São Paulo, quarta-feira, 30 de outubro de 2002

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QUEDA-DE-BRAÇO

Fabricantes de açúcar pedem aumento superior à alta do dólar; rede diz que colocará avisos se faltar produto

Reajuste chega a 77% e varejo faz ameaça

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O varejo não consegue mais fechar acordos de preços com a indústria. Fabricantes de açúcar pediram, em média, aumento de 77% para novembro -a solicitação de reajuste mais elevada desde que as empresas começaram a remarcar preços neste ano devido à escalada do dólar.
Fornecedores de geladeiras e freezers querem uma segunda rodada de aumento, de 15%. As negociações emperraram, e há grandes chances de que isso chegue ao consumidor, informam as próprias lojas.
Resultado: o Pão de Açúcar, a maior rede de supermercados do Brasil, já ameaça colocar nas gôndolas das lojas avisos aos consumidores caso as conversas com as empresas de açúcar não avancem e falte produto nas prateleiras. Os fornecedores foram notificados sobre esses avisos durante as últimas reuniões para a discussão de reajustes nos preços.
Na entrada principal da sede do Pão de Açúcar, em São Paulo, há uma faixa com os dizeres: "Somente aceitaremos reajustes de tabelas após a absorção dos respectivos aumentos pelo mercado". O cartaz foi colocado na sede do grupo na semana passada e seu texto já foi impresso em folhetos distribuídos à indústria.
A última vez que o varejo decidiu tornar pública a guerra de preços entre fornecedores e lojas foi em 1999.
A idéia é pressionar ao máximo os fornecedores porque os supermercados não querem reduzir sua margem de lucro. A maioria das grandes redes de supermercados no país ainda mantém as contas no azul e lucra, mesmo com a atual crise de demanda.
Mas essas redes afirmam que não podem cortar margens. As indústrias, por sua vez, dizem que sofrem perdas por conta da disparada do dólar e por isso insistem nos aumentos.
O açúcar, por exemplo, tem cotação internacional em moeda americana. De 29 de maio até ontem, o dólar sofreu valorização de mais de 51%. Com isso, o açúcar -vendido por três fabricantes atualmente- encareceu.
O mesmo ocorre com as geladeiras e freezers -produtos fabricados com insumos importados e fornecidos também por apenas três empresas no país.
"Há setores que decidem [por aumentos] de maneira única e no mesmo período. Nessa situação, só nos resta informar ao consumidor o que está ocorrendo. Se necessário, podemos usar o recurso dos avisos ao público", disse Jean Duboc, diretor da divisão de hipermercados.
No caso do açúcar, as três maiores marcas têm 85% do mercado. No setor de geladeiras (que subiu os preços acima de 15% em setembro e agora quer novo reajuste), as três principais marcas têm mais de 95% do mercado.

Desabastecimento
O Pão de Açúcar nega que exista desabastecimento hoje, devido à dificuldade de fechar acordos de fornecimento de alguns produtos. Há rumores de que lojas do Barateiro, bandeira do grupo, não têm estoque de açúcar. A empresa não confirma, mas diz que há possibilidade de enviar itens de lojas dos hipermercados Extra para os pontos do Barateiro, caso a situação se complique.
A partir de 14 de novembro a rede Extra inicia uma promoção para comemorar o 13º aniversário da cadeia. Os descontos chegam a 60%, e o acordo de entrega dos itens com desconto foi feito antes da disparada do dólar.


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