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QUEDA-DE-BRAÇO
Fabricantes de açúcar pedem aumento superior à alta do dólar; rede diz que colocará avisos se faltar produto
Reajuste chega a 77% e varejo faz ameaça
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O varejo não consegue mais fechar acordos de preços com a indústria. Fabricantes de açúcar pediram, em média, aumento de
77% para novembro -a solicitação de reajuste mais elevada desde que as empresas começaram a
remarcar preços neste ano devido
à escalada do dólar.
Fornecedores de geladeiras e
freezers querem uma segunda rodada de aumento, de 15%. As negociações emperraram, e há grandes chances de que isso chegue ao
consumidor, informam as próprias lojas.
Resultado: o Pão de Açúcar, a
maior rede de supermercados do
Brasil, já ameaça colocar nas gôndolas das lojas avisos aos consumidores caso as conversas com as
empresas de açúcar não avancem
e falte produto nas prateleiras. Os
fornecedores foram notificados
sobre esses avisos durante as últimas reuniões para a discussão de
reajustes nos preços.
Na entrada principal da sede do
Pão de Açúcar, em São Paulo, há
uma faixa com os dizeres: "Somente aceitaremos reajustes de
tabelas após a absorção dos respectivos aumentos pelo mercado". O cartaz foi colocado na sede
do grupo na semana passada e seu
texto já foi impresso em folhetos
distribuídos à indústria.
A última vez que o varejo decidiu tornar pública a guerra de
preços entre fornecedores e lojas
foi em 1999.
A idéia é pressionar ao máximo
os fornecedores porque os supermercados não querem reduzir
sua margem de lucro. A maioria
das grandes redes de supermercados no país ainda mantém as contas no azul e lucra, mesmo com a
atual crise de demanda.
Mas essas redes afirmam que
não podem cortar margens. As
indústrias, por sua vez, dizem que
sofrem perdas por conta da disparada do dólar e por isso insistem
nos aumentos.
O açúcar, por exemplo, tem cotação internacional em moeda
americana. De 29 de maio até ontem, o dólar sofreu valorização de
mais de 51%. Com isso, o açúcar
-vendido por três fabricantes
atualmente- encareceu.
O mesmo ocorre com as geladeiras e freezers -produtos fabricados com insumos importados e fornecidos também por apenas três empresas no país.
"Há setores que decidem [por
aumentos] de maneira única e no
mesmo período. Nessa situação,
só nos resta informar ao consumidor o que está ocorrendo. Se
necessário, podemos usar o recurso dos avisos ao público", disse Jean Duboc, diretor da divisão
de hipermercados.
No caso do açúcar, as três maiores marcas têm 85% do mercado.
No setor de geladeiras (que subiu
os preços acima de 15% em setembro e agora quer novo reajuste), as três principais marcas têm
mais de 95% do mercado.
Desabastecimento
O Pão de Açúcar nega que exista
desabastecimento hoje, devido à
dificuldade de fechar acordos de
fornecimento de alguns produtos.
Há rumores de que lojas do Barateiro, bandeira do grupo, não têm
estoque de açúcar. A empresa não
confirma, mas diz que há possibilidade de enviar itens de lojas dos
hipermercados Extra para os
pontos do Barateiro, caso a situação se complique.
A partir de 14 de novembro a rede Extra inicia uma promoção para comemorar o 13º aniversário
da cadeia. Os descontos chegam a
60%, e o acordo de entrega dos
itens com desconto foi feito antes
da disparada do dólar.
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