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LUIZ GONZAGA BELLUZZO
Um novo Bretton Woods?
Para Bretton Woods, a
estabilidade do câmbio e dos
juros era fundamental para
decidir sobre investimentos
DIANTE DOS desequilíbrios globais e do agravamento dos
riscos financeiros, não faltam o que propõem a realização de
um "novo Bretton Woods". Como é
de conhecimento geral, a conferência convocada para a pequena cidade americana de Bretton Woods
cuidou de debater, em 1944, a construção de uma arquitetura financeira internacional capaz de impedir as
desgraças que assolaram o mundo
nos anos 30. As estrelas do conclave
foram o americano Dexter White e o
economista inglês John Maynard
Keynes.
Essencialmente, a reforma monetária que Keynes apresentou nos estertores da Segunda Guerra Mundial foi a seguinte: o dinheiro internacional seria simplesmente uma
moeda de conta, ou seja, os países
trocariam mercadoria por mercadoria e o dinheiro seria simplesmente
uma moeda de cálculo. Os déficits e
superávits seriam escriturados nas
contas da Clearing Union. Os países
superavitários seriam estimulados a
aumentar suas importações e obrigados, com taxas de juros módicas, a
financiar os déficits dos demais. Os
países sistematicamente deficitários estariam sujeitos a processos de
ajustamento comandados pela
Clearing Union.
Keynes pretendia impedir os movimentos de capitais de curto prazo.
Estava convencido de que o dinheiro internacional, pela experiência
dos anos 20, tinha de ser administrado publicamente; não seria prudente deixar aos mercados a tarefa
de prover liquidez e regular o ajustamento dos países que porventura tivessem um déficit na balança de pagamentos.
Para os reformadores de Bretton
Woods, a estabilidade do câmbio e
dos juros era fundamental para a tomada de decisão de produção e de
investimento numa economia capitalista. Esses são os dois preços-chave de uma economia capitalista porque "informam" a temperatura do
ambiente em que os capitalistas são
obrigados a tomar decisões.
A incerteza quanto aos movimentos da taxa de juros estimula o detentor de riqueza a manter o seu capital sob a forma líquida e o afasta da
decisão de gastá-lo em equipamentos e estruturas de ferro e tijolo que
só vão permitir a recuperação do dinheiro ao longo do tempo. A estabilidade da taxa de câmbio nominal é
importante porque seu movimento
informa qual é a conveniência de
manter a riqueza na moeda local ou
encarná-la no dinheiro mundial. Se,
porventura, a taxa de câmbio real
flutua sem parar ou está sobrevalorizada, a decisão de investir nas exportações ou na produção de bens
que concorrem com as importações
torna-se uma aventura perigosa que
nem mesmo os espíritos animais
podem encarar.
LUIZ GONZAGA BELLUZZO , 63, é professor titular de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos
do Ministério da Fazenda (governo Sarney) e secretário de
Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo (governo
Quércia).
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