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LUÍS NASSIF
O governo Lula e a tecnologia
Durante a campanha presidencial, Lula foi enfático
em pelo menos um ponto contemporâneo essencial: a importância de a empresa brasileira
conseguir agregar valor aos seus
produtos. Por trás desse conceito
estão presentes a questão da inovação e da tecnologia e a necessidade da definição de novas políticas industriais.
Dois pontos merecem reflexão
e questionamento. Primeiro, a
idéia de que política industrial
significa definir práticas de proteção às grandes empresas nacionais. O segmento a ser trabalhado é fundamentalmente o da
pequena e média empresa,
criando uma cultura de inovação. E o programa do PT definiu
claramente essa prioridade.
O segundo tema é a idéia de
que se irá conseguir produzir
inovação amarrando toda política científico-tecnológica à universidade. O programa de ciência e tecnologia do PT -pelo
menos o de campanha- comete
uma mixórdia visceral desses
conceitos, conferindo à universidade o controle sobre os processos de ciência e tecnologia no
país.
No início dos anos 70, o Brasil
investia o mesmo que a Coréia
do Sul em ciência e tecnologia. O
investimento coreano resultou
na LG, Samsung e Hyundai.
De 1971 a 1980, o Brasil aplicou
US$ 300 milhões anuais. De 1970
a 1976, aplicava anualmente
mais do que a Coréia do Sul. O
que rendeu? Quase nada. Apenas maquiadoras, enquanto
pesquisa e desenvolvimento sérios eram realizados por estatais, como Petrobras, Embrapa,
Embraer, e empresas privadas,
como Romi e Wega, todas fora
do circuito oficial da ciência e
tecnologia.
Quando criou seu programa
de ciência e tecnologia, a Coréia
do Sul o colocou claramente fora
do controle da universidade.
Criou uma cidade tecnológica,
Daejong, depois um instituto
voltado inteiramente para a
promoção da inovação no setor
privado, incumbido de preparar
as empresas para ganhar autonomia de pesquisa.
Em uma década, a participação privada nos investimentos
em tecnologia saltou de 12% para 70% do total de US$ 12 bilhões aplicados. O investimento
na universidade ficou de 12% a
15% para ciência. No início da
implantação do modelo, participavam do processo apenas 50
grandes empresas. Hoje em dia,
são 8.600 empresas, das quais
7.800 são pequenas e médias.
O ponto central é que no Brasil
nunca se diferenciou ciência de
tecnologia, avalia o físico Roberto Nicolsky, principal especialista brasileiro da atualidade no
tema inovação. São dois bichos
distintos, embolados no mesmo
arranjo pelo fato de se pensar
que são os mesmos pesquisadores que fazem ciência e desenvolvimento, quando não são.
O objetivo da universidade é
formar recursos humanos e, nesse processo, desenvolver novas
concepções e idéias, frutos da
própria curiosidade dos pesquisadores e do próprio mecanismo
de auto-estimulação. Tecnologia é algo muito objetivo: atendimento da demanda real de
usuários e consumidores, em relação a produtos, serviços e processos. Seu lócus é o setor de produção, o que se faz na indústria.
O objetivo maior de políticas
públicas deveria ser criar a cultura inovadora -o que se fará,
como em todos os países, criando mecanismos de financiamento e estímulo às empresas inovadoras.
Nos EUA existe um órgão para
tratar de ciência. Depois, cada
ministério desenvolve tecnologia
para seu setor. No Japão, tecnologia está sob a batuta do MIT, o
poderoso Ministério do Desenvolvimento local. Mas cada ministério responde pelo desenvolvimento tecnológico em sua
área.
A partir dessas análises, Nicolsky sugere um novo arranjo
para o setor. Poder-se-ia juntar
a Capes ao CNPq (dois institutos
que financiam ciência), criando
o Ministério de Educação e
Ciência. Já a Finep e os fundos
verde-amarelos ficariam debaixo do Ministério do Desenvolvimento, que seria transformado
no MIT japonês. Não haveria
razão para manter o atual Ministério de Ciência e Tecnologia.
Hoje em dia as principais instituições de pesquisa já estão
alocadas em outros ministérios:
a Fiocruz na Saúde; a Embrapa
na Agricultura; o CTA (Centro
Tecnológico da Aeronáutica) na
Defesa.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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