São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 2008

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Indústria e setor agrícola lamentam fracasso na OMC

Para a Fiesp, sucesso da Rodada Doha favoreceria as reformas estruturais no país

Representantes do agronegócio observam oportunidade de "melhorias internas" para avançar no comércio internacional

PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
GITÂNIO FORTES
DA REDAÇÃO

Antes um acordo modesto do que nenhum. Dessa forma, representantes da indústria e do agronegócio lamentaram o fracasso da Rodada Doha. Ainda que viesse a arcar com os maiores custos do acordo multilateral, a indústria viu o impasse na OMC como uma oportunidade perdida para que ela própria -com ajuda do governo- fizesse a "lição de casa" para melhorar sua competitividade.
O corte nas tarifas de importação e a inclusão de acordos setoriais que permitissem aos países desenvolvidos ganhar mercado no Brasil preocupavam o setor industrial.
Mesmo assim, as concessões poderiam significar ganho de produtividade nos próximos anos, à medida que tornariam a realização de reformas estruturais mais premente, diz Mário Marconini, diretor de negociações internacionais da Fiesp.
Julio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, diz que "haveria um custo grande [para a indústria]. Mas precisamos olhar para a economia como um todo. Nesse sentido, [o fracasso de Doha] é uma péssima notícia".
Mais reticente, o presidente da Abinee (indústria elétrica e eletrônica), Humberto Barbato, diz que um acordo poderia ser "danoso" para o segmento.
O novo impasse na OMC deixou lições importantes para a diplomacia brasileira, que acertou ao ser flexível para tentar concluir as negociações e não aceitar "o retrocesso" defendido por China e Índia.

Aprendizado
Uma delas: não pôr todas as fichas nas negociações multilaterais. Segundo o presidente da Anfavea (associação das montadoras), Jackson Schneider, o setor precisa trabalhar em novas negociações bilaterais.
Outra lição: conhecer a opinião dos chineses, que se aliaram aos indianos num confronto que impediu ganhos, mesmo que tímidos, para emergentes competitivos no mercado agrícola, caso do Mercosul.
A esperança de corte de subsídios e maior acesso de produtos brasileiros em uma série de países entram agora "numa geladeira bem grande", diz Gilman Viana Rodrigues, secretário de Agricultura de Minas Gerais e presidente da Comissão Nacional de Comércio Exterior da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
"Agora é olhar para a frente", diz Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína.
"O país não deveria ter deixado as negociações bilaterais de lado", diz Cesário Ramalho, da Sociedade Rural Brasileira.
Para Marcos Matos, da gerência de mercados da Organização das Cooperativas Brasileiras, é essencial que, quando se retomar a pauta da OMC, se parta do ponto em que as negociações em Genebra travaram.
Segundo Camargo Neto, o Brasil tem como avançar com "melhorias internas". Ele cita a sanidade como ponto a ser trabalhado. Se o Brasil erradicar a febre aftosa, por exemplo, terá como acessar os mercados de EUA e Japão para a carne "in natura" de suínos e de bovinos.


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