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São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2003

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Crescimento nos gastos das empresas do país se concentra em setores que importam máquinas e contratam pouco, dizem analistas

Investimento sobe, mas não puxa emprego

DA REPORTAGEM LOCAL

Dados divulgados na última semana pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostraram recuperação do investimento no país. Sinal de grandes projetos de expansão e contratações à vista? Não, dizem especialistas e empresários.
O dado mais positivo relacionado ao desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) -2,8% de crescimento da taxa de investimento, medida pela chamada "formação bruta de capital fixo", entre julho e setembro em relação ao trimestre anterior- deve-se principalmente ao aumento de importações de máquinas, segundo especialistas.
Dois fatores explicam esse crescimento das compras de equipamentos no exterior: câmbio mais favorável e sufoco de setores que estão com sua capacidade de produção no limite, como papel e celulose e siderurgia. O volume de importação nesses dois setores cresceu 2,3% e 13%, respectivamente, no terceiro trimestre deste ano em relação ao período de abril a junho, segundo dados da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior).
"Não há nada no cenário atual que indique retomada de investimentos no país. Eles estão ocorrendo nos setores exportadores, que estão com a capacidade de produção tomada", diz Fernando Sarti, economista da Unicamp.
Em setembro, por exemplo, a importação de bens de capital, que engloba máquinas e equipamentos, subiu 36% em relação a agosto. Em outubro, o aumento foi de 54,3%. No cálculo do PIB, isso conta como investimento, o que, para economistas, puxou a formação bruta de capital fixo.
Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), diz que os projetos de investimento de grandes grupos industriais continuarão engavetados até que empresários tenham confiança de que a retomada da economia é para valer.

Emprego
O problema, para especialistas, é que os investimentos que já estão deslanchados estão longe de garantir a forte expansão no nível de emprego prometida pelo governo Lula.
Isso não significa que a criação de novos postos de trabalho nos setores que vêm comprando máquinas vá ser nula. Mas que a capacidade de contratação dos mesmos é limitada, já que os grandes setores industriais são mais dependentes de máquinas para produzir do que de mão-de-obra.
O subsetor da indústria com maior capacidade de criar empregos, a construção civil, continua mal. Nos três primeiros trimestres deste ano, o PIB desse segmento despencou 7,7% em relação ao mesmo período de 2002.
"A criação de novos empregos vai depender da construção civil. Sozinhos, os outros setores industriais não vão impulsionar a recuperação do mercado de trabalho", afirma Cláudio Frischtak, presidente da InterB Consultoria Internacional de Negócios.
Por isso, economistas dizem que o país só voltará a investir para criar emprego quando o setor de infra-estrutura deslanchar os seus projetos e os juros caírem para patamares mais baixos.
A recuperação do setor de serviços e da indústria de bens de consumo (têxtil, alimentos, eletroeletrônica) é outro passo necessário para o crescimento do emprego, afirmam os economistas.
O problema é que a retomada sustentável desses setores depende da melhoria no nível de renda da população, que continua em queda. Os próprios dados do PIB revelaram que, no mesmo período em que a taxa de investimento cresceu 2,8%, o consumo das famílias caiu 0,2%.
Segundo economistas, é difícil falar de início de ciclo de recuperação para valer enquanto esse indicador não melhorar. Afinal, o consumo das famílias é responsável por 60% do PIB, enquanto a formação bruta de capital responde por apenas 18,7%.
(CLAUDIA ROLLI, ÉRICA FRAGA e FÁTIMA FERNANDES)


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