São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2008

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Número de votos contrários ao projeto é surpreendente, afirmam analistas

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Apesar da persistência da rejeição de grupos de republicanos rebeldes e alguns democratas ao plano de resgate de Wall Street, os números finais dos votos "não" surpreenderam especialistas. As análises, ainda sob o choque da queda da lei, divergem entre culpar o apego à ideologia antiintervencionista da Câmara e as ambições políticas dos deputados, que enfrentam eleições em novembro e estariam fazendo um "show" para os seus eleitores.
"Não acho que foi a palavra final", afirmou à Folha David Epstein, diretor do Centro de Economia Política da Universidade Columbia. "Os que votarão "não" acham que não precisam ceder agora, que esperando aumentam seu poder de barganha e limitam a irritação de seus eleitores."
Mas, para ele, o jogo é arriscado. "Se o sistema econômico colapsar ainda mais, o peso político será muito maior. Estou surpreso que esses deputados queiram arriscar tanto."
Até a semana passada, estimava-se que havia entre 100 e 120 republicanos rebeldes. A expectativa era a de que o número caísse depois de anteontem, quando os líderes do partido na Câmara, inclusive os opositores ao plano, decidiram pressionar por sua aprovação. Mas não foi o que aconteceu.
Os deputados continuam pressionados pela opinião pública. Pesquisa do "USA Today" e do instituto Gallup afirma que apenas 22% do eleitorado quer que o Congresso aprove um plano similar ao proposto pelo governo. Outras pesquisas mostraram aprovação de até 46% ao plano, mas a rejeição ainda impõe risco muito alto para os deputados.

Ideologia extrema
Ainda assim, para Michael McDonald, analista político do Instituto Brookings, a eleição não pode ser responsabilizada sozinha pela rejeição ao pacote. "Ideologia esteve muito presente. A maioria dos deputados contrários é muito conservadora e vem de distritos de direita", afirma. "Muitos inclusive não enfrentam risco de perder suas vagas em novembro."
Para os conservadores, o pacote de resgate a instituições falidas em Wall Street é uma perversão imperdoável ao capitalismo de mercado.
Apesar da derrota, ele e Epstein concordam que o governo não teve alternativa a não ser apresentar a lei ontem. E que a única coisa que podem fazer agora é seguir negociando. Mas estará nas mãos dos democratas, afirma Epstein, aprovar o pacote. "Se querem muito o pacote, vão ter que assumir o risco de aprová-lo com até 70% da legenda votando a favor e sem grande apoio republicano."


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