|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Após atritos, Petrobras voltará a investir na Bolívia
Retomada de projetos na área de gás deve ser anunciada por Lula durante viagem a La Paz
Marco Aurélio Garcia, assessor da Presidência, confirma negociações e diz que "volta da Petrobras à Bolívia é mais que natural"
Eduardo Knapp - 14.dez.06/Folha Imagem
|
Operário em campo de gás operado pela Petrobras na Bolívia |
ELIANE CANTANHÊDE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
O assessor internacional da
Presidência, Marco Aurélio
Garcia, confirmou ontem que o
Brasil está negociando com o
governo boliviano a retomada
de investimentos da Petrobras
para exploração de gás naquele
país, apesar dos seguidos ataques do presidente Evo Morales contra a estatal brasileira.
A intenção é que o pacote seja fechado nas próximas semanas, para ser publicamente
anunciado durante viagem do
presidente Lula a La Paz, ainda
em novembro.
Lula já esteve pelo menos
duas vezes na Bolívia sob Morales, mas sempre em reuniões
multilaterais. Uma delas foi para a posse de Morales, e a outra,
para a Cúpula da Comunidade
Sul-Americana de Nações, em
Cochabamba. A visita do próximo mês será a primeira bilateral, de chefe de Estado, marcando uma espécie de reaproximação dos dois países.
A data certa da viagem de Lula ainda não está marcada, pois
depende de acertos que vêm
sendo feitos pelos dois governos, entre os ministros das Minas e Energia e entre a Petrobras e as empresas do setor que
atuam na Bolívia, como a Total
(França), responsável pelo
campo de Itaú, alvo brasileiro.
Na semana passada, o ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, Carlos Villegas, veio ao
Brasil para reunião com o ministro das Minas e Energia,
Nelson Hubner, e com o presidente da Petrobras, José Sergio
Gabrielli. Depois do feriado de
2 de novembro, próxima sexta-feira, está prevista a ida de
Hubner e Gabrielli a La Paz, para continuar as discussões e
tentar fechar já o acordo que
vai pautar a ida de Lula.
Sem surpresa
"Não há surpresa nisso. A
volta da Petrobras à Bolívia é
mais do que natural, depende
apenas de condições reais de
estabilidade para os investimentos no país. Não há e nunca
houve razão idiossincrática para não investir mais lá", disse
Garcia à Folha, confirmando
informação publicada ontem
no jornal "Valor Econômico".
A Petrobras mantém na Bolívia a exploração de gás nos
campos de San Antonio e San
Alberto, mas tinha refluído de
fazer novos investimentos no
país depois que Morales decretou a nacionalização das reservas de gás no país.
Ele denunciou contratos anteriores e retomou as refinarias
brasileiras. No auge da crise,
chegou a ocupar instalações da
Petrobras com tropas do Exército. Além disso, preocupam o
Brasil a instabilidade política e
as ameaças de divisão do território boliviano em dois.
Durante todo o confronto, o
Palácio do Planalto e o Itamaraty evitaram um tom agressivo e persistiram nas negociações com o governo Morales, sob o argumento de que a Bolívia é o país mais pobre da América do Sul, foi secularmente
espoliado e tem direito de proteger o seu gás.
A retomada dos investimentos da Petrobras no país tem
um caráter econômico e também político, porque o governo
brasileiro analisa que, depois
dos primeiros momentos de
afirmação, Morales já está
consciente de que o país precisa decisivamente de investimentos estrangeiros e da Petrobras, particularmente.
Crise política
Uma nova onda de investimentos da Petrobras na Bolívia
seria um alívio para Morales,
que enfrenta crise política cada
vez pior em torno da paralisada
Assembléia Constituinte e tem
na nacionalização dos hidrocarbonetos seu principal feito
dos 21 meses de um mandato
tumultuado.
As novas regras para o setor
de gás e petróleo fizeram a arrecadação do Estado se multiplicar. De US$ 600 milhões, em
2005, pulou para US$ 1,3 bilhão, no ano passado. Para este
ano, a estimativa do Ministério
da Fazenda é que o Estado receba US$ 1,7 bilhão.
O sucesso da nacionalização
no aumento da carga tributária,
por outro lado, inibiu ainda
mais os investimentos do setor
privado, que, aliás, estavam paralisados desde 2003 devido à
instabilidade política do país.
Neste ano, já começou a faltar gás, e a primeira vítima foi a
termelétrica de Cuiabá, que
não recebe o combustível há
mais de um mês, apesar das reiteradas promessas de Morales
de que não haveria corte do fornecimento ao Brasil.
Com o crescimento do consumo interno e um ambicioso
novo contrato com a Argentina
para fornecer 27,7 milhões de
metros cúbicos diários até 2010
(mais do que o dobro do envio
atual), Morales corre contra o
relógio para atrair investimentos e aumentar a produção.
Aparentemente, o líder boliviano já não espera muito da
PDVSA, empresa estatal venezuelana, apesar das promessas
de investimentos do aliado Hugo Chávez. Tampouco vê muito
futuro nas negociações com o
neoaliado Irã e com a gigante
russa Gazprom.
Sem novos parceiros, a solução encontrada foi pressionar
mais as empresas já instaladas,
a começar pela Petrobras.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Estatal diz que pode operar novo campo Índice
|