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São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2003

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RECEITA ORTODOXA

Projeção de 1,5% cairia para o 0,6% estimado pelo mercado

BC deve reduzir previsão de crescimento, diz Meirelles

Antonio Scorza/France Presse
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, durante debate sobre desenvolvimento econômico ontem no Rio de Janeiro


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou ontem que a tendência é que o BC volte a rever, para baixo, a previsão de crescimento econômico do país para este ano. Segundo ele, a expectativa, hoje de 1,5%, poderá ficar mais próxima das projeções do mercado -na média, de 0,6%.
Essa revisão para 0,6% já deverá constar no relatório de inflação que o BC divulga hoje, com suas projeções para os três últimos meses deste ano, apurou a Folha.
A se confirmar essa previsão, será o pior desempenho da economia brasileira desde 1998, quando o PIB (Produto Interno Bruto) teve crescimento de apenas 0,2%. No ano passado, último do mandato de Fernando Henrique Cardoso, o crescimento foi de 1,5%.
Com relação ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o documento deverá prever uma inflação de 8,9% neste ano, pouco acima da meta de 8,5%.
No último relatório de inflação, divulgado no final de junho, o Banco Central estimava um crescimento de 1,5% neste ano. Desde então foram divulgados diversos indicadores mostrando redução no nível de atividade econômica e queda nas vendas.
Tais indicadores levaram o governo a rever suas previsões para o desempenho da economia neste ano. A nova projeção do BC é mais pessimista que o crescimento de 0,73% estimado pelo mercado financeiro, segundo pesquisa do próprio BC divulgada ontem.
A revisão para baixo do crescimento econômico já havia sido feita pelo Ministério do Planejamento, que espera 0,9% neste ano, e pela Fazenda, que ontem reafirmou a previsão de 1%, segundo o secretário de Política Econômica, Marcos Lisboa.
Para 2004, Meirelles prevê crescimento de ao menos 3%. Será também, afirma ele, o início de uma fase de crescimento mais contínuo, sem o comportamento errático dos últimos anos.
Existem, porém, condicionantes. Entre elas, afirmou, está o elevado custo do dinheiro no país, por causa dos altos "spreads" cobrados pelos bancos (diferença entre o custo de captação e o cobrado dos clientes). Segundo ele, o governo não tem mais nada a fazer para reduzir os juros bancários. "Acho que a questão da ação do governo está esgotada", disse.
Para Meirelles, é preciso aumentar a competição entre os bancos para diminuir os "spreads". Ele afirmou que o BC "está atento" e que já analisou o assunto em parceria com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Até agora, porém, não foram encontradas práticas ilícitas -como os grandes bancos combinarem taxas de juros cobradas de clientes.
"O comportamento oligopolista, se verificado, será punido. A área de fiscalização está atenta a esse tipo de prática", disse.
Presente ao seminário, Roberto Setúbal, do Itaú, disse que essas práticas estão concentradas nos bancos públicos. Disse ainda que as altas taxas cobradas nos empréstimos se explicam por dois motivos: a volatilidade elevada dos indicadores da economia brasileira e o fato de o governo absorver boa parte da poupança do país, para financiar sua dívida.

Acordo positivo
Meirelles afirmou que "o Brasil já passou dessa fase de ficar atendendo ao Fundo [Monetário Internacional]" e só assinará um novo acordo em "condições positivas para o país".
"Acho que qualquer acordo assinado pelo Brasil terá de ser positivo para o país", afirmou.
Na visão de Meirelles, o Brasil não está atualmente em crise e vive uma situação melhor do que quando negociou o atual acordo, no ano passado. "Só será assinado o acordo desde que as condições sejam positivas para o país, levando em conta as melhoras importantes [nos indicadores macroeconômicos]", afirmou o presidente do BC, em debate no Rio promovido pela "LatinFinance", revista econômica especializada em América Latina.
Por causa da melhora macroeconômica, "não tem mais o mesmo tipo de discussão de país que está vivendo crise", acrescentou.
Durante sua exposição, o presidente do BC afirmou que o governo aumentou por sua conta a meta de superávit primário -para 4,25% do PIB-, sem que o Fundo fizesse tal exigência. Ele previu para os próximos anos uma "diminuição consistente" da relação dívida/PIB, graças ao ajuste fiscal. Essa relação, prevê, chegará a 40% ao final desta década -hoje, está em torno de 57%.
Ele identificou como sinal de melhora a redução da volatilidade da taxa de câmbio.


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