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RECEITA ORTODOXA
Projeção de 1,5% cairia para o 0,6% estimado pelo mercado
BC deve reduzir previsão de crescimento, diz Meirelles
Antonio Scorza/France Presse
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O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, durante debate sobre desenvolvimento econômico ontem no Rio de Janeiro |
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, afirmou ontem que a tendência é que o BC
volte a rever, para baixo, a previsão de crescimento econômico do
país para este ano. Segundo ele, a
expectativa, hoje de 1,5%, poderá
ficar mais próxima das projeções
do mercado -na média, de 0,6%.
Essa revisão para 0,6% já deverá
constar no relatório de inflação
que o BC divulga hoje, com suas
projeções para os três últimos
meses deste ano, apurou a Folha.
A se confirmar essa previsão, será o pior desempenho da economia brasileira desde 1998, quando
o PIB (Produto Interno Bruto) teve crescimento de apenas 0,2%.
No ano passado, último do mandato de Fernando Henrique Cardoso, o crescimento foi de 1,5%.
Com relação ao IPCA (Índice de
Preços ao Consumidor Amplo), o
documento deverá prever uma
inflação de 8,9% neste ano, pouco
acima da meta de 8,5%.
No último relatório de inflação,
divulgado no final de junho, o
Banco Central estimava um crescimento de 1,5% neste ano. Desde
então foram divulgados diversos
indicadores mostrando redução
no nível de atividade econômica e
queda nas vendas.
Tais indicadores levaram o governo a rever suas previsões para
o desempenho da economia neste
ano. A nova projeção do BC é
mais pessimista que o crescimento de 0,73% estimado pelo mercado financeiro, segundo pesquisa
do próprio BC divulgada ontem.
A revisão para baixo do crescimento econômico já havia sido
feita pelo Ministério do Planejamento, que espera 0,9% neste
ano, e pela Fazenda, que ontem
reafirmou a previsão de 1%, segundo o secretário de Política
Econômica, Marcos Lisboa.
Para 2004, Meirelles prevê crescimento de ao menos 3%. Será
também, afirma ele, o início de
uma fase de crescimento mais
contínuo, sem o comportamento
errático dos últimos anos.
Existem, porém, condicionantes. Entre elas, afirmou, está o elevado custo do dinheiro no país,
por causa dos altos "spreads" cobrados pelos bancos (diferença
entre o custo de captação e o cobrado dos clientes). Segundo ele,
o governo não tem mais nada a fazer para reduzir os juros bancários. "Acho que a questão da ação
do governo está esgotada", disse.
Para Meirelles, é preciso aumentar a competição entre os
bancos para diminuir os
"spreads". Ele afirmou que o BC
"está atento" e que já analisou o
assunto em parceria com o Cade
(Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Até agora, porém, não foram encontradas práticas ilícitas -como os grandes
bancos combinarem taxas de juros cobradas de clientes.
"O comportamento oligopolista, se verificado, será punido. A
área de fiscalização está atenta a
esse tipo de prática", disse.
Presente ao seminário, Roberto
Setúbal, do Itaú, disse que essas
práticas estão concentradas nos
bancos públicos. Disse ainda que
as altas taxas cobradas nos empréstimos se explicam por dois
motivos: a volatilidade elevada
dos indicadores da economia brasileira e o fato de o governo absorver boa parte da poupança do
país, para financiar sua dívida.
Acordo positivo
Meirelles afirmou que "o Brasil
já passou dessa fase de ficar atendendo ao Fundo [Monetário Internacional]" e só assinará um
novo acordo em "condições positivas para o país".
"Acho que qualquer acordo assinado pelo Brasil terá de ser positivo para o país", afirmou.
Na visão de Meirelles, o Brasil
não está atualmente em crise e vive uma situação melhor do que
quando negociou o atual acordo,
no ano passado. "Só será assinado
o acordo desde que as condições
sejam positivas para o país, levando em conta as melhoras importantes [nos indicadores macroeconômicos]", afirmou o presidente do BC, em debate no Rio
promovido pela "LatinFinance",
revista econômica especializada
em América Latina.
Por causa da melhora macroeconômica, "não tem mais o mesmo tipo de discussão de país que
está vivendo crise", acrescentou.
Durante sua exposição, o presidente do BC afirmou que o governo aumentou por sua conta a meta de superávit primário -para
4,25% do PIB-, sem que o Fundo fizesse tal exigência. Ele previu
para os próximos anos uma "diminuição consistente" da relação
dívida/PIB, graças ao ajuste fiscal.
Essa relação, prevê, chegará a 40%
ao final desta década -hoje, está
em torno de 57%.
Ele identificou como sinal de
melhora a redução da volatilidade
da taxa de câmbio.
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