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EM TRANSE
Presidente do Banco Central diz não conhecer ninguém sério que creia em moratória do país e descarta controle de capitais
Quebra do país é idéia maluca, diz Armínio
LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
A possibilidade de o Brasil quebrar é "uma idéia um pouco maluca", e é sempre possível que haja, entre centenas de investidores,
"um ou outro com visão mais terrorista", disse ontem o presidente
do Banco Central, Armínio Fraga,
sobre avaliações de alguns analistas, sobretudo estrangeiros, de
que o país pode ser forçado a dar
calote na dívida pública.
"É preciso tomar um certo cuidado, para filtrar [avaliações de
analistas". Eu não conheço ninguém sério que ache que o Brasil
está a caminho de uma moratória,
ou que o governo não vai pagar a
sua dívida", afirmou Armínio.
No entanto, em entrevista a
uma rede de TV norte-americana,
o financista de origem húngara
George Soros, para quem Fraga já
trabalhou, afirmou ontem que o
Brasil ruma para a falência depois
das eleições. Segundo Soros, a
quebra do Brasil teria graves consequências para as economias
americana e mundial.
Fraga, o ministro Pedro Malan
(Fazenda) e outros integrantes da
equipe econômica passaram os
último quatro dias em Washington, entre seminários oficiais do
encontro conjunto anual do Banco Mundial e Fundo Monetário
Internacional, e eventos paralelos
organizados por bancos estrangeiros, tentando convencer os
executivos do mercado financeiro
de que a dívida pública é administrável e de que, mesmo diante de
mudança de governo, o futuro do
país é promissor.
No entanto, segundo a Folha
apurou, analistas de Wall Street,
mesmo depois de ouvir os argumentos da equipe econômica, estão receosos de que o Brasil possa
ser obrigado, já sob o comando
do próximo governo, a reestruturar sua dívida.
Em seminário organizado ontem pela Febraban (Federação
Brasileira das Associações de
Bancos), o presidente do BC explicou para executivos dos mercados financeiros americano e brasileiro que não faz sentido a idéia
de que o Brasil vai quebrar.
Segundo Armínio, o que costuma levar um país ao estado de insolvência são os seguintes fatores:
regime de câmbio fixo, sistema
bancário fraco e políticas fiscais
insustentáveis, com déficit nas
contas primárias do governo (saldo das receitas menos despesas,
sem contar os gastos com juros da
dívida), entre outros. "O Brasil
não tem disso", disse ele.
Ele lembrou que o Brasil adotou
regime de câmbio flutuante no
começo de 1999, que a meta de superávit primário para 2003 é de
3,75% do PIB (Produto Interno
Bruto) e que o sistema bancário
hoje é forte. Ressaltou também
que, devido à forte depreciação do
câmbio, o saldo comercial tem
aumentado significativamente.
"Isso tem provocado uma correção extraordinária do déficit balanço [buraco nas contas externas" de pagamentos."
O diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Beny
Parnes, descartou completamente a possibilidade de o BC vir a
centralizar o câmbio (controlar a
saída de capitais). A centralização
de câmbio foi levantada por um
analista como opção para impedir que o real continue a se depreciar. Apenas na última semana, o
dólar acumulou uma alta de 14%.
"Isso é uma loucura. Essa idéia
de centralização do câmbio é uma
idéia errada por dois motivos. Primeiro, pelo ponto de vista de ética, pois é um direito que o cidadão tem de dispor livremente dos
bens dele. A segunda coisa é do
ponto de vista pragmático [..."
Você cria um sistema de múltiplas taxas de câmbio que distorce
a economia completamente, e você acaba enriquecendo banqueiros de investimento e advogados", afirmou Parnes.
"A mensagem que dou ao mercado é: não apostem que o Brasil
vai se atirar pela janela. O Brasil
entende os seus problemas, conhece o seu potencial e não vai repetir erros do passado", disse Armínio durante o seminário com
representantes de bancos .
Com a Reportagem Local
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