São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 2002

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EM TRANSE

Para vencedor do Nobel, país tem condições de evitar colapso, mas isso dependerá dos investidores internacionais

Brasil está nas mãos do mercado, diz Stiglitz

SUSAN SCHNEIDER
DA REUTERS

A economia brasileira tem condições de atravessar a atual crise financeira, mas as chances de o país evitar uma moratória dependem dos caprichos do mercado. A análise é do economista norte-americano Joseph Stiglitz, um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Economia do ano passado.
Stiglitz, que já foi economista-chefe do Banco Mundial e que acaba de lançar o livro "Globalização e Seus Malefícios", afirmou que os fundamentos da economia brasileira são bons, graças às reformas que ampliaram a arrecadação de impostos e propiciaram ao governo superávits primários.
Mas será a confiança dos investidores -ou a falta dela- que determinará se o Brasil resistirá aos meses de turbulência que envolvem o período eleitoral, disse Stiglitz.
"Há todos os motivos para que o país saia dessa crise, mas está nas mãos do mercado. E o problema é que é muito difícil prever com exatidão o que o mercado fará", disse Stiglitz.
Os investidores de Wall Street temem que, se o real continuar se desvalorizando, o Brasil seguirá o desastroso caminho do calote, como a Argentina. "Aqueles de nós que olhamos para os indicadores nos sentimos razoavelmente confiantes em que o país conseguirá [sair da crise", os juros vão cair e o Brasil conseguirá", disse.
O economista afirmou que não vê motivos para preocupação caso a oposição vença a eleição presidencial. "Não importa quem assuma o governo, [o novo presidente" deverá continuar pagando [a dívida", porque será viável economicamente", disse. "Nenhum governo, se puder escolher, prefere a turbulência. Há um certo grau de conservadorismo mesmo no mais liberal dos governos."

Argentina
Para Stiglitz, mesmo sob pressão dos mercados o Brasil está em uma situação bastante diferente da que enfrentava a Argentina. Segundo o economista, o colapso argentino se deveu sobretudo ao regime de paridade do peso como o dólar (um por um), que vigorou por dez anos. Só agora, oito meses depois de o país ter abandonado a conversibilidade e adotado o câmbio flutuante, há algum sinal de atividade na Argentina, disse o economista.
"A boa notícia é que as piores previsões não se confirmaram", afirmou Stiglitz, destacando que o país não mergulhou na hiperinflação e a produção industrial dá sinais de ter se estabilizado.
Stiglitz afirmou que, em certa medida, o caso argentino fez com que o FMI (Fundo Monetário Internacional) reformulasse algumas de suas idéias a respeito de como ajudar países em crise financeira.
Em seu livro mais recente, o economista acusa o FMI de ter imposto um receituário inadequado aos países asiáticos durante a crise de 1997, o que só agravou a situação.


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