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EM TRANSE
Para vencedor do Nobel, país tem condições de evitar colapso, mas isso dependerá dos investidores internacionais
Brasil está nas mãos do mercado, diz Stiglitz
SUSAN SCHNEIDER
DA REUTERS
A economia brasileira tem condições de atravessar a atual crise
financeira, mas as chances de o
país evitar uma moratória dependem dos caprichos do mercado. A
análise é do economista norte-americano Joseph Stiglitz, um dos
ganhadores do Prêmio Nobel de
Economia do ano passado.
Stiglitz, que já foi economista-chefe do Banco Mundial e que
acaba de lançar o livro "Globalização e Seus Malefícios", afirmou
que os fundamentos da economia
brasileira são bons, graças às reformas que ampliaram a arrecadação de impostos e propiciaram
ao governo superávits primários.
Mas será a confiança dos investidores -ou a falta dela- que
determinará se o Brasil resistirá
aos meses de turbulência que envolvem o período eleitoral, disse
Stiglitz.
"Há todos os motivos para que
o país saia dessa crise, mas está
nas mãos do mercado. E o problema é que é muito difícil prever
com exatidão o que o mercado fará", disse Stiglitz.
Os investidores de Wall Street
temem que, se o real continuar se
desvalorizando, o Brasil seguirá o
desastroso caminho do calote, como a Argentina. "Aqueles de nós
que olhamos para os indicadores
nos sentimos razoavelmente confiantes em que o país conseguirá
[sair da crise", os juros vão cair e o
Brasil conseguirá", disse.
O economista afirmou que não
vê motivos para preocupação caso a oposição vença a eleição presidencial. "Não importa quem assuma o governo, [o novo presidente" deverá continuar pagando
[a dívida", porque será viável economicamente", disse. "Nenhum
governo, se puder escolher, prefere a turbulência. Há um certo grau
de conservadorismo mesmo no
mais liberal dos governos."
Argentina
Para Stiglitz, mesmo sob pressão dos mercados o Brasil está em
uma situação bastante diferente
da que enfrentava a Argentina.
Segundo o economista, o colapso
argentino se deveu sobretudo ao
regime de paridade do peso como
o dólar (um por um), que vigorou
por dez anos. Só agora, oito meses
depois de o país ter abandonado a
conversibilidade e adotado o
câmbio flutuante, há algum sinal
de atividade na Argentina, disse o
economista.
"A boa notícia é que as piores
previsões não se confirmaram",
afirmou Stiglitz, destacando que o
país não mergulhou na hiperinflação e a produção industrial dá
sinais de ter se estabilizado.
Stiglitz afirmou que, em certa
medida, o caso argentino fez com
que o FMI (Fundo Monetário Internacional) reformulasse algumas de suas idéias a respeito de como ajudar países em crise financeira.
Em seu livro mais recente, o economista acusa o FMI de ter imposto um receituário inadequado aos países asiáticos durante a crise de 1997, o que só agravou a situação.
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