São Paulo, domingo, 30 de agosto de 2009

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Programa inflaciona terreno e escasseia mão de obra

Preço de propriedades para empreendimentos de baixa renda até dobra de preço

Já o preço do material de construção, que conta com componentes importados, ficou mais baixo devido à queda da cotação do dólar

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REDAÇÃO

O anúncio de que o governo irá construir 1 milhão de casas para famílias que ganham até R$ 4.650 aqueceu o mercado imobiliário e fez subir o preço de imóveis e de terrenos destinados a empreendimentos para baixa renda. Com isso, a especulação imobiliária está consumindo boa parte do subsídio que será dado pelo governo.
Fenômeno que afetava inicialmente apenas os grandes centros urbanos, a alta dos preços nesse setor já atinge também cidades menores, do interior de São Paulo e arredores de Brasília. Pelo programa, fora os empreendimentos bancados integralmente pela União, há subsídios que variam entre R$ 23 mil e R$ 2.000, dependendo da renda e da cidade onde o imóvel será construído.
Em Valparaíso, município goiano de 123 mil habitantes no entorno do Distrito Federal, áreas disponíveis para construção se tornaram raridade nos últimos meses. O resultado, diz Nixon Gutemberg, delegado do Creci (Conselho Regional de Corretores de Imóveis) da região e dono de uma imobiliária na cidade, é que um terreno que ele comprou no final do ano passado por R$ 17 mil e onde podem ser construídas duas casas populares foi vendido recentemente por R$ 35 mil. Aumento de 106%.
Outro lote com as mesmas características que estava anunciado por R$ 21 mil em janeiro chegou a R$ 35 mil após o lançamento do programa Minha Casa, Minha Vida. "Se eu tivesse cem terrenos hoje, venderia todos, porque a demanda aumentou em função do incentivo do governo para atender a baixa renda", afirma Gutemberg, ressaltando que está à procura de lotes.
Em Campinas (a 93 quilômetros de São Paulo), Paulo Roberto Júlio, proprietário de imobiliária, conta que a maior procura por imóveis na faixa de R$ 80 mil a R$ 120 mil fez subir os preços das propriedades. "A dificuldade é que não temos muitos imóveis para trabalhar nesse patamar."
De acordo com ele, desde o início do ano houve um aumento de, no mínimo, 10% no preço. "Infelizmente não tem tanta mercadoria."

Transferência do subsídio
Presidente da Aneac (Associação Nacional dos Engenheiros e Arquitetos da Caixa Econômica Federal), Luiz Guilherme Zigmantas afirma que "o risco de o subsídio do governo se transferir para o dono dos terrenos com o aumento dos preços é grande".
Com isso, os parâmetros de valores registrados pela Caixa nas suas análises acabam acompanhando a alta. Zigmantas afirmou que, a partir do momento em que o governo fixou tetos para os imóveis, as unidades de valor mais baixo desapareceram do mercado.
Para a secretária nacional de Habitação do Ministério das Cidades, Inês Magalhães, as prefeituras têm um papel importante para regular o uso do solo e estabelecer áreas de interesse social. Caso contrário, diz, valerão as regras de mercado. "É do capitalismo."

Material e mão de obra
Além dos imóveis, o custo da mão de obra está em alta. Antonio de Souza Ramalho, presidente do Sindicato da Construção Civil de São Paulo, diz que faltam profissionais. "Temos mais de 5.000 pedidos e não achamos gente para trabalhar." Com isso, quem trabalha por conta própria aproveita para subir o seu preço.
Já o preço do material de construção está em queda, segundo Salomão Quadros, coordenador de Análises Econômicas do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas). A queda da cotação do dólar explica parte da redução, porque muitos itens têm componentes importados. "A queda do dólar, que já recuou 20% neste ano, segurou os preços."
(SHEILA D'AMORIM e VERENA FORNETTI)


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