São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2008

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BC vê "incerteza" e interrompe alta de juros

Por unanimidade, Copom mantém Selic em 13,75%, mas sinaliza que pode retomar processo de alta por temor de inflação

Embora outros países tenham cortado os juros para reanimar economia, autoridade brasileira adota linha mais conservadora


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

De um lado, preocupações quanto ao efeito que a crise pode ter sobre o crescimento da economia. Por outro, o receio de que a alta do dólar pressione a inflação. Diante desse dilema, o Banco Central optou pelo caminho mais neutro: não mexeu nos juros na reunião de ontem do Copom (Comitê de Política Monetária), interrompendo, pelo menos temporariamente, uma série de quatro aumentos consecutivos na taxa Selic.
O anúncio da decisão veio por uma nota: "Avaliando o cenário prospectivo e o balanço de riscos para a inflação, em ambiente de maior incerteza, o Copom decidiu por unanimidade, neste momento, manter a taxa Selic em 13,75% ao ano".
O comunicado indica que, apesar de mostrar preocupação com o impacto da crise no Brasil, o BC não descarta a retomada do processo de elevação dos juros no futuro, depois de passado o cenário de turbulência. Empresários criticaram a cautela do BC e pediram corte de juros, argumentando que a crise reduz a atividade econômica e pressões inflacionárias.
O BC começou a elevar a taxa Selic em abril, com um aumento de 0,5 ponto, mas nos últimos dois encontros acelerou o ritmo do aperto e promoveu altas de 0,75 ponto cada. A justificativa apresentada nas reuniões foi a necessidade de conter o crescimento da economia, que, para o BC, estava num nível muito alto e ameaçava o controle da inflação.
No mês passado, porém, o Copom já deu um sinal de que poderia colocar um freio na alta dos juros: dos 8 integrantes do comitê, 3 votaram por aumento de 0,5 ponto, embora tenha prevalecido a opinião da maioria, que votou pela alta de 0,75.
Com o agravamento da crise, a situação mudou. Nos países desenvolvidos, a reação dos BCs foi a de reduzir as taxas de juros, para tentar evitar a quebra do sistema financeiro e de reduzir a possibilidade de uma recessão global. Ontem, os EUA reduziram os juros de novo. A emergente China fez o mesmo.
No Brasil, um dos principais reflexos da crise é a restrição na oferta de crédito: empresas têm tido problemas para refinanciar seus compromissos, e bancos, especialmente os de menor porte, enfrentam dificuldades para captar dinheiro para suas operações do dia-a-dia.
Apesar de ser reflexo da crise, porém, já se observava maior escassez do crédito nos últimos meses, justamente por causa do aperto monetário feito pelo BC. As turbulências externas aceleraram esse processo.
Nas últimas semanas, o governo adotou várias medidas para tentar resolver essa questão. A principal foi a redução no recolhimento compulsório, parcela dos depósitos bancários que as instituições são obrigadas a deixar no BC.
Essa liberação pode chegar a R$ 111 bilhões, dependendo da vontade dos bancos em aceitar algumas exigências -parte dos recursos só é liberado, por exemplo, para quem comprar parte da carteira de crédito de outras instituições. Até a semana passada, cerca de R$ 45 bilhões haviam sido efetivamente injetados no mercado, segundo o BC.
Ao contrário do que se observa nos países desenvolvidos, porém, o BC brasileiro também se mostra muito preocupado com a inflação. O risco de uma alta dos preços é intensificado pela disparada do dólar, cuja cotação acumula alta de 31% de setembro para cá.
Crítico da política de aumento de juros do BC desde o início do ano, o Ministério da Fazenda elogiou ontem a decisão do Copom de manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano. O secretário de Política Econômica, Nelson Barbosa, disse que a manutenção dos juros vai "contribuir para a melhora das condições de crédito no país".
"Foi uma decisão correta.
Neste momento de maior incerteza, o BC parou para analisar a situação. A crise antecipou uma parada [no processo de alta dos juros] que a Fazenda esperava para dezembro", afirmou Barbosa.


Colaborou JULIANA ROCHA , da Sucursal de Brasília


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