São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2008

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No pior dia da década, Bovespa recua 9% e pregão é paralisado

Mecanismo que interrompe negócios é acionado pela primeira vez desde 1999; tombo chegou a 13,8%

Com investidor em pânico, todas as ações do Ibovespa registram perdas, e queda acumulada no mês chega a 17,3%; Vale cai mais de 12%


FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Bolsa de Valores de São Paulo viveu seu pior pregão em quase uma década e encerrou com expressiva queda de 9,36%, em uma das maiores perdas sofridas no mercado acionário mundial. Ontem, a Bolsa chegou a ter as operações interrompidas quando superou os 10% de desvalorização, pouco antes das 15h. A depreciação de ontem foi a maior desde janeiro de 1999. O risco-país subiu 14%, para 337 pontos.
No momento em que a baixa superou os 10%, a Bolsa acionou o "circuit break" -medida de segurança que interrompe temporariamente o pregão como forma de evitar que o pânico piore a situação do mercado. Após 30 minutos, as operações foram retomadas, mas o índice Ibovespa seguiu em baixa, para marcar na mínima queda de 13,82%, aos 43.766 pontos. Desde 1999, o "circuit break" não era acionado.
Após perdas tão intensas, compradores apareceram na última hora de pregão, dando algum alento à Bolsa, que encerrou aos 46.028 pontos -menor nível desde abril de 2007. Mas isso não significa que o mercado vá seguir em rota de recuperação hoje.
A Bolsa já abriu em terreno negativo, com notícias pouco animadoras envolvendo o setor bancário na Europa e nos EUA. Com a reprovação do pacote de socorro financeiro no Congresso americano, no começo da tarde, os mercados derreteram.
A Bovespa inicia o último pregão de setembro com queda acumulada de 17,34%. No ano, registra perdas de 27,95%.
"A venda foi geral. O mercado já abriu pessimista e a reprovação do pacote no Congresso acabou por intensificar as perdas. O mercado foi tomado por um sentimento de pânico, de certa irracionalidade, que afeta até ações de empresas com bons fundamentos", diz Guilherme Mazzilli Pereira, analista da Daycoval Asset Management.
Além dos estrangeiros, que têm se desfeito de ações brasileiras de forma mais forte desde junho, investidores locais também estiveram na ponta vendedora. Todas as 66 ações do Ibovespa caíram.
Mas, apesar das oscilações consideráveis da Bolsa, o volume financeiro negociado não foi tão elevado quanto se poderia esperar. No pregão de ontem, foram movimentados R$ 5,76 bilhões, sendo que a média diária do ano gira em torno de R$ 6 bilhões. Isso significa que muitas ações se depreciaram mesmo sem que negócios fossem fechados, caindo pela falta de compradores e o desespero do vendedor para se desfazer do papel a qualquer custo.
"A reprovação surpreendeu o mercado e não poupou as Bolsas que estavam abertas. A Bovespa sente nesses momentos o peso dos investidores estrangeiros, que vendem o que podem para diminuir os riscos de suas carteiras e fazer algum caixa onde podem", diz Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos.
Para piorar a situação da Bovespa, as ações de Petrobras e Vale, que são as de maior peso do índice Ibovespa, sofreram também com a depreciação das commodities no mercado internacional. O petróleo caiu 9,84%, para US$ 96,37.
As ações da Petrobras encerraram com queda de 7,56% (preferencias) e 8,16% (ordinárias). No pior momento do pregão, chegaram a recuar 15,24% (PN) e 15,36% (ON). Quando bateram em níveis tão baixos, fundos aproveitaram para comprar os papéis da estatal, que, por sua elevada liquidez, costumam estar nas principais carteiras acionárias.
Para a Vale, as perdas ficaram em 12,14% (PNA) e 12,2% (ON).
Quem aplicou o FGTS em ações precisa de sangue-frio. No ano, as ações ON da Vale têm perdas de 42,60%, e as ON da Petrobras, de 24,36%.


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