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Fed corta juro em
meio ponto para 1%
BC dos EUA vê "acentuada" queda na atividade econômica após declínio nos gastos dos consumidores
Há 13 meses, taxa estava em 5,25% ao ano; analistas duvidam de que reduções evitem recessão na maior economia do mundo
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
O Fed (banco central dos
EUA) reduziu ontem para 1%
ao ano a taxa básica de juros no
país. O corte, de meio ponto
percentual, foi o segundo em
outubro e recolocou o juro básico americano no mesmo patamar de maio de 2004.
A redução anterior, de 2% para 1,5%, havia sido decidida em
caráter emergencial e foi coordenada com vários outros bancos centrais mundiais a fim de
tentar mitigar o avanço da crise
financeira internacional. Há 13
meses, a taxa básica nos EUA
era de 5,25% ao ano.
A medida foi recebida com sinais contraditórios entre os investidores da Bolsa de Nova
York, que oscilou muito durante o dia até fechar em baixa. O
índice Dow Jones teve queda
de 0,82%, e o S&P 500 caiu
1,11%. Já a bolsa eletrônica Nasdaq subiu 0,47%.
No dia anterior, os principais
índices da Bolsa de Nova York
haviam registrado variações
positivas acima de 10% já na expectativa do corte de juros.
Em setembro, a inflação oficial nos EUA atingiu 4,9% ao
ano, o que significa que o Fed fixou sua taxa básica em um nível
3,9 pontos abaixo da evolução
dos preços. No mercado, no entanto, a média dos juros praticados é maior, de cerca de 4,5%
-ainda assim abaixo da inflação, e agora com nova tendência de queda após o corte do
Fed.
O corte foi decidido de forma
unânime pelos dez membros
do Fomc (Comitê Federal de
Mercado Aberto, na sigla em
inglês) do Fed. Eles também reduziram em meio ponto percentual a taxa de redesconto
(empréstimos emergenciais
para bancos), para 1,25% ao
ano.
Em nota emitida após a divulgação do corte, o Fed justificou a ação afirmando que a economia americana vem sofrendo uma "acentuada" queda na
atividade.
Hoje, o Departamento de Comércio dos EUA vai anunciar o
crescimento do país durante o
terceiro trimestre. A expectativa é de que tenha havido queda
de 0,5%, a maior desde a recessão de 2001. Alguns bancos
também já projetam uma contração superior a 2% no quarto
e último trimestre de 2008.
"O ritmo da atividade econômica parece ter caído acentuadamente, devido em grande
parte a um declínio nos gastos
dos consumidores. Os gastos
com equipamentos profissionais e a produção industrial enfraqueceram nos últimos meses, e a atividade econômica em
desaceleração em muitas economias estrangeiras está reduzindo as expectativas para as
exportações americanas", diz a
nota do Fed.
"Além disso, a intensificação
da turbulência no mercado financeiro provavelmente irá
exercer uma contenção adicional sobre os gastos, em parte
pela redução maior na capacidade dos domicílios e das empresas de obter crédito", diz a
nota.
O Fed também indicou que
poderá tomar outras medidas
de estímulo caso a economia
continue dando sinais cada vez
maiores de desaquecimento.
O problema, porém, é que a
queda atual na atividade econômica nos EUA tem muito menos a ver com o nível de juros
praticado pelo Fed do que com
a relutância do sistema bancário do país em disponibilizar linhas de crédito para empresas
e pessoas físicas.
Nas últimas semanas, o Fed e
o Tesouro dos EUA já injetaram quase US$ 1 trilhão no sistema bancário do país, e os resultados foram ainda muito pequenos em termos de aumento
da oferta de crédito na economia como um todo.
Em entrevista à Bloomberg,
o economista Nouriel Roubini,
da Universidade de Nova York,
afirmou ontem: "Estamos no
começo de uma recessão muito
severa. Tudo será ainda mais
doloroso daqui para frente".
Outros analistas apontam dificuldade adicional: com os juros já num patamar tão baixo, a
autoridade monetária terá de
encontrar outras armas para
tentar reanimar a economia.
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