vezes mais grave
que o paradigma mundial de crises (a norte-americana de 1929),
mas ainda assim emenda: "É preciso muita coragem para recuperar-se de uma crise assim, e o governo o está fazendo".
Já Francisco Luzón, responsável
por América Latina em outro gigante espanhol, o grupo Santander, desmente o discurso catastrofista sobre as conseqüências
que tem uma moratória. Diz que
o Santander, embora vítima também da crise argentina, agora "lidera" o esforço pela recuperação.
"Somos os que mais crescimento tivemos na concessão de créditos", diz Luzón.
Todos repetem um mantra colocado por Luzón (Santander):
"Não somos investidores estrangeiros; somos brasileiros no Brasil; somos argentinos na Argentina".
Se a retórica coincidir com a
realidade, é até possível que o slogan do seminário ("o melhor está
por vir") de fato se concretize.
O jornalista Clóvis Rossi viajou a Santander a convite do grupo Santander
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