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Apesar da crise, BC ainda vê perigo inflacionário
Órgão cita em relatório preocupação com demanda e indica que juros vão se manter altos
Para a Fazenda, no entanto,
agravamento da turbulência
nos EUA vai desacelerar a
economia mundial e ajudar a
manter a inflação sob controle
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mesmo com o agravamento
da crise nos EUA, o Banco Central continua apontando o forte
ritmo de crescimento da economia como o principal fator
de risco ao controle da inflação,
indicando que os juros ainda
permanecerão elevados por
mais algum tempo.
A avaliação consta do Relatório de Inflação, que é preparado
a cada três meses com uma
análise do BC sobre a situação
da economia brasileira. Segundo o texto, divulgado ontem, o
país deve crescer 5% neste ano,
contra 4,8% previstos pelo documento feito no fim de junho.
Segundo o relatório, a diretoria do BC avalia que "a redução
consistente do descompasso
entre o ritmo de ampliação da
oferta de bens e serviços e o da
demanda continua sendo elemento central na avaliação das
diferentes possibilidades que
se apresentam para a política
monetária".
Ou seja, o receio de que o
consumo esteja crescendo tanto no país que as empresas não
serão capazes de produzir o suficiente para atender essa demanda ainda é, para o BC, a
principal ameaça ao controle
da inflação, e por isso os juros
estão em alta desde março -a
Selic, que estava em 11,25% ao
ano, está hoje em 13,75%.
Não é essa a posição do Ministério da Fazenda, que é contra novos aumentos na taxa de
juros por entender que o agravamento da crise nos EUA vai
desacelerar a economia mundial, ajudando a manter a inflação sob controle no Brasil. A
Fazenda entende ainda que a
alta do consumo não pressiona
os preços porque o investimento na produção vem crescendo.
Questionado se haverá nova
alta de juros, o diretor de Política Econômica do BC, Mário
Mesquita, disse que esse assunto é discutido a cada reunião do
Copom (Comitê de Política
Monetária) e que não é possível
antecipar uma decisão.
Segundo o BC, a projeção de
crescimento foi alterada devido
ao resultado acima do esperado
registrado no primeiro semestre deste ano, quando a expansão foi de 6% em relação ao
mesmo período de 2007.
Em junho, o BC estimava
que, caso os juros e o câmbio se
comportassem de acordo com a
projeção média observada no
mercado à época, a alta do IPCA ficaria em 6,0% neste ano e
em 4,7% em 2009 -portanto,
acima da meta de 4,5% fixada
pelo governo em ambos os casos, embora dentro da margem
de dois pontos percentuais.
No documento divulgado ontem, as projeções para a inflação são as mesmas de três meses atrás. De lá para cá, disse
Mesquita, houve tanto notícias
positivas quanto negativas sobre o assunto, e elas acabaram
se compensando e levando à estabilidade das projeções.
Ele disse que, em junho, havia a expectativa de que o dólar
fosse fechar o ano em alta, e no
mercado havia maior confiança
no cumprimento da meta de inflação. Hoje, a situação é inversa: pesquisa do BC indica que o
mercado considera que a alta
do dólar não se manterá por
muito tempo e o real voltará a
se valorizar, ajudando a estabilizar os preços.
Por outro lado, o pessimismo
quanto ao cumprimento da
meta é maior. Levantamento
feito na última sexta com analistas de bancos e consultorias
mostra que a estimativa é que o
IPCA tenha alta de 6,14% neste
ano e de 4,90% em 2009.
A maior preocupação do BC é
com a inflação do ano que vem,
já que 2008 está perto do fim e
eventual alta dos juros básicos
neste ano dificilmente produzirá efeito a tempo de mudar o resultado deste ano.
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