São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 2002

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VIZINHO EM TRANSE

Instituição admite que questões políticas travam conversas; nova missão vai ao país na semana que vem

Para FMI, acordo com Argentina é "difícil"

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

O FMI (Fundo Monetário Internacional) considera que continua "muito difícil" fechar um acordo com a Argentina e admitiu pela primeira vez que questões políticas travam as negociações.
Assim como analistas argentinos, o Fundo entende que o governo não consegue "consenso político" para avançar na implementação das exigências necessárias para assinar o acordo.
"É uma situação muito, muito difícil. Não há um consenso político sobre como avançar", disse, em Washington, o porta-voz do Fundo, Thomas Dawson.
O FMI, no entanto, não foi tão pessimista quanto alguns analistas, que consideram o presidente Eduardo Duhalde muito fraco -ele só tem 0,42% de aprovação popular, segundo pesquisa recente- e prevêem que não haverá acordo até o término de seu mandato, em maio de 2003.
Dawson disse apenas que "ainda não se chegou a um ponto para fixar um calendário" para a conclusão das negociações. O porta-voz afirmou ainda que os "assuntos pendentes" estão "distribuídos por todas as partes". "Na área monetária, na área bancária e em alguns aspectos da parte legislativa claramente há assuntos importantes por resolver", afirmou.

Sem resposta
O porta-voz esclareceu que não haverá uma resposta formal do Fundo ao esboço de carta de intenções enviado a Washington pelo ministro Roberto Lavagna (Economia) há duas semanas. O governo argentino ganhou só um elogio de Dawson: ter conseguido a "estabilização fiscal".
No entanto, o Fundo considera que dois projetos aprovados pelo Congresso há 15 dias -que impedem os bancos de corrigir empréstimos pela inflação e de se apropriar de bens de devedores inadimplentes- abalaram a confiança na Argentina, que vai necessitar de uma "supervisão constante".
Por isso, será enviada uma nova missão do FMI à Argentina na próxima semana para discutir a política monetária. O país ainda não resolveu a questão da fuga de depósitos bancários por meio de processos judiciais. Logo, não consegue dar um fim gradual ao "corralito" (nome dado ao congelamento dos depósitos vigente desde dezembro).

Empurra-empurra
Ontem, a Corte Suprema se recusou a analisar processo que poderia declarar constitucional o "corralito" e resolver o problema. Os juízes não devem ajudar o governo enquanto o projeto que tramita na Câmara e pode levar ao impeachment dos nove magistrados não for engavetados. Os deputados governistas tentarão derrubar o projeto no dia 5, em sessão extraordinária.
Duhalde tentou minimizar as palavras de Dawson, que foi considerado "apenas um porta-voz". "Todas as semanas há notícias de que sim e de que não [sobre o acordo"", disse.
No entanto, ele concordou que as dificuldades políticas atrapalham as negociações e culpou os candidatos à Presidência pela desconfiança do Fundo. "Os candidatos falam da boca para fora que não querem o acordo. Mas eles terão que decidir se querem ou não sentar-se à mesa com outras nações do mundo."
O presidente procurou ressaltar os avanços e disse que a inflação deve ficar em apenas 2,2% em agosto, o que mostra que os preços estão controlados.


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