São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2008

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Fed corta juro em
meio ponto para 1%

BC dos EUA vê "acentuada" queda na atividade econômica após declínio nos gastos dos consumidores

Há 13 meses, taxa estava em 5,25% ao ano; analistas duvidam de que reduções evitem recessão na maior economia do mundo


FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

O Fed (banco central dos EUA) reduziu ontem para 1% ao ano a taxa básica de juros no país. O corte, de meio ponto percentual, foi o segundo em outubro e recolocou o juro básico americano no mesmo patamar de maio de 2004.
A redução anterior, de 2% para 1,5%, havia sido decidida em caráter emergencial e foi coordenada com vários outros bancos centrais mundiais a fim de tentar mitigar o avanço da crise financeira internacional. Há 13 meses, a taxa básica nos EUA era de 5,25% ao ano.
A medida foi recebida com sinais contraditórios entre os investidores da Bolsa de Nova York, que oscilou muito durante o dia até fechar em baixa. O índice Dow Jones teve queda de 0,82%, e o S&P 500 caiu 1,11%. Já a bolsa eletrônica Nasdaq subiu 0,47%.
No dia anterior, os principais índices da Bolsa de Nova York haviam registrado variações positivas acima de 10% já na expectativa do corte de juros.
Em setembro, a inflação oficial nos EUA atingiu 4,9% ao ano, o que significa que o Fed fixou sua taxa básica em um nível 3,9 pontos abaixo da evolução dos preços. No mercado, no entanto, a média dos juros praticados é maior, de cerca de 4,5% -ainda assim abaixo da inflação, e agora com nova tendência de queda após o corte do Fed.
O corte foi decidido de forma unânime pelos dez membros do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto, na sigla em inglês) do Fed. Eles também reduziram em meio ponto percentual a taxa de redesconto (empréstimos emergenciais para bancos), para 1,25% ao ano.
Em nota emitida após a divulgação do corte, o Fed justificou a ação afirmando que a economia americana vem sofrendo uma "acentuada" queda na atividade.
Hoje, o Departamento de Comércio dos EUA vai anunciar o crescimento do país durante o terceiro trimestre. A expectativa é de que tenha havido queda de 0,5%, a maior desde a recessão de 2001. Alguns bancos também já projetam uma contração superior a 2% no quarto e último trimestre de 2008.
"O ritmo da atividade econômica parece ter caído acentuadamente, devido em grande parte a um declínio nos gastos dos consumidores. Os gastos com equipamentos profissionais e a produção industrial enfraqueceram nos últimos meses, e a atividade econômica em desaceleração em muitas economias estrangeiras está reduzindo as expectativas para as exportações americanas", diz a nota do Fed.
"Além disso, a intensificação da turbulência no mercado financeiro provavelmente irá exercer uma contenção adicional sobre os gastos, em parte pela redução maior na capacidade dos domicílios e das empresas de obter crédito", diz a nota.
O Fed também indicou que poderá tomar outras medidas de estímulo caso a economia continue dando sinais cada vez maiores de desaquecimento.
O problema, porém, é que a queda atual na atividade econômica nos EUA tem muito menos a ver com o nível de juros praticado pelo Fed do que com a relutância do sistema bancário do país em disponibilizar linhas de crédito para empresas e pessoas físicas.
Nas últimas semanas, o Fed e o Tesouro dos EUA já injetaram quase US$ 1 trilhão no sistema bancário do país, e os resultados foram ainda muito pequenos em termos de aumento da oferta de crédito na economia como um todo.
Em entrevista à Bloomberg, o economista Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, afirmou ontem: "Estamos no começo de uma recessão muito severa. Tudo será ainda mais doloroso daqui para frente".
Outros analistas apontam dificuldade adicional: com os juros já num patamar tão baixo, a autoridade monetária terá de encontrar outras armas para tentar reanimar a economia.


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