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LUÍS NASSIF
Habemos Estado!
A operação Chacal, deflagrada pela Polícia Federal para investigar os
"grampos" supostamente praticados pela Kroll, pode vir a
se constituir em um marco na
história institucional moderna do país. Principalmente ao
quebrar o tabu da impunidade que pairava sobre os grupos
rentistas que se desenvolveram nos anos 90, por meio do
mais ostensivo de seus representantes, o Opportunity.
Caberá à Polícia Federal levantar as provas, e à Justiça,
condenar quem tiver que ser
condenado, absolver quem tiver que ser absolvido. Não é
questão de pré-julgamento.
O importante é a quebra do
paradigma da impunidade.
Pela primeira vez, em muitos e
muitos anos, o Estado brasileiro investe sobre uma área que
pairava acima do bem e do
mal.
Está-se investigando um
grampo, mas o ponto central é
mais amplo. A subordinação a
esse poder não se deu apenas
no campo da política econômica. Deu-se também no campo legal, com o Estado nacional fechando os olhos a práticas proibidas pelas próprias
leis nacionais, como a entrada
de capital externo cujos titulares eram residentes no país.
Os teóricos mercadistas sempre se esmeraram em buscar
pretextos para justificar juros
altos. Criaram a "teoria da jabuticaba", a "incerteza jurisdicional" e outros conceitos
vazios com nomes pomposos.
Ora, a "incerteza jurisdicional" surge no momento em
que as leis não são seguidas.
As normas do Banco Central
proibiam que capitais de residentes no país ingressassem
por meio das contas de não-residentes.
Quando se descobriu que o
CVC Opportunity, montado
em um paraíso fiscal, controlador da terceira maior companhia de telecomunicações
do país, tinha entre seus cotistas investidores residentes do
país, estava claramente tipificada uma ilegalidade.
Nada foi feito, nem pela
Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações) nem pelo
Banco Central. O Estado brasileiro fechou os olhos, se curvou de forma humilhante ao
Opportunity e, acima dele, ao
Citigroup -cujo poder está
sendo questionado por países
que possuem Estados soberanos.
A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) se comportou
de maneira dúbia, ao postergar continuamente as investigações. Quando se descobriu
que o então presidente do órgão, Luiz Cantidiano, não
apenas tinha participado como advogado da montagem
da estrutura societária do
CVC como tinha sido diretor
de uma das holdings, o que se
viu foram episódios vergonhosos de jantares de solidariedades oferecidos por advogados
cariocas e discursos de solidariedade pronunciados por autoridades nacionais.
No dia do julgamento do
Opportunity, impossibilitado
de absolver o grupo, o substituto de Cantidiano, Marcelo
Trindade, minimizou o caso,
ao alegar que a prática era
corriqueira no mercado.
Um homem de Estado lamentando a injustiça contra
um infrator, porque a infração -a quem competia a ele
coibir- era uma prática corriqueira.
Precisou um poder de fora
do mercado -a Polícia Federal- para que o Estado nacional, finalmente, começasse
a impor o império da lei aos
intocáveis.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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