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Governo admite contenção de longo prazo
Lula pretende discutir com oposição ainda neste ano redução no gasto de custeio via projeto de lei por período de 10 anos
Após aumento das despesas da União em ano eleitoral, meta seria de corte entre 0,2% e 0,3% do PIB: até Dilma apoiaria ajuste
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Independentemente do resultado da eleição, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva pretende discutir ainda neste ano
com a oposição uma meta de
redução de despesas de custeio
da União por um período de dez
anos. A Folha apurou que a
meta seria entre 0,2% e 0,3%
do PIB (Produto Interno Bruto), algo entre R$ 4 bilhões e
R$ 6 bilhões. E a redução seria
cumulativa, sempre percentualmente menor em relação
ao ano anterior.
Essa é a principal proposta
de austeridade fiscal que Lula
deseja debater com a oposição
se reeleito no primeiro ou no
segundo turno. O objetivo é votar um projeto de lei com a meta, dando caráter legal para torná-la obrigatória. Assim, haveria maior repercussão positiva
junto ao mercado financeiro e
investidores estrangeiros.
Na eventualidade de uma
derrota, o que o presidente hoje considera improvável, manteria a proposta para discussão
no processo de transição de governos.
Como antecipou a Folha,
Lula já tomou a decisão de promover um ajuste fiscal na hipótese de reeleição. Ele autorizou
a equipe econômica a estudar
em quais áreas da administração poderia reduzir despesas.
Como deseja preservar os investimentos (gastos novos a cada ano), considerados fundamentais para estimular o crescimento do PIB, as despesas de
custeio sofrerão corte.
Lula, porém, não quer que
essa decisão seja tomada por
uma iniciativa só sua, mas resultado de um acordo pós-eleitoral em torno de uma agenda
mínima que discuta também
reforma política e mudanças
nas regras de confecção do Orçamento.
O presidente avalia que teria
mais força se fosse aprovado
um projeto no Congresso fixando uma meta de ajuste fiscal. Na opinião de Lula, o candidato da aliança PSDB-PFL e
seu principal adversário, Geraldo Alckmin, tem feito um
discurso de campanha que
combina com a idéia. Ou seja,
seria difícil a oposição não dialogar com o governo para aprovar medida dessa natureza.
O empresariado seria também convidado a participar das
discussões, o que ajudaria a
criar uma atmosfera política
favorável à votação da medida
ainda neste ano ou no começo
da próxima legislatura.
A idéia de criar uma meta de
redução de gastos retoma o
plano fiscal de longo prazo que
o então ministro da Fazenda,
Antonio Palocci, tentou levar
adiante em 2005. Essa meta é
uma sugestão do próprio Palocci, segundo apurou a Folha.
O ex-ministro ainda mantém
canais de comunicação com o
presidente.
O raciocínio principal foi o
seguinte: como a elevação do
superávit primário em 2003 sinalizou que haveria redução dívida pública-PIB, o importante
seria dar um sinal de queda dos
gastos públicos no longo prazo.
Ao mesmo tempo, seria
mantida a meta de superávit
primário em 4,25% do PIB e
negociada a prorrogação da
CPMF e da DRU -Desvinculação de Receitas da União, que
permite ao governo federal reter parte da arrecadação de tributos que deveria repartir com
Estados e municípios e usá-la
como bem entender. A CPMF e
a DRU, que valem no formato
atual até o final de 2007, têm
sido fundamentais para fechar
as contas públicas.
Apesar do aumento de gastos
públicos em 2006, muito em
virtude do projeto de reeleição,
o governo avalia que a situação
fiscal não será calamitosa em
2007, mas poderá chegar a esse
ponto em 2008 e 2009, gerando então uma crise séria.
Estudos da equipe econômica e de ministros do Palácio do
Planalto, como Dilma Rousseff
(Casa Civil) e Luiz Dulci (Secretaria Geral), mostram que
haveria excesso de sobreposição de programas nas áreas de
custeio. Exemplo: levantamento de Dulci constatou que a cidade do Rio de Janeiro conta
com mais de 60 programas para jovens (federais, estaduais e
municipais). Ou seja, haveria
tentativa de unificação dessas
ações sociais e preservação dos
recursos da saúde e da educação.
O mesmo valeria, dizem os
ministros, para as áreas de
Transportes e Energia. Dilma
tem feito um estudo detalhado
dessas sobreposições de funções. Antes refratária ao plano
fiscal de longo prazo, hoje ela
está no time de quem defende
um ajuste fiscal "de qualidade",
segundo as palavras da ministra em conversas reservadas.
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