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VIZINHO EM TRANSE
Instituição admite que questões políticas travam conversas; nova missão vai ao país na semana que vem
Para FMI, acordo com Argentina é "difícil"
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
O FMI (Fundo Monetário Internacional) considera que continua
"muito difícil" fechar um acordo
com a Argentina e admitiu pela
primeira vez que questões políticas travam as negociações.
Assim como analistas argentinos, o Fundo entende que o governo não consegue "consenso
político" para avançar na implementação das exigências necessárias para assinar o acordo.
"É uma situação muito, muito
difícil. Não há um consenso político sobre como avançar", disse,
em Washington, o porta-voz do
Fundo, Thomas Dawson.
O FMI, no entanto, não foi tão
pessimista quanto alguns analistas, que consideram o presidente
Eduardo Duhalde muito fraco
-ele só tem 0,42% de aprovação
popular, segundo pesquisa recente- e prevêem que não haverá
acordo até o término de seu mandato, em maio de 2003.
Dawson disse apenas que "ainda não se chegou a um ponto para
fixar um calendário" para a conclusão das negociações. O porta-voz afirmou ainda que os "assuntos pendentes" estão "distribuídos por todas as partes". "Na área
monetária, na área bancária e em
alguns aspectos da parte legislativa claramente há assuntos importantes por resolver", afirmou.
Sem resposta
O porta-voz esclareceu que não
haverá uma resposta formal do
Fundo ao esboço de carta de intenções enviado a Washington
pelo ministro Roberto Lavagna
(Economia) há duas semanas. O
governo argentino ganhou só um
elogio de Dawson: ter conseguido
a "estabilização fiscal".
No entanto, o Fundo considera
que dois projetos aprovados pelo
Congresso há 15 dias -que impedem os bancos de corrigir empréstimos pela inflação e de se
apropriar de bens de devedores
inadimplentes- abalaram a confiança na Argentina, que vai necessitar de uma "supervisão constante".
Por isso, será enviada uma nova
missão do FMI à Argentina na
próxima semana para discutir a
política monetária. O país ainda
não resolveu a questão da fuga de
depósitos bancários por meio de
processos judiciais. Logo, não
consegue dar um fim gradual ao
"corralito" (nome dado ao congelamento dos depósitos vigente
desde dezembro).
Empurra-empurra
Ontem, a Corte Suprema se recusou a analisar processo que poderia declarar constitucional o "corralito" e resolver o problema.
Os juízes não devem ajudar o governo enquanto o projeto que tramita na Câmara e pode levar ao impeachment dos nove magistrados não for engavetados. Os deputados governistas tentarão derrubar o projeto no dia 5, em sessão extraordinária.
Duhalde tentou minimizar as
palavras de Dawson, que foi considerado "apenas um porta-voz".
"Todas as semanas há notícias de
que sim e de que não [sobre o
acordo"", disse.
No entanto, ele concordou que
as dificuldades políticas atrapalham as negociações e culpou os
candidatos à Presidência pela desconfiança do Fundo. "Os candidatos falam da boca para fora que não querem o acordo. Mas eles terão que decidir se querem ou não sentar-se à mesa com outras nações do mundo."
O presidente procurou ressaltar os avanços e disse que a inflação
deve ficar em apenas 2,2% em agosto, o que mostra que os preços estão controlados.
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