|
Texto Anterior | Índice
SEMENTE DA DISCÓRDIA
Destino do navio nacional com carregamento contaminado não havia sido decidido até ontem
China descobre nova carga de soja com fungicida do Brasil
CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM
Autoridades chinesas encontraram sementes contaminadas com
o fungicida Carboxin em carregamentos de soja do Brasil e da Argentina que chegaram a portos do
país, divulgou ontem a agência
oficial de notícias Xinhua.
Entre os meses de abril e junho,
a China recusou carregamentos
de cinco navios brasileiros, sob o
argumento de que havia uma
quantidade excessiva de sementes
tratadas com Carboxin na soja
destinada ao consumo humano
ou animal. Depois de recusar os
cinco navios, a China suspendeu
23 exportadores de soja brasileiros, o que praticamente paralisou
o comércio do produto entre os
dois países.
Na época, o fungicida foi encontrado em sementes, misturadas à
carga de grãos enviada para os
chineses.
Na época, vários analistas de
mercado viram no gesto do país
asiático uma tentativa de reduzir
os preços recordes pelos quais havia comprado a soja. Até agora,
não havia registro de soja argentina com o mesmo problema.
O navio da Argentina foi descarregado depois que as autoridades do porto de Huangpu, na Província sulista do Cantão, separaram as sementes com Carboxin e
as destruíram. O navio tinha 60,9
mil toneladas de soja, avaliadas
em US$ 16,9 milhões.
Ontem, não estava claro qual seria o destino do navio com soja
brasileira, atracado no porto de
Tianjin, a leste de Pequim. Segundo a agência Reuters, pessoas que
trabalham no local disseram que
o mais provável seria o descarregamento depois da separação de
sementes contaminadas.
O Carboxin é usado no tratamento das sementes antes do
plantio e, em tese, não deveria estar na soja colhida e destinada ao
consumo humano ou animal.
Mas regras internacionais toleram até três grãos por quilo de
amostra do carregamento, nível
considerado inofensivo. A China
não aceitou essas regras e impediu o descarregamento mesmo de
cargas brasileiras com baixo índice de Carboxin.
Brasil e China chegaram a um
acordo no dia 11 de junho, pelo
qual os navios que saíram do Brasil antes desta data poderiam ser
desembarcados, desde que os exportadores se encarregassem da
limpeza de eventual carga contaminada e elevasse os padrões de
qualidade adotados.
Mas não ficou claro o procedimento que seria adotado em relação aos embarques realizados depois do dia 11 de junho -situação
dos navios que estão chegando
agora na China.
As autoridades brasileiras entenderam que os chineses deveriam tolerar até um grão por quilo
de amostra do carregamento,
apesar de isso não estar escrito no
acordo. Pessoas que acompanharam a negociação concluíram que
os chineses poderiam exigir tolerância zero, ou seja, nenhum grão
contaminado.
As relações entre exportadores
brasileiros e importadores chineses terão outro teste a partir de
amanhã, quando entram em vigor novas regras sanitárias para o
óleo de soja, em obediência a exigências da OMC (Organização
Mundial do Comércio).
Representantes da Embaixada
do Brasil em Pequim se reuniram
na semana passada com o vice-ministro da Quarentena, Ge Zhirong, para discutir o assunto e receberam a garantia de que nenhum carregamento de óleo de
soja será barrado.
Se o produto estiver fora das especificações, ele poderá ser adequado em refinarias chinesas, escutaram os diplomatas.
A China é o maior importador
de soja do Brasil e comprou no
ano passado 6 milhões de toneladas do produto.
Neste ano, o governo chinês
adotou uma série de medidas para tentar desaquecer a economia
local, que cresce a um ritmo considerado insustentável (mais de
10% ao ano).
Texto Anterior: O vaivém das commodities Índice
|