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Programa inflaciona terreno e escasseia mão de obra
Preço de propriedades para empreendimentos de baixa renda até dobra de preço
Já o preço do material de construção, que conta com
componentes importados,
ficou mais baixo devido
à queda da cotação do dólar
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REDAÇÃO
O anúncio de que o governo
irá construir 1 milhão de casas
para famílias que ganham até
R$ 4.650 aqueceu o mercado
imobiliário e fez subir o preço
de imóveis e de terrenos destinados a empreendimentos para baixa renda. Com isso, a especulação imobiliária está consumindo boa parte do subsídio
que será dado pelo governo.
Fenômeno que afetava inicialmente apenas os grandes
centros urbanos, a alta dos preços nesse setor já atinge também cidades menores, do interior de São Paulo e arredores de
Brasília. Pelo programa, fora os
empreendimentos bancados
integralmente pela União, há
subsídios que variam entre R$
23 mil e R$ 2.000, dependendo
da renda e da cidade onde o
imóvel será construído.
Em Valparaíso, município
goiano de 123 mil habitantes no
entorno do Distrito Federal,
áreas disponíveis para construção se tornaram raridade nos
últimos meses. O resultado, diz
Nixon Gutemberg, delegado do
Creci (Conselho Regional de
Corretores de Imóveis) da região e dono de uma imobiliária
na cidade, é que um terreno que
ele comprou no final do ano
passado por R$ 17 mil e onde
podem ser construídas duas casas populares foi vendido recentemente por R$ 35 mil. Aumento de 106%.
Outro lote com as mesmas
características que estava
anunciado por R$ 21 mil em janeiro chegou a R$ 35 mil após o
lançamento do programa Minha Casa, Minha Vida. "Se eu
tivesse cem terrenos hoje, venderia todos, porque a demanda
aumentou em função do incentivo do governo para atender a
baixa renda", afirma Gutemberg, ressaltando que está à
procura de lotes.
Em Campinas (a 93 quilômetros de São Paulo), Paulo Roberto Júlio, proprietário de
imobiliária, conta que a maior
procura por imóveis na faixa de
R$ 80 mil a R$ 120 mil fez subir
os preços das propriedades. "A
dificuldade é que não temos
muitos imóveis para trabalhar
nesse patamar."
De acordo com ele, desde o
início do ano houve um aumento de, no mínimo, 10% no preço. "Infelizmente não tem tanta mercadoria."
Transferência do subsídio
Presidente da Aneac (Associação Nacional dos Engenheiros e Arquitetos da Caixa Econômica Federal), Luiz Guilherme Zigmantas afirma que "o
risco de o subsídio do governo
se transferir para o dono dos
terrenos com o aumento dos
preços é grande".
Com isso, os parâmetros de
valores registrados pela Caixa
nas suas análises acabam
acompanhando a alta. Zigmantas afirmou que, a partir do momento em que o governo fixou
tetos para os imóveis, as unidades de valor mais baixo desapareceram do mercado.
Para a secretária nacional de
Habitação do Ministério das
Cidades, Inês Magalhães, as
prefeituras têm um papel importante para regular o uso do
solo e estabelecer áreas de interesse social. Caso contrário,
diz, valerão as regras de mercado. "É do capitalismo."
Material e mão de obra
Além dos imóveis, o custo da
mão de obra está em alta. Antonio de Souza Ramalho, presidente do Sindicato da Construção Civil de São Paulo, diz que
faltam profissionais. "Temos
mais de 5.000 pedidos e não
achamos gente para trabalhar."
Com isso, quem trabalha por
conta própria aproveita para
subir o seu preço.
Já o preço do material de
construção está em queda, segundo Salomão Quadros, coordenador de Análises Econômicas do Ibre-FGV (Instituto
Brasileiro de Economia da
Fundação Getulio Vargas). A
queda da cotação do dólar explica parte da redução, porque
muitos itens têm componentes
importados. "A queda do dólar,
que já recuou 20% neste ano,
segurou os preços."
(SHEILA D'AMORIM e VERENA FORNETTI)
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