São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2008

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Apesar da crise, BC ainda vê perigo inflacionário

Órgão cita em relatório preocupação com demanda e indica que juros vão se manter altos

Para a Fazenda, no entanto, agravamento da turbulência nos EUA vai desacelerar a economia mundial e ajudar a manter a inflação sob controle


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mesmo com o agravamento da crise nos EUA, o Banco Central continua apontando o forte ritmo de crescimento da economia como o principal fator de risco ao controle da inflação, indicando que os juros ainda permanecerão elevados por mais algum tempo.
A avaliação consta do Relatório de Inflação, que é preparado a cada três meses com uma análise do BC sobre a situação da economia brasileira. Segundo o texto, divulgado ontem, o país deve crescer 5% neste ano, contra 4,8% previstos pelo documento feito no fim de junho.
Segundo o relatório, a diretoria do BC avalia que "a redução consistente do descompasso entre o ritmo de ampliação da oferta de bens e serviços e o da demanda continua sendo elemento central na avaliação das diferentes possibilidades que se apresentam para a política monetária".
Ou seja, o receio de que o consumo esteja crescendo tanto no país que as empresas não serão capazes de produzir o suficiente para atender essa demanda ainda é, para o BC, a principal ameaça ao controle da inflação, e por isso os juros estão em alta desde março -a Selic, que estava em 11,25% ao ano, está hoje em 13,75%.
Não é essa a posição do Ministério da Fazenda, que é contra novos aumentos na taxa de juros por entender que o agravamento da crise nos EUA vai desacelerar a economia mundial, ajudando a manter a inflação sob controle no Brasil. A Fazenda entende ainda que a alta do consumo não pressiona os preços porque o investimento na produção vem crescendo.
Questionado se haverá nova alta de juros, o diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, disse que esse assunto é discutido a cada reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) e que não é possível antecipar uma decisão.
Segundo o BC, a projeção de crescimento foi alterada devido ao resultado acima do esperado registrado no primeiro semestre deste ano, quando a expansão foi de 6% em relação ao mesmo período de 2007.
Em junho, o BC estimava que, caso os juros e o câmbio se comportassem de acordo com a projeção média observada no mercado à época, a alta do IPCA ficaria em 6,0% neste ano e em 4,7% em 2009 -portanto, acima da meta de 4,5% fixada pelo governo em ambos os casos, embora dentro da margem de dois pontos percentuais.
No documento divulgado ontem, as projeções para a inflação são as mesmas de três meses atrás. De lá para cá, disse Mesquita, houve tanto notícias positivas quanto negativas sobre o assunto, e elas acabaram se compensando e levando à estabilidade das projeções.
Ele disse que, em junho, havia a expectativa de que o dólar fosse fechar o ano em alta, e no mercado havia maior confiança no cumprimento da meta de inflação. Hoje, a situação é inversa: pesquisa do BC indica que o mercado considera que a alta do dólar não se manterá por muito tempo e o real voltará a se valorizar, ajudando a estabilizar os preços.
Por outro lado, o pessimismo quanto ao cumprimento da meta é maior. Levantamento feito na última sexta com analistas de bancos e consultorias mostra que a estimativa é que o IPCA tenha alta de 6,14% neste ano e de 4,90% em 2009.
A maior preocupação do BC é com a inflação do ano que vem, já que 2008 está perto do fim e eventual alta dos juros básicos neste ano dificilmente produzirá efeito a tempo de mudar o resultado deste ano.


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