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Número de votos contrários ao projeto é surpreendente, afirmam analistas
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
Apesar da persistência da rejeição de grupos de republicanos rebeldes e alguns democratas ao plano de resgate de Wall
Street, os números finais dos
votos "não" surpreenderam especialistas. As análises, ainda
sob o choque da queda da lei,
divergem entre culpar o apego
à ideologia antiintervencionista da Câmara e as ambições políticas dos deputados, que enfrentam eleições em novembro
e estariam fazendo um "show"
para os seus eleitores.
"Não acho que foi a palavra
final", afirmou à Folha David
Epstein, diretor do Centro de
Economia Política da Universidade Columbia. "Os que votarão "não" acham que não precisam ceder agora, que esperando aumentam seu poder de
barganha e limitam a irritação
de seus eleitores."
Mas, para ele, o jogo é arriscado. "Se o sistema econômico
colapsar ainda mais, o peso político será muito maior. Estou
surpreso que esses deputados
queiram arriscar tanto."
Até a semana passada, estimava-se que havia entre 100 e
120 republicanos rebeldes. A
expectativa era a de que o número caísse depois de anteontem, quando os líderes do partido na Câmara, inclusive os
opositores ao plano, decidiram
pressionar por sua aprovação.
Mas não foi o que aconteceu.
Os deputados continuam
pressionados pela opinião pública. Pesquisa do "USA Today"
e do instituto Gallup afirma
que apenas 22% do eleitorado
quer que o Congresso aprove
um plano similar ao proposto
pelo governo. Outras pesquisas
mostraram aprovação de até
46% ao plano, mas a rejeição
ainda impõe risco muito alto
para os deputados.
Ideologia extrema
Ainda assim, para Michael
McDonald, analista político do
Instituto Brookings, a eleição
não pode ser responsabilizada
sozinha pela rejeição ao pacote.
"Ideologia esteve muito presente. A maioria dos deputados
contrários é muito conservadora e vem de distritos de direita", afirma. "Muitos inclusive
não enfrentam risco de perder
suas vagas em novembro."
Para os conservadores, o pacote de resgate a instituições
falidas em Wall Street é uma
perversão imperdoável ao capitalismo de mercado.
Apesar da derrota, ele e Epstein concordam que o governo
não teve alternativa a não ser
apresentar a lei ontem. E que a
única coisa que podem fazer
agora é seguir negociando. Mas
estará nas mãos dos democratas, afirma Epstein, aprovar o
pacote. "Se querem muito o pacote, vão ter que assumir o risco de aprová-lo com até 70% da
legenda votando a favor e sem
grande apoio republicano."
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