|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Petrobras cede na Bolívia para manter rentabilidade
Acordos fechados por Evo Morales com empresas precisam passar pelo Congresso
Acordo envolve exploração dos megacampos de
San Alberto e San Antonio,
ambos operados pela
companhia brasileira
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ
Nos últimos dois dias do prazo previsto pelo decreto de nacionalização, o governo Evo
Morales conseguiu fechar novos contratos de exploração de
gás e petróleo com a Petrobras
Bolívia e outras nove empresas
multinacionais em operação no
país.
A empresa brasileira admite
que o acordo reduz a rentabilidade das operações, mas considera a presença na Bolívia estratégica tanto para o fornecimento de gás ao Brasil quanto
para fortalecer sua presença regional. Os novos contratos ainda precisam ser ratificados pelo
Congresso, onde o governo tem
maioria.
O acordo com a Petrobras
Bolívia envolve a exploração
dos megacampos de San Alberto e San Antonio, os maiores do
país, localizados no departamento de Tarija (sul), fronteira
com a Argentina, ambos operados pela empresa brasileira.
Juntos, os dois megacampos
produzem cerca de metade do
gás boliviano. O contrato assinado com a Petrobras tem vigência de 30 anos.
O presidente da Petrobras,
José Sergio Gabrielli, classificou o acordo de "ponto de convergência" ao afirmar que a
empresa brasileira atuará de
agora em diante com "componentes de prestação de serviços", como queria a Bolívia, em
troca de assegurar a rentabilidade das operações no país.
Nas negociações, a Petrobras
alegou ser impossível a manutenção de uma alíquota de 82%,
como queria Morales e que ficou em vigor nos 180 dias de
transição (maio a outubro). Essa foi a principal divergência
entre as duas partes nos últimos dias de negociação.
De acordo com cálculo da Petrobras obtido pela Folha, nesse período o chamado "government take" -termo usado para
definir a parte que fica com o
governo na comercialização de
gás e petróleo- chegou a 95%,
fazendo com que a empresa
brasileira operasse no vermelho nestes últimos meses.
Mesmo admitindo que o novo acordo reduz os lucros da
empresa, a Petrobras avalia
que a presença na Bolívia é imprescindível para assegurar o
abastecimento de gás boliviano
ao Brasil (50% do total consumido) e também para consolidar sua estratégia de empresa
com presença cada vez maior
na América do Sul.
Já o presidente da YPFB,
Juan Carlos Ortiz, afirma que
os acordos com a Petrobras e as
outras empresas aumentam o
"direito proprietário" da Bolívia nos 69 campos de gás e petróleo do país e aumentam a arrecadação do Estado (leia entrevistas dos presidentes Ortiz
e Gabrielli).
Em discurso na madrugada
de ontem, o presidente Morales afirmou que os novos acordos com as dez empresas obrigadas a negociar pelo decreto
de nacionalização -nenhuma
ficou de fora- possibilitarão
uma arrecadação adicional de
US$ 4 bilhões daqui a quatro
anos.
"Dessa maneira, vamos resolver os problemas econômicos e sociais do nosso país."
Controle das refinarias
A Petrobras aceita ceder o
controle de duas refinarias de
petróleo na Bolívia, dentro dos
esforços de entendimento com
o país vizinho na área de exploração de gás. "Mas a indenização [do valor investido pela Petrobras nas refinarias] é fundamental", disse ontem o ministro de Minas e Energia, Silas
Rondeau . "O acordo foi bom.
Petrobras e Bolívia deram demonstrações claras de que superaram suas pequenas diferenças", disse.
"Era tudo o que a Petrobras
queria? Não. Era tudo o que a
Bolívia queria? Não. Mas foi
um acordo pragmático para os
dois lados", disse o ministro.
Colaborou a Sucursal de Brasília
Texto Anterior: Mostra não é garantia de valorização Próximo Texto: "Asseguramos o retorno dos investimentos", diz Gabrielli Índice
|